segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Esperança nunca morre

A educação brasileira, que melhor seria ser chamada de ensino brasileiro, pois há muito apenas se ensina, não se educa, vai de mal a pior. Com quase um ano de pandemia do novo coronavírus, não existem definições por parte do Ministério da Educação, que parece estar se eximindo de ser protagonista da essência mesma da nossa sociedade, pois sem educação não há como ter uma nação bem desenvolvida. Assistimos, com indignação, as secretarias estaduais e municipais de educação decidindo o que fazer e como fazer para a retomada da vida escolar, seja de forma presencial, mas com restrições, seja de forma online, mas com melhores recursos.

Ninguém sabe ao certo o que vai acontecer. Algumas autoridades públicas querem o retorno das aulas presenciais, parte do professorado se recusa a voltar presencialmente à escola, os donos de escolas particulares querem o afrouxamento das restrições, os comitês científicos clamam por mais restrições, e a campanha de imunização através da aplicação de vacinas se arrasta, com vários escândalos já consignados.

O que mais nos chama a atenção é a escandalosa inércia do ministério responsável pelo que deveria ser considerado essencial, prioridade, que é a educação. Infelizmente continuam suas autoridades e técnicos mais preocupados com exames nacionais que nada examinam, e, com mais de cinquenta por cento de falta dos inscritos, o exame do ensino médio é considerado pelo ministro como sucesso! Que sucesso?

Apesar de tudo continuo a fazer parte do grupo de educadores intitulado por Rubem Alves de esperançosos. Sem otimismo exagerado, que pode ser muito prejudicial, pois pode nos tirar da realidade, levantar nossos pés do chão, continuamos teimosamente acreditando em dias melhores, sem perder a esperança.

Quem é esperançoso não fica assistindo o tempo passar pela janela. Trabalha e luta para que novas ideias, novas práticas façam a diferença, mesmo não conseguindo a desejada adesão dos próprios educadores, muitas vezes mais interessados em burocracias, zonas de conforto academicismos e fazer sempre o mesmo.

Tudo bem, os educadores esperançosos não querem remar contra a maré, e sim disseminar portos seguros aqui e ali, até que sejam os únicos possíveis de se encontrar guarida diante da tempestade. E depois, quando vier a bonança, serem os únicos porto seguros pedagógicos capazes de refazer a sociedade humana.

Sonho? Utopia? Não, realidade. Espalham-se pelo Brasil e o Mundo as escolas inovadoras, que ninguém mais pode ignorar, vez e outra mostradas pela imprensa, cujos resultados são excelentes, muito além do que a maioria das escolas do sistema tradicional conseguem.

O que fazem de diferente essas escolas? Não têm mais salas de aula, o ensino é humanizado e participativo, acolhem as famílias e a comunidade, trabalham com sentimento, entre outras coisas que fazem delas exemplos vivos do que devemos fazer em todas as redes, públicas e particulares, de educação.

Diante disso, como não se manter esperançoso num futuro muito melhor?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

As estrelas brilham no céu

Quando, à noite, o céu está nublado, não vemos as estrelas, mas elas estão lá, como sempre, refletindo sua luz. Quando, ao dia, o sol está majestoso, também não vemos as estrelas, mas elas continuam lá, brilhando sem cessar. Quando o professor está de mal humor, estressado, e mais do que nunca se apega a transmitir o conteúdo de sua disciplina curricular, literalmente esquecendo os alunos, estes continuam lá, em sala, pensando e sentindo, embora sem permissão para se manifestarem.

A sociedade muitas vezes tenta abafar as vozes infantis e juvenis – veja-se o caso dos influenciadores digitais, ou dos jovens que lutam por pautas ecológicas e de direitos civis –, mas elas estão ali, latentes, aproveitando todas as brechas, todas as oportunidades.

Crianças e jovens são como estrelas, nunca deixam de espalhar sua luz, apesar da família desestruturada, da escola burocrática, da sociedade desumana. E, teimosamente, crescem, desafiam e, com o tempo, vão tomar conta do mundo.

Neste ponto nossa reflexão deve voltar-se para a educação, pois ela é a essência, é fundamental para formar as consciências, preparar para a vida, desenvolver os potenciais que estão em germe.

O que estamos fazendo com a educação?

Quando visitamos uma escola não precisamos visitar outra, pois elas são iguais, seguem um padrão físico e pedagógico onde a sala de aula e o professor que ensina reinam absolutos; onde o planejamento curricular anual, as provas e as notas são majestosamente entronizados. Escola boa, de qualidade, é a que faz muitos dos seus alunos se darem bem nos exames vestibulares, nos concursos públicos e nas provas nacionais de avaliação. Será isso sinônimo de qualidade em educação? Afirmamos que não, pois nada disso revela um trabalho que coloca o aluno no centro do processo de aprendizagem.

Quem convive com crianças, seja na família e/ou na escola, sabe o quanto essa geração infante é inteligente, esperta, vivaz, participativa, iluminando a vida apesar de todos os bloqueios, de todos os cerceamentos que enfrenta. São estrelas, teimosamente brilhando.

Estamos preparando as crianças para serem transformadoras da humanidade?

Estamos permitindo que a inteligência delas promova boas coisas para todos?

Estamos propiciando o fazer pensar, as situações desafio, para que as crianças sejam autônomas e críticas?

E as questões ligadas à ética, empatia, equilíbrio emocional, solidariedade, estão sendo trabalhadas pela educação que desenvolvemos na família e na escola?

Como perguntou Piaget, para onde vai a educação?

Para onde ela for irá a humanidade.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Círculo vicioso

No início dos anos 1970 o professor Lauro de Oliveira Lima republicou, em nova edição, os textos que deram origem ao livro Escola no Futuro, reunindo estudos realizados por um punhado de professores cearenses (os capitaplana, ou cabeça-chata), lá pelos idos do final da década de 1950, quando propuseram um novo olhar sobre o ensino nas escolas, realizando dezenas de cursos Brasil afora, preparando o professorado para uma renovação do pensamento educacional e do fazer pedagógico.

Radicado na mais carioca das cidades, e com a experiência da Escola A Chave do Tamanho, Lauro, adepto dos estudos de Jean Piaget sobre a psicogênese do desenvolvimento da criança, introduziu no livro original alguns novos textos, entregando-nos um olhar crítico sobre a escola, o professor e a educação, ao mesmo tempo em que vislumbra o futuro no ano dois mil.

Ele estava distanciado ainda trinta anos da data futura, nós estamos vinte anos depois do ano assinalado pelo educador que precisamos resgatar, anda meio esquecido, pois Lauro de Oliveira Lima é daqueles educadores de importância na história da educação e da pedagogia, e não pode amarelecer nas prateleiras das bibliotecas e dos sebos.

Então, resgatando Lauro, eis o que ele escreve nas páginas da sua Escola no Futuro:

O que se constata é um círculo vicioso: as crianças não se desenvolvem porque os adultos não as estimulam e os adultos não as estimulam porque foram crianças não estimuladas.

O que mudou dessa visão “laureana” para nossos dias? Quase nada. Na teoria temos muitas coisas novas e boas, mas na prática vemos as escolas amarradas ao conteudismo, engessadas numa estrutura de seriação por idade, aulas com professores que ensinam, alunos em carteiras enfileiradas que tentam aprender, provas, notas e certificados atestando a “qualidade” do ensino. Muitas escolas de ensino fundamental consideram o aluno aprovado e apto com a média cinco, numa escala de zero a dez, ou seja, o mínimo torna-se o mais. Conteúdos decorados e aplicados numa prova, e está tudo certo.

Atualmente privilegia-se o ensinar e não o aprender. Muitos professores somente sabem ensinar os conteúdos programados de sua disciplina curricular. Ficam perdidos quando se propõe fazer um trabalho diferente. A escola gira em torno do professor e dos conteúdos a serem ensinados, o aluno e seu ritmo de aprender pouco são considerados, ficando em segundo plano.

Há verdadeiro choque entre a educação infantil lúdica e participativa, e o ensino fundamental, centralizado e pouco dinâmico. Felizmente temos exceções, e como são bem vindas, com amplo sucesso, hoje chamadas escolas inovadoras, mas que em pequeno número, não conseguem influenciar decisivamente o sistema educacional brasileiro.

Resgatar Lauro de Oliveira Lima, assim como outros educadores brasileiros de vanguarda, de pensamento mais aberto e crítico, com propostas pedagógicas de excelência, deve ser também trabalho dos pedagogos.

Imagino que talvez você que lê este texto nunca tenha ouvido falar do professor cearense que, na prática, escolarizou, se assim podemos dizer, as pesquisas de Jean Piaget, que também não sei se conhece. É possível que o livro Escola no Futuro nunca tenha sido apresentado para sua leitura e estudo, o que é uma pena, e tudo isso colabora para o ciclo vicioso apontado por Lauro: as gerações se sucedem e mantemos o mesmo de sempre nas escolas, na educação e na sociedade.

Como será a escola no ano dois mil e cinquenta?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Educação para todos

Tive o prazer, recentemente, de visitar o educador Comenius e dele receber preciosos ensinamentos, numa conversa útil e bastante frutífera. Para quem não o conhece, apresento. Trata-se de Johan Amós Comenius (1592-1670), educador tcheco do século 17, autor de livros muito importantes como Pampedia. Didática Magna e O Labirinto do Mundo, entre outros, e que é considerado o pai da pedagogia e da didática.

Como todo homem de visão profunda e ampla, teve muitos problemas para ser reconhecido em sua época, até porque era crítico do sistema educacional existente, propondo coisas que somente foram adotadas muito tempo depois.

Como exemplo do que estamos falando, eis o que ele escreveu em sua obra Pampedia:

Nosso primeiro desejo é que todos os homens sejam educados, em sua plena humanidade, não apenas um indivíduo, não apenas poucos, nem mesmo muitos, mas todos os homens, reunidos e individualmente, jovens e velhos, ricos e pobres, de nascimento elevado e humilde – numa palavra, qualquer um cujo destino é ter nascido ser humano; de forma que afinal toda a espécie humana seja educada, homens de todas as idades, todas as condições, de ambos os sexos e de todas as nações.”

Em tempos de príncipes e monarcas, guerra religiosa entre católicos e protestantes, onde a mulher praticamente não tinha direitos, o analfabetismo grassava em toda a Europa, e a escola era enfadonha, repleta de latim e retórica acadêmica, a fala de Comenius soava como revolucionária, perigosa, inconsequente, contrária aos interesses políticos e religiosos predominantes.

Hoje nossa compreensão exalta o pensamento comeniano. Sim, os direitos são iguais, para homens e mulheres, para crianças, jovens e adultos, para todos, sem nenhum tipo de distinção. A educação deve a todos ser disponibilizada, com a mesma qualidade.

Contudo, como estamos na prática? Bem longe do discurso, é o que constatamos. E não apenas no Brasil, mas em boa parte do mundo. Basta uma visita aos relatórios e pesquisas da Unesco, por exemplo, para fazer essa constatação.

A educação para todos está consagrada em vários documentos internacionais, assinados pela maioria das nações, mas depois de mais de quatro séculos de Comenius ter feito essa proclamação, ela não está plenamente presente na humanidade.

Discriminações, preconceitos, corrupção, culturas e interesses políticos egoístas têm adiado a melhora e universalização da educação. Precisamos entender que não basta mudar os administradores públicos, nem os representantes políticos da população. Para vermos reais transformações sociais precisamos mudar o caráter dos indivíduos, e isso somente pode acontecer através da educação.

Enquanto ficarmos assistindo as gerações se sucederem e serem lançadas na sociedade sem nenhum ideal superior, sem nenhuma visão global, vivendo apenas para si e as sensações e poderes do momento, nada de melhor poderemos ver no horizonte.

Minha conversa com Comenius rendeu estas reflexões, que espero sejam úteis, para que façamos esforços em priorizar a educação, tão vilipendiada, esgarçada, corrompida e maltratada, mas essencial para o progresso humano.

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...