segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Para que e para quem educamos?

Estamos de tal maneira acostumados com o sistema escolar voltado para a aquisição do conhecimento, com as escolas formatadas em salas de aula, tempos de estudo, seriação por idade, disciplinas curriculares, provas, notas, conteúdos e horários previamente planejados, que deixamos de pensar sobre a educação. Ano após ano repetimos a fórmula e nem nos damos conta que os resultados não estão satisfatórios. Quando eles nos incomodam, mudamos a metodologia, introduzimos novos recursos didáticos, mas a essência continua intocada.

Quando e onde nos perdemos da educação? Por que ela virou sinônimo de instrução? Será que conhecer e memorizar conteúdos de geografia, história, biologia, português, matemática e tantas outras disciplinas ou matérias curriculares, é mais importante do que conhecer a si mesmo e se preparar para a vida? Será que certificados “falam” do ser humano que somos? Onde está a ponte que liga a missão da família com a missão da escola na educação das novas gerações?

Lembro dos meus tempos de bancos escolares, onde aprendi muitas coisas, das quais, com o tempo, descartei ou esqueci. Por que? Bem, muitos professores não me disseram a utilidade dessas coisas, outros não se importaram com minhas naturais tendências humanas e técnicas, até porque ali estavam para cumprir, dentro de uma determinada carga horário, um determinado conteúdo curricular. Não tinham espaço, se assim o quisessem, para trabalhar, por exemplo, desenvolvimento emocional.

Burocratizamos a escola e transformamos a educação em ensino e, também, afastamos a família, trabalhando sempre numa dualidade: a escola ensina conhecimentos, a família ensina valores. Será isso correto? Acredito que não.

Afinal, para que educamos? Em outras palavras, qual é a finalidade da educação? Vamos a outra pergunta inquietante: para quem educamos? Será para o sistema burocrático escolar ou para os seres humano?

Pensemos, pois pensar é ótimo exercício. A família existe sem as pessoas que a constituem? A escola funciona sem as pessoas dos professores e alunos? A sociedade pode ser constituída sem a participação das pessoas que devem constituí-la? Tudo gira em torno das pessoas, os seres humanos que somos. Então, se a família, a escola e a sociedade são as pessoas, não é para elas que tudo deve estar voltado?

A família são pessoas. A escola são pessoas. A sociedade são pessoas. Sem os seres humanos presentes e ativos nada disso pode subsistir. As famílias se extinguem, as escolas fecham e as sociedades se desvanecem.

Desenvolver a arte de pensar é um dos pilares da educação. Mas se estamos na escola apenas para receber conteúdos, com os professores tudo ensinando, ficamos pobres de raciocínio e emoção. Se estamos na família apenas para obedecer ordens, com os pais decidindo e fazendo tudo, ficamos também pobres de raciocínio e emoção. É ai que nos deparamos com a falência da educação, vendo as gerações se sucederem e quase nada se transformar na sociedade: continuamos com a corrupção moral, com a injustiça social, com a pobreza e miséria, com as guerras, com os conflitos econômicos, com os interesses individuais e de grupos, com a destruição da natureza planetária, com os preconceitos e discriminações. Chega! Basta de tanta coisa ruim!

Voltemos às duas perguntas básicas deste texto reflexivo: para que e para quem educamos? Qual o papel da família e da escola na sociedade humana? Onde fica a vida no contexto familiar e escolar? Continuaremos a sentar nos bancos escolares para aprender o que nos ensinam, e a calar diante do que os pais querem que aprendamos e sejamos? Não temos o direito de pensar por nós mesmos? E de construir a própria existência com aprendizados que satisfaçam nossa curiosidade e o nosso existir?

Deixo as perguntas para cada um responder por si, encerrando estas reflexões com outra indagação: não é possível e necessário fazer diferente, para que a educação faça face aos anseios da sociedade do terceiro milênio, que aspira desenvolver uma nova humanidade, uma humanidade mais ética, solidária, empática e humanizada?

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Transformando a escola

Para transformar uma escola são necessários alguns passos, dados calmamente, sem pressa, pois estamos falando de mudanças pedagógicas, mudanças filosóficas, e não de mudanças físicas feitas por tijolo e cimento. Ou seja, existe um processo para fazer da sua escola uma Escola do Sentimento. E para que esse processo seja iniciado você, que quer propor e realizar a mudança, precisa realmente querer e saber o que quer, estudando a proposta apresentada pelo Instituto Brasileiro de Educação Moral.

Supondo que você esteja convicto do que quer e tenha estudado a proposta, recomendamos como primeiro passo redefinir e rediscutir a educação com todos os profissionais envolvidos no trabalho escolar, pois é necessário mudar a filosofia da escola, que passará a trabalhar para colocar em prática a educação moral.

E a educação moral significa formar o caráter do educando; potencializar as virtudes - e não os defeitos - de cada aluno; sensibilizar os sentimentos - do educando e também do educador; direcionar s inteligência para o desenvolvimento do bem para todos; e construir o homem integral, ou seja, fazer desabrochar o eu interior do educando, todo o seu potencial espiritual.

O segundo passo dessa transformação, ainda ligado ao pensamento filosófico que regerá toda a ação pedagógica, é destacar que o fim último da educação é levar o educando ao seu aperfeiçoamento total, e que, nesse sentido, a escola é um dos agentes básicos desse trabalho, o qual deve ser compartilhado com a família, com a sociedade e com a autoeducação.

Como entendemos que a vida é educação, também entendemos que o homem é eterno educando, aprendendo e ensinando ao mesmo tempo, sempre, a cada passo do existir. Por isso a educação é um processo de dentro para fora e de fora para dentro, do homem para a vida e da vida para o homem.

Em verdade, a educação moral propõe a união, ou seria melhor dizer interação?, entre a instrução (o ensinar) e a formação (o educar), indo muito além do conteúdo de um currículo preestabelecido, pois não podemos desvincular o educando da vida, e vice-versa, por isso a urgente necessidade de trabalharmos o desenvolvimento do potencial intelectual do educando junto com o seu potencial emocional.

Ou será que Jean Jacques Rousseau está errado ao afirmar que"o fim último da educação é a preservação da bondade e virtudes naturais do coração humano"?

Bem, talvez esteja, pelo menos para aqueles que consideram que o educando, seja criança ou adolescente, é o maior problema que temos pela frente na escola. Será?

Dizem que sonhar com uma escola diferente é fácil, a questão está em realizar essa escola diferente na prática. Pois bem, vamos mostrar que essa tarefa não é tão difícil como se imagina, e que fazer da sua escola uma Escola do Sentimento é mais que possível, é uma realidade. Para isso elaboramos um passo a passo, espécie de manual prático.

Construa o projeto dialogando - Reúna os professores, os funcionários e os pais em reuniões específicas para apresentar e conversar sobre a Escola do Sentimento, pois o ideal deve estar claro para todos, fazendo com que eles também se motivem para sua implantação.

Estude a educação moral - Fomente grupos de estudo sobre a Educação Moral e a Pedagogia da Sensibilidade, bases para o bom trabalho da Escola do Sentimento.

Repense o professor - São sete os princípios de conduta do educador: afeto, ajuda, amor, bondade, estímulo, natureza, convicção. Faça dos professores verdadeiros educadores.

Elabore um novo ensino-aprendizagem - Para realizar a educação moral é necessário trabalhar a arte da formação do caráter no processo ensino-aprendizagem, seguindo cinco princípios: intuição, descobrimento, conhecimento, atividade, percepção.

Trabalhe os princípios da educação moral - Constantemente realize oficinas de vivências e estudos sobre os três princípios da educação moral: educação com amor, com exemplo e com experiência própria.

Monte a rede pedagógica - A Escola do Sentimento não trabalha sozinha, não fica isolada. Cuide de integrar numa rede educativa a família e a comunidade.

Reveja os fins do ensino - O ensino propiciado pela educação moral deve levar em consideração todas as aptidões do educando em todas as circunstâncias, e ser feito com simplicidade, amor, prudência e autoridade.

Dá trabalho renovar a escola e transformá-la? Sim, mas nunca disse que não seria trabalhoso, e, muitas vezes, difícil. Com abnegação, idealismo, trabalho e tempo, você verá surgir a Escola do Sentimento e, um pouco mais à frente, um novo homem para um novo mundo.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Economia, segurança, saúde e ... educação

Em época eleitoral é comum vermos pesquisas de opinião sobre temas que mais interessam aos eleitores, que consideram mais prioritários para o trabalho da próxima autoridade pública a ser eleita. E também é comum vermos a imprensa realizar entrevistas e matérias jornalisticas sobre o que pensam os candidatos sobre esse e aquele tema, que ações propõem caso ganhem a eleição.

Sabe o que chama a atenção? É que a maioria dos candidatos a cargos no executivo não coloca a educação como prioridade, e quase sempre, ao abordarem esse assunto, confundem educação com instrução, se equivocam ao falar apenas de escolas e professores, deixando a família de lado, assim como a formação moral das novas gerações. Aliás, esse parece ser um assunto proibido, ou pelo menos embaraçoso.

As preocupações com a economia, a saúde, a segurança, o transporte, o emprego e outros temas, são preocupações legítimas, fazem parte do contexto social e não podem ser negligenciados pelo poder executivo, mas que adianta focar nisso, se a educação não fizer com que autoridades e público não saibam bem utilizar os recursos a benefício de todos?

Vejamos a questão da corrupção. Dizem que ele teve início em nosso país a partir do descobrimento de nossas terras pelas nações europeias, pois o índio, nosso primitivo habitante, vivendo integrado com a natureza, sempre respeitou um código de ética simples mas eficiente em suas relações interpessoais. Os europeus, pelo contrário, traziam o jogo pelo poder, os combinados, as traições e tudo o mais que conhecemos muito bem. Corromper as pessoas para ganhos e favorecimentos individuais ou de coletivos de interesse, era algo instituído, como se o ser humano não pudesse viver sem a corrupção.

O tempo passou, a educação sempre em segundo ou terceiro plano, e a corrupção, de tão comum, passou a ser considerada normal, até que a soma de escândalos envolvendo os mais variados agentes públicos, em prejuízo da maioria, trouxe a questão para o centro do debate.

Como combater a corrupção? Imediatamente pensou-se no endurecimento das leis, em operações policiais mais profundas, e vimos o nascimento do lavajatismo, afinal o corrupto deve responder pelos seus atos danosos e ir para a cadeia. A Operação Lava-jato, tão nossa conhecida, levantou a ponta do véu, mas esbarrou na burocracia do nosso judiciário, onde recursos intermináveis e vai e vem de tribunais adiam julgamentos. Por que? Porque muitos estão ou se sentem envolvidos, e tudo fazem para que essa burocracia judiciária e as intervenções políticas se sobreponham à ética, ao correto.

Como vamos corrigir esse estado de coisas? Com a educação, mas a educação que desenvolve nas crianças e jovens valores humanos compatíveis com o viver ético e solidário. Uma educação que, na família e na escola, prioriza o aprendizado da regra de ouro: fazer ao outro somente o que se deseja que o outro lhe faça.

A tarefa é árdua. Passa pela humanização da escola, pela afetividade na família e tantas ações que, sempre adiadas, não transformam os indivíduos e, portanto, não transformam a sociedade, dando-nos a impressão de estarmos vivendo um ciclo fechado e repetitivo. Entra governo, passa governo e as situações não se alteram: violência, analfabetismo, pobreza, crise econômica, corrupção …

Até quando a educação moral, a educação do caráter, a educação humanizada serão desconsideradas no cenário eleitoral do nosso país? Até quando vamos considerar o comum, afinal sempre aconteceu, como algo normal?

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Entendendo o adolescente

 

Muitos pais se perdem na educação de seu filho quando o mesmo entra na adolescência. Não sabem se impõem o que querem, se dão liberdade para que ele descubra a vida, se cobram por comportamentos adequados, se usam da violência física para controlar, se continuam a dedicar afeto e atenção, enfim, o que fazer quando o filho está adolescente?

O adolescente pensa diferente, comporta-se diferente e a atual geração nem de longe se compara à nossa geração, quando fomos adolescentes, pois naquela época não havia computador, internet, ecologia, redes sociais e tantas outras coisas mais, mas é certo que em alguns aspectos podemos tirar das lições do nosso passado vários aprendizados para melhor lidar com o filho adolescente.

O primeiro aprendizado é que ele está ainda em fase de crescimento da personalidade e da compreensão do mundo. Não é mais criança, mas também não é um adulto, portanto, necessita ainda de amparo, orientação. Os pais devem se transformar em amigos que compartilham dúvidas e certezas.

Outro aprendizado é que a inconstância entre o que se quer e o que não se quer é natural. As novas descobertas propiciadas pelos estudos e pelas experiências vivenciais fazem com que a mudança de opinião não seja uma aberração, mas um estado natural de assimilação e acomodação, até que tudo esteja claro. Os pais não devem cobrar definições que o adolescente não pode dar, mas estimular suas potencialidades.

Um terceiro aprendizado refere-se ao anseio de liberdade. Liberdade para ir e vir com os colegas. Liberdade de escolher a roupa e tantas outras liberdades. A liberdade faz parte da personalidade assumida, mas deve ser acompanhada dos limites e das responsabilidades, que não podem ser impostos, cobrados a todo momento, pois antes significam consciência interior. Devem os pais dialogar e dar o próprio exemplo, e mais, devem introduzir o filho adolescente em atividades que lhe exijam responsabilidade, para que ele compreenda o significado da liberdade.

Estou escrevendo e lembrando da minha adolescência. Os tempos de ginásio – depois primeiro grau e agora ensino fundamental –, e depois a escola técnica e a faculdade. Naquele tempo eu não tinha a preocupação do trabalho profissional, nem uma visão muito extensa sobre família e sociedade, o que fui adquirindo com o tempo, graças às orientações e exemplos dos meus pais, pois assim eu fui sabendo como melhor me conduzir nas relações com os outros e com a vida de forma geral.

É exatamente o que devemos agora fazer com nosso filho adolescente. Nem lhe dar liberdade sem limites, nem lhe exigir uma maturidade que ainda está em construção. O segredo é ser seu amigo, ao mesmo tempo que pai ou mãe, orientando-o e dando-lhe, pouco a pouco, responsabilidades.

Se está difícil fazer isso, uma coisa é certa: andamos relaxando na educação do nosso filho, desde a infância, deixando que más tendências do caráter aflorassem e ainda reforçando-as com nossos maus exemplos, ou com nossa ignorância sobre o processo de educar.

Já ia esquecendo: surras, xingamentos, ameaças não educam. Podem cercear neste ou naquele momento, mas geram frustrações e desequilíbrios psicológicos, além do que toda violência deve ser condenada, e nunca educam, pelo contrário, fomentam raiva, ódio e mais violência, seja ela física ou moral.

Agora que você já sabe de alguns aprendizados, retirados da sua própria adolescência, faça a sua parte na compreensão dos nossos adolescentes.

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...