sexta-feira, 21 de março de 2025

As tendências de caráter da criança


Marcus De Mario

Um casal do qual privamos de sincera amizade, possui dois filhos, um na faixa de oito anos de idade e outro com seis anos, e sabemos dos esforços dos pais em amá-los e educá-los, sem fazer qualquer distinção, tratando-os igualmente, orientando-se pelos ensinos do Evangelho esclarecidos pela Doutrina Espírita, da qual são adeptos. Apesar dos esforços em ligá-los ao bem, à caridade desinteressada, o menor demonstra sem equívocos uma índole, um caráter visivelmente egoísta, interesseiro, e tem muita dificuldade em lidar com limites, além de se mostrar, dependendo da situação, adepto do uso da mentira. Isso contrasta com seu irmão mais velho que, pelo contrário, desde tenra idade sempre mostrou ter bom caráter, índole pacífica, sendo excelente cooperador no ambiente doméstico e bom aluno na escola, o que o outro absolutamente não é. Sendo os pais os mesmos, assim como o tratamento dispensado aos dois, perguntamos: de onde vem essa distinção tão evidente no caráter de um e de outro, que é demonstrada pela criança antes mesmo que a educação e o meio social possam influenciá-la?
A ciência, considerando o ser humano apenas e tão somente a partir do nascimento, sem levar em consideração a pré existência da alma, apesar de muito pesquisar e nos entregar diversas teorias do desenvolvimento da criança, não consegue elucidar essa questão, ainda mais quando procura circunscrever as questões morais às funções cerebrais e neurológicas. Por sua vez, as religiões, embora considerando a alma, não possuem, em sua maioria, o correto entendimento, faltando-lhes a chave da reencarnação e a evolução individualizada de cada ser ao longo de várias existências. Esse é precisamente o entendimento do Espiritismo, que lançou ao mundo a ciência do espírito, demonstrando que somos seres espirituais provisoriamente utilizando um corpo material, pois que a morte não existe e a vida continua na dimensão espiritual, e nada perdemos de encarnação a encarnação, tudo pertence ao espírito, manifestando-se na nova personalidade e novo corpo como ideias inatas e tendências de caráter.
Houve um tempo em que a pedagogia não admitia as ideias inatas e as tendências de caráter, e talvez muitos pedagogos ainda não admitam, mas a realidade não deixa dúvida, pois contra os fatos não há argumento contrário possível. Negar por negar não é explicar racionalmente e com base em observações bem estudadas. Temos no exemplo que trouxemos uma evidência clara da distinção de caráter entre irmãos, filhos dos mesmos pais e por ambos educados no mesmo lar. A pedagogia espírita, levando em consideração a pré existência da alma e a lei da reencarnação, evidencia a importância de se trabalhar as tendências de caráter da criança através da educação tanto na família quanto na escola.
Abordando essa questão tão importante, Allan Kardec considera que a educação deve combater as possíveis más tendências de caráter que a criança traz, ou seja, o espírito traz consigo ao reencarnar, pois se isso não for feito durante o período infantil, tenderá esse ser em crescimento a cristalizar essas más tendências, que desabrocharão completamente a partir da adolescência, quando ele inicia o pleno controle sobre seu corpo físico. Para combater essas más tendências de caráter, os pais devem dar bons exemplos e boas orientações morais; devem dialogar sempre, construindo combinados e regras, que os filhos deverão obedecer de livre vontade, sempre assumindo as consequências da quebra desses combinados e regras; devem também trabalhar incessantemente pelo desenvolvimento das virtudes, quais a caridade, a bondade, a solidariedade e a fraternidade. Numa palavra, os pais devem desenvolver no lar a educação moral, a única que pode destruir o egoísmo e o orgulho, que são a base das más tendências de caráter.
Cada filho é uma individualidade única, com seu histórico evolutivo e com seu projeto reencarnatório, e entre eles existem aqueles que ainda são rebeldes à lei divina e aos esforços educacionais, que procuram manter sua zona de conforto. É assim que encontramos crianças mandonas, prepotentes, mentirosas, sem limites, violentas, retratando o caráter do espírito reencarnado, clamando por uma educação que lhe redirecione na vida, mostrando que tudo isso faz mal a ele e aos outros, e que estamos aqui neste mundo para aprender a fazer aos outros somente o que desejamos que os outros nos façam, a regra áurea da educação moral.
Sabemos o quanto é desafiador lidar com esses espíritos, mas eles também são filhos de Deus, que os confia aos pais terrenos para que estes possam educá-los, lembrando que não existindo o acaso, pais e filhos possuem ligações espirituais que remontam a outras épocas existenciais, e que se encontrarem na mesma família, sob o mesmo teto, é oportunidade valiosa de superar o passado e no hoje, e através da lei de amor construir um futuro mais feliz.
Quando a educação moral é deixada de lado, as consequências não podem ser boas, nem para a família, nem para a sociedade, como estamos vivenciando na época atual, mas com sua aplicação teremos em médio e longo prazos frutos que propiciarão a renovação moral da humanidade, de geração em geração, como aprendemos com o Espiritismo.

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