domingo, 9 de março de 2025

Mudanças e transformações



Marcus De Mario

Estamos tão habituados a seguir padrões, que muitas vezes nos espantamos diante de uma nova ideia, de uma nova forma de fazer, tendo a tendência de rejeitar qualquer coisa que saia desse padrão. Isso é muito comum de acontecer na educação. Normalmente não questionamos porque existe aula; porque ela tem cinquenta minutos de duração; porque temos um currículo pré-formatado e fechado; porque o professor deve ensinar dando aula, e assim por diante. Simplesmente seguimos o padrão e, mesmo diante de maus resultados, continuamos a seguir o padrão, e quem questiona, quem tenta fazer diferente, é mal visto, suas ideias são rejeitadas e seu fazer diferente considerado impossível, até mesmo antipedagógico, embora possa estar muito bem estruturado.
Não somos contra o planejamento, a organização e a existência de regras, desde que tenham a devida flexibilidade e saibam conviver com o novo, pois os tempos avançam e as coisas mudam. Novas demandas surgem, novas tecnologias se apresentam, e os maus resultados devem provocar mudanças, transformações, pois indicam que o que se está fazendo não está dando bons resultados.
Essas considerações também envolvem os grupos de estudo e a evangelização da família desenvolvidas pelas instituições espíritas, que requerem dinamismo, criatividade, interação para darem bons frutos.
Como o nome já diz, grupo de estudo da doutrina espírita indica que o coordenador ou facilitador não deve ser aquela pessoa que ensina, que dá aula, que leva o conhecimento para os outros tentarem absorvê-lo. Essa postura não é adequada para um grupo de estudo, onde todos devem ser estimulados a ler, a pesquisar, a estudar, a debater, sendo o facilitador um estimulador desse processo, levando os participantes do grupo a pensar. Esse é o melhor método para que as pessoas compreendam os princípios do Espiritismo e saibam colocá-los em prática na vida. No início, por não estarem acostumados a isso, as pessoas talvez tenham alguma dificuldade, mas com o tempo farão a adequação e, no estilo roda de conversa, devidamente estimulados, superarão barreiras íntimas, fazendo ampla interação. Esse deve ser o espírito do estudo sistematizado da doutrina espírita.
Certa vez fomos convidados para assumir a coordenação pedagógica da evangelização espírita, e o diretor responsável nos solicitou que apresentássemos um planejamento. Informamos que nada faríamos sem antes conversar com os evangelizadores, sem ouvi-los, tanto nos pontos positivos quanto nos negativos, e que somente então poderíamos nos posicionar, sendo que o planejamento da evangelização seria feito em conjunto com os evangelizadores, a partir de algumas ideias básicas que tínhamos em mente, e que poderíamos modificar, pois estávamos abertos a isso. Nossa postura assustou o dirigente, acostumado que estava a seguir um padrão, onde tudo é estabelecido de cima para baixo, ou seja, diretor e coordenador planejam, dão as diretrizes, e os evangelizadores executam.
Os evangelizadores tiveram dificuldade, num primeiro momento, de se abrirem, de fazerem suas observações, pois esse não era o padrão, mas recebendo o estímulo necessário, começaram a avaliar o processo evangelizador que até então era desenvolvido, surgindo muitas críticas e muitas sugestões. Ao levarmos para o diretor o resultado do encontro de avaliação, ele não quis acreditar nas críticas e, diante de uma nova proposta pedagógica que apresentamos, como resultado da conversa e troca de ideias com os evangelizadores, disse-nos que provavelmente a proposta não daria certo, mostrando descrédito. Como não fomos impedidos de trabalhar, implementamos o novo olhar e o novo fazer pedagógico, colhendo resultados expressivos que demonstraram que a transformação realizada era, sem dúvida, o melhor caminho para evangelizar as crianças, os jovens e os adultos.
Apesar dos percalços naturais de implantação de um novo processo pedagógico, com a resistência de muitas pessoas – dirigentes, evangelizadores, pais – fomos em frente até onde foi possível, e esse trabalho deu origem ao Projeto Educação do Espírito, que apresentamos em dois livros: Aprendendo a Educação Espírita e Educando o Espírito. Ainda tivemos um desdobramento desse trabalho, culminando no lançamento do livro Prática Pedagógica para Pais e Educadores.
Se compulsarmos, por exemplo, as obras dos educadores espíritas Walter Oliveira Alves e Lucia Moysés, vamos encontrar propostas pedagógicas dinâmicas para a evangelização espírita, propostas inovadoras e de excelentes resultados, pois não estamos sozinhos nessa quebra de padrões, de paradigmas que pareciam absolutos, quando tudo é relativo e pode ser transformado.
Estejamos abertos ao novo pedagógico, sem nunca descurar dos princípios doutrinários do Espiritismo, para que possamos cumprir com a missão que nos cabe na humanidade de realizar sua transformação de ordem moral.

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