Círculo vicioso

No início dos anos 1970 o professor Lauro de Oliveira Lima republicou, em nova edição, os textos que deram origem ao livro Escola no Futuro, reunindo estudos realizados por um punhado de professores cearenses (os capitaplana, ou cabeça-chata), lá pelos idos do final da década de 1950, quando propuseram um novo olhar sobre o ensino nas escolas, realizando dezenas de cursos Brasil afora, preparando o professorado para uma renovação do pensamento educacional e do fazer pedagógico.

Radicado na mais carioca das cidades, e com a experiência da Escola A Chave do Tamanho, Lauro, adepto dos estudos de Jean Piaget sobre a psicogênese do desenvolvimento da criança, introduziu no livro original alguns novos textos, entregando-nos um olhar crítico sobre a escola, o professor e a educação, ao mesmo tempo em que vislumbra o futuro no ano dois mil.

Ele estava distanciado ainda trinta anos da data futura, nós estamos vinte anos depois do ano assinalado pelo educador que precisamos resgatar, anda meio esquecido, pois Lauro de Oliveira Lima é daqueles educadores de importância na história da educação e da pedagogia, e não pode amarelecer nas prateleiras das bibliotecas e dos sebos.

Então, resgatando Lauro, eis o que ele escreve nas páginas da sua Escola no Futuro:

O que se constata é um círculo vicioso: as crianças não se desenvolvem porque os adultos não as estimulam e os adultos não as estimulam porque foram crianças não estimuladas.

O que mudou dessa visão “laureana” para nossos dias? Quase nada. Na teoria temos muitas coisas novas e boas, mas na prática vemos as escolas amarradas ao conteudismo, engessadas numa estrutura de seriação por idade, aulas com professores que ensinam, alunos em carteiras enfileiradas que tentam aprender, provas, notas e certificados atestando a “qualidade” do ensino. Muitas escolas de ensino fundamental consideram o aluno aprovado e apto com a média cinco, numa escala de zero a dez, ou seja, o mínimo torna-se o mais. Conteúdos decorados e aplicados numa prova, e está tudo certo.

Atualmente privilegia-se o ensinar e não o aprender. Muitos professores somente sabem ensinar os conteúdos programados de sua disciplina curricular. Ficam perdidos quando se propõe fazer um trabalho diferente. A escola gira em torno do professor e dos conteúdos a serem ensinados, o aluno e seu ritmo de aprender pouco são considerados, ficando em segundo plano.

Há verdadeiro choque entre a educação infantil lúdica e participativa, e o ensino fundamental, centralizado e pouco dinâmico. Felizmente temos exceções, e como são bem vindas, com amplo sucesso, hoje chamadas escolas inovadoras, mas que em pequeno número, não conseguem influenciar decisivamente o sistema educacional brasileiro.

Resgatar Lauro de Oliveira Lima, assim como outros educadores brasileiros de vanguarda, de pensamento mais aberto e crítico, com propostas pedagógicas de excelência, deve ser também trabalho dos pedagogos.

Imagino que talvez você que lê este texto nunca tenha ouvido falar do professor cearense que, na prática, escolarizou, se assim podemos dizer, as pesquisas de Jean Piaget, que também não sei se conhece. É possível que o livro Escola no Futuro nunca tenha sido apresentado para sua leitura e estudo, o que é uma pena, e tudo isso colabora para o ciclo vicioso apontado por Lauro: as gerações se sucedem e mantemos o mesmo de sempre nas escolas, na educação e na sociedade.

Como será a escola no ano dois mil e cinquenta?

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