Para que e para quem educamos?
Estamos de tal maneira acostumados com o sistema escolar voltado para a aquisição do conhecimento, com as escolas formatadas em salas de aula, tempos de estudo, seriação por idade, disciplinas curriculares, provas, notas, conteúdos e horários previamente planejados, que deixamos de pensar sobre a educação. Ano após ano repetimos a fórmula e nem nos damos conta que os resultados não estão satisfatórios. Quando eles nos incomodam, mudamos a metodologia, introduzimos novos recursos didáticos, mas a essência continua intocada.
Quando e onde nos perdemos da educação? Por que ela virou sinônimo de instrução? Será que conhecer e memorizar conteúdos de geografia, história, biologia, português, matemática e tantas outras disciplinas ou matérias curriculares, é mais importante do que conhecer a si mesmo e se preparar para a vida? Será que certificados “falam” do ser humano que somos? Onde está a ponte que liga a missão da família com a missão da escola na educação das novas gerações?
Lembro dos meus tempos de bancos escolares, onde aprendi muitas coisas, das quais, com o tempo, descartei ou esqueci. Por que? Bem, muitos professores não me disseram a utilidade dessas coisas, outros não se importaram com minhas naturais tendências humanas e técnicas, até porque ali estavam para cumprir, dentro de uma determinada carga horário, um determinado conteúdo curricular. Não tinham espaço, se assim o quisessem, para trabalhar, por exemplo, desenvolvimento emocional.
Burocratizamos a escola e transformamos a educação em ensino e, também, afastamos a família, trabalhando sempre numa dualidade: a escola ensina conhecimentos, a família ensina valores. Será isso correto? Acredito que não.
Afinal, para que educamos? Em outras palavras, qual é a finalidade da educação? Vamos a outra pergunta inquietante: para quem educamos? Será para o sistema burocrático escolar ou para os seres humano?
Pensemos, pois pensar é ótimo exercício. A família existe sem as pessoas que a constituem? A escola funciona sem as pessoas dos professores e alunos? A sociedade pode ser constituída sem a participação das pessoas que devem constituí-la? Tudo gira em torno das pessoas, os seres humanos que somos. Então, se a família, a escola e a sociedade são as pessoas, não é para elas que tudo deve estar voltado?
A família são pessoas. A escola são pessoas. A sociedade são pessoas. Sem os seres humanos presentes e ativos nada disso pode subsistir. As famílias se extinguem, as escolas fecham e as sociedades se desvanecem.
Desenvolver a arte de pensar é um dos pilares da educação. Mas se estamos na escola apenas para receber conteúdos, com os professores tudo ensinando, ficamos pobres de raciocínio e emoção. Se estamos na família apenas para obedecer ordens, com os pais decidindo e fazendo tudo, ficamos também pobres de raciocínio e emoção. É ai que nos deparamos com a falência da educação, vendo as gerações se sucederem e quase nada se transformar na sociedade: continuamos com a corrupção moral, com a injustiça social, com a pobreza e miséria, com as guerras, com os conflitos econômicos, com os interesses individuais e de grupos, com a destruição da natureza planetária, com os preconceitos e discriminações. Chega! Basta de tanta coisa ruim!
Voltemos às duas perguntas básicas deste texto reflexivo: para que e para quem educamos? Qual o papel da família e da escola na sociedade humana? Onde fica a vida no contexto familiar e escolar? Continuaremos a sentar nos bancos escolares para aprender o que nos ensinam, e a calar diante do que os pais querem que aprendamos e sejamos? Não temos o direito de pensar por nós mesmos? E de construir a própria existência com aprendizados que satisfaçam nossa curiosidade e o nosso existir?
Deixo as perguntas para cada um responder por si, encerrando estas reflexões com outra indagação: não é possível e necessário fazer diferente, para que a educação faça face aos anseios da sociedade do terceiro milênio, que aspira desenvolver uma nova humanidade, uma humanidade mais ética, solidária, empática e humanizada?
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