A educação do sentimento

O amigo Gerson Monteiro, que já se despediu da vida física e, temos certeza, continua trabalhando pelo bem no mundo espiritual, certa vez, em conversa comigo, olhando-me nos olhos, exclamou: “Marcus, está faltando Jesus nos corações!”. Gravei sua frase, que vez e outra utilizo, pois é verdade que temos encontrado muitas pessoas indiferentes, insensíveis, egoístas e mesmo maldosas, totalmente distanciadas do Evangelho, seja por ignorância, seja por não quererem trabalhar consigo o amor, o sentimento. E não são apenas os adultos que apresentam esse quadro, temos visto isso também em crianças que, lembremos, são Espíritos reencarnados, trazendo toda uma bagagem das vidas passadas.

Recentemente ouvimos de uma menina de dez anos de idade, quando se falou em Deus e em Jesus: “Tudo isso é bobagem, Deus não não é meu pai, e eu não quero saber desse Jesus, que não tem nada a ver comigo”. Esse Espírito traz um caráter indolente, mundano, rebelde, e os pais, até onde sabemos, nada querem com religião, acreditando que a mesma é um atraso na vida, e que o mais importante é aprender a se dar bem, mesmo que isso custe o mal aos outros.

Essa educação utilitarista, imediatista, que enxerga apenas o nascer, viver e morrer, leva as crianças e os jovens a uma visão materialista sobre o ser humano e a vida, e isso é reforçado pelo esteriótipo criado pelas doutrinas religiosas que se alicerçam em fantasias, crendices, misticismos, dogmas e cultos exteriores, que são incompreensíveis pela ciência, pelo pensamento racional. Esse o motivo de muitos rejeitarem a religião, nada quererem com o Evangelho.

Através do Espiritismo aprendemos que existe um único caminho para destruir o egoísmo, que é a base de todos os vícios, e esse caminho é a aplicação da educação moral, que compreendemos como combate às más tendências que o Espírito apresente, ao mesmo tempo em que desenvolve as virtudes que se encontram em potência nele. Com isso faremos com que ele empregue a inteligência para fazer o bem, sempre pensando que deve fazer aos outros o que deseja que os outros façam a ele, como ensinou Jesus.

Precisamos aprender a amar o próximo, a colocar em prática a empatia, ou seja, sabendo nos colocar no lugar do outro e, ainda mais, sabendo sentir o outro. Esse processo de educação de nós mesmos deve ser desenvolvido no lar, no seio da família, assim como na escola e, não podemos esquecer, também na evangelização promovida pelo centro espírita.

Eduquemos as crianças hoje, para que amanhã não necessitemos construir mais prisões, mas lembremos que não basta desenvolver a educação intelectual, a aquisição de conhecimentos, é necessário sensibilizar o sentimento, praticar os ensinos morais de Jesus, levando as crianças e os jovens à vivência da caridade, da solidariedade, da fraternidade e do respeito ao próximo.

Sem a educação do sentimento, que nos importará o sofrimento alheio? Sem a educação do sentimento, por que haveremos de auxiliar o próximo? O bem e o mal serão apenas discussão filosófica, teórica, acadêmica, que em nada nos afetará, deixando que o egoísmo e o orgulho continuem a comandar nossas ações no mundo.

Sim, está faltando Jesus nos corações. Mesmo entre as pessoas que se dizem cristãs, que dizem abraçar o Evangelho, que recitam os principais ensinos morais de Jesus, muitas vezes falta sentimento. Conhecem, mas têm enorme dificuldade em praticar o conhecimento no dia a dia, carregando mágoas e ressentimentos, construindo desafetos, não perdoando e assim por diante, no seio da própria família, que dirá na sociedade.

Somente podemos dar aos nossos filhos o que somos, e não o que temos. Muito além do nosso conhecimento, eles querem nosso afeto, nossa sabedoria, nosso exemplo. Isso só é possível se constantemente procurarmos nossa melhoria e soubermos dar a eles amor, muito amor, o maior dos sentimentos, exemplificado diariamente por Jesus através de sua solicitude para com todos, de sua mansuetude, de seu respeito, de seus ensinos e de seu incentivo a que fossemos a luz do mundo. Como o amor também corrige, também chama a atenção, também trabalha limites, deveres e responsabilidades, é o amor que nos dará a autoridade moral.

Educar com Jesus no seio familiar é fazer todo esforço de ser fiel discípulo do Mestre, legítimo representante das lições evangélicas, fazendo do lar um porto seguro para as almas que nele se congregam para dar continuidade à sua marcha evolutiva, aparando as arestas do passado e fazendo no hoje um futuro muito mais feliz.

Para que tudo isso aconteça, o caminho é a educação do sentimento.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Escolas diferentes pelo mundo

Uma nova dinâmica para a evangelização

A Soma dos Talentos