Educação e formação moral
Para falarmos de educação, em qualquer circunstância, é preciso ter um mínimo de conhecimento sobre a mesma. O mesmo acontece quando nos dispomos a comentar sobre o pensamento deste ou daquele educador. Neste texto vamos fazer esforço de aliar uma coisa com outra, vamos falar ao mesmo tempo da educação e do pensamento de um educador.
Há um livro muito importante, leitura obrigatória para todo educador, de um autor festejado por uns e amaldiçoado por outros, do qual vamos focar na sua essência educativa, e não no seu viés ideológico-político, que não nos interessa debater. Estamos falando do livro Pedagogia da Autonomia, do célebre, para o bem e para o mal, Paulo Freire.
No capítulo 1, onde ele faz primeiras reflexões sobre a prática educativa, chama-nos a atenção, no item 5, Ensinar exige estética e ética, o seguinte pensamento: “Transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é substantivamente formar.”
O exercício educativo é um exercício humano pois envolve pessoas, seres humanos, motivo pelo qual não pode ser um exercício meramente técnico, mecânico, burocrático, onde ensinar conteúdos toma o lugar de formar consciências. O professor é um ser humano. O aluno é um ser humano. Ambos estão num processo vivo de desenvolvimento, de permuta de conhecimentos e experiências, de pensamentos e sentimentos, de realidades distintas que convivem no mundo social.
Diz nos ainda Paulo Freire da necessidade de respeitarmos a natureza do ser humano no processo educacional. Parece um pensamento óbvio, mas não é. Basta acompanhar o dia a dia de uma escola de ensino fundamental para verificar o quanto muitos professores tratam os alunos como objetos, coisas e assim por diante; o quanto entram em sala de aula dispostos a descarregar conteúdos sem nenhuma preocupação com o ritmo individual dos alunos; o quanto se desesperam diante de perguntas e pensamentos mais críticos; o quanto consideram estar fazendo um trabalho perdido, pois as crianças e adolescentes de hoje para nada prestam.
Claro que nem tudo está perdido, pois temos também muitos professores que procuram dar o seu melhor, que são criativos e dinâmicos, que amam o que fazem, que respeitam os alunos, que transformam as escolas em referências educacionais. Bem que esses professores podiam se multiplicar, para o bem do nosso futuro.
Voltemos ao pensamento de Paulo Freire: “o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando.”
Esse pensamento está na contramão dos que acreditam que formação moral é exclusividade dos pais e da família, pois os professores já têm muito com o que se preocupar com a enorme carga de ensino. Ora, é por aplicar essa filosofia, que os professores perdem excelentes oportunidades de auxiliar na formação moral dos alunos, contribuindo assim com os pais no desenvolvimento de cidadãos éticos e solidários.
O ato de ensinar é também ato de fazer pensar. O ato de ensinar é também ato de preparar para a vida. Desse modo o processo central da educação sai do eixo do ensinar para o eixo do aprender, com plena participação do educando, quando então temos o verdadeiro ato educativo.
Se você gosta ou não gosta de Paulo Freire, isso não está em discussão neste texto. Mais importante é refletirmos co maturidade sobre o ensinar, o aprender e a formação moral das novas gerações.
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