Alunos perdidos
Com a pandemia mundial do novo coronavírus, e a consequente quarentena social, as escolas tiveram suas atividades suspensas e, às pressas, foram organizadas plataformas de educação a distância ou o envio de atividades escolares via e-mail, além de organização de videoconferências e grupos de estudo, tudo isso depois que os portões escolares fecharem, ou seja, sem nenhum planejamento prévio, nem capacitação de professores e alunos para a nova realidade. Isso não nos surpreende, pois é histórico no Brasil a incompetência dos gestores em se adiantar a cenários futuros, além da conhecida precariedade dos cursos de formação e da formação continuada dos profissionais da educação.
Como muitas escolas e sistemas de ensino não têm capacidade e competência para elaborar e gerir uma plataforma de educação a distância, a solução encontrada foi enviar aos alunos, semanalmente, por e-mail, atividades escolares de cada disciplina curricular, para que o mesmos possam estudar e resolver exercícios que são enviados de volta aos professores. Parece estar o ensino resolvido. Não, não está. Os alunos estão soltos, dependem de sua vontade e esforços para estudar, nem sempre recebendo orientação adequada, e os professores muitas vezes esquecem que precisam agilizar as avaliações, dando retorno aos exercícios que lhes foram remetidos pelos alunos.
É o caso de um sobrinho que estamos acompanhando, cuja escola adotou esse sistema. Lá se vão três semanas de estudos individuais, resolução de atividades e envio das mesmas aos professores, e nenhum retorno foi dado até o momento. Ele deve estar pensando: para quê todo esse trabalho? Será que estou estudando corretamente? E minha compreensão sobre os diversos assuntos, estará certa? Onde estão os professores, que somente têm feito enviar semanalmente as tarefas? Ele é um aluno perdido em meio a uma pretensa e mal remendada educação a distância.
Quanto às escolas e sistemas de ensino que lançaram às pressas plataformas digitais de educação a distância, temos visto o noticiário mostrando alunos e pais igualmente perdidos. Primeiro, esqueceram os gestores que muitos não têm acesso á internet, o que que inviabiliza o acesso; segundo, que há um quantidade absurda de analfabetos funcionais, e digitais, em nosso país, e que sem orientação não conseguem ler e interpretar textos, fazer operações matemáticas básicas, lidar com dispositivos eletrônicos como smartphone e notebook e navegar na internet.
Sem levar nada disso em conta, pleiteiam esses gestores educacionais que a educação a distância na educação básica seja considerada compensatória, diante da lei, aos cursos presenciais. Como? No caos em que ela se transformou ou na sua inadequação, como contar essa situação em dias e horas letivos?
Para agravar essa situação, continuamos a ver a educação escolar centrada no ensino, no ensinar, ou na ensinagem do professor para o aluno, quando o processo deveria estar centrado no aluno e na aprendizagem. Quando gestores e pedagogos, nossos cientistas da educação, vão entender que não se deve ensinar, mas sim estimular o aprendizado através do fazer pensar, fazer pesquisar, fazer aprender, tendo o aluno, pessoa em desenvolvimento, como centro de todo processo educacional?
Se os alunos já se viam perdidos na escola, agora estão ainda mais perdidos fora dela, no ambiente familiar do lar, onde precisam dar conta de seu desenvolvimento intelectual e emocional sozinhos, muitas vezes sem apoio dos pais, que estão tão perdidos quanto seus filhos.
Diante desse quadro assustador, vemos o Ministério da Educação omisso, calado, deixando governos estaduais e municipais à revelia, tomando decisões aleatórias, assim como deixando as escolas e sistemas de ensino particulares sem orientação, dado que a legislação é falha, não dando cobertura para essa situação.
Pobres alunos! Pobre geração fadada a amargar mais uma desilusão existencial!
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