segunda-feira, 28 de junho de 2021

No início da república, uma escola democrática

Poucos anos após o fim da monarquia e o início da república na nação brasileira, surgiu em pequeno município das terras mineiras uma escola, mais precisamente em Sacramento, no ano de 1907, que revolucionou o ensino e bem poderia ter sido classificada como uma escola nova, movimento educacional que pulsava na Europa e nos Estados Unidos, propondo uma nova filosofia educacional, novos procedimentos pedagógicos e uma nova metodologia de ensino.

Nas terras europeias iriam se destacar Ferrieri, Freinet, Montessori e outros, e nas terras americanas do norte iria se destacar Dewey, mas esses nomes, suas pesquisas, seus trabalhos e suas escolas somente chegariam ao Brasil a partir de 1920, tempos depois da inauguração do Colégio Allan Kardec pelo educador Eurípedes Barsanulfo, na pequena Sacramento, distante desses centros culturais.

Ao olharmos para a escola sacramentana percebemos nitidamente que ela utilizava a metodologia pestalozziana, desenvolvida por João Henrique Pestalozzi no Instituto de Yverdon, na Suíça, entre os anos de 1804/05 a 1824/25, um século antes, embora não existam documentos que atestem ter Eurípedes Barsanulfo conhecido ou estudado a obra do mestre suíço.

Em sua proposta pedagógica o Colégio Allan Kardec propunha:

Respeitar a liberdade e a individualidade da criança, que precisa agir para aprender, numa ação livre acompanhada pelo amor do educador.

O educador deve se empenhar em incentivar e cultivar o lado bom do educando, com atenção, diálogo e observação.

A educação deve buscar o desenvolvimento da inteligência, no cultivo da bondade, na preparação do ser físico, intelectual e moral de forma equilibrada.

A escola deve ser uma grande família, uma extensão do lar dos educadores e educandos.

A educação deve começar na infância, formando indivíduos com novas consciências e posturas éticas.

O professor não pode ser autoritário, nem dono do saber.

Para cumprir essa proposta pedagógica bem diferente do que se pensava e fazia na educação brasileira daqueles tempo, Eurípedes implantou uma metodologia que funcionava com a interação de todos os agentes educacionais:

Os alunos participavam ativamente de ações sociais para desenvolvimento da solidariedade.

Os alunos podiam perguntar e escolher o que queriam estudar.

Não se fazia memorização de conteúdos, apelando-se para o uso ativo da racionalidade, do estudo da natureza, das investigações, discussões, conclusões e reflexão crítica.

Não existiam provas, exames, prêmios ou castigos.

Os alunos mais desenvolvidos auxiliavam os outros.

As turmas eram mistas, mesclando meninos e meninas.

A escola mantinha a liberdade, autonomia, diálogo e afeto, e as aulas tinham duração de tempo variável, dependendo do conteúdo estudado e das atividades desenvolvidas.

O Colégio Allan Kardec, lá nos idos de 1907, hoje seria considerado uma escola inovadora, uma comunidade de aprendizagem, graças ao pioneirismo de Eurípedes Barsanulfo, um educador que precisa ser resgatado pela história da educação brasileira. 

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Carta aos educadores

Caro educador, seja você professor, pai, mãe, pedagogo ou qualquer outra pessoa responsável por uma criança ou um jovem, este texto é um convite à reflexão sobre o processo de educar, hoje tão confundido com o ensinar e adquirir conhecimentos, o que é desvio da finalidade maior da educação.

Essa finalidade maior está na percepção e compreensão que educar é propiciar à criança o desenvolvimento integral de todas as suas potencialidades, sejam elas intelectuais e emocionais, numa visão holística sobre o ser humano, permitindo que ela realize sua caminhada progressiva no aprendizado de si mesma, dos outros e da vida.

Hoje estamos demasiadamente preocupados em realizar os ciclos de estudos e obter diplomas e formação técnica, deixando de lado o que é a essência da educação, o principal: a formação do caráter, o desenvolvimento do senso moral, a prática das virtudes. Não se alcançará a essência da educação reduzindo seu processo ao ensinar conteúdos programados de conhecimentos curriculares, fazendo da criança um ser passivo memorizador de informações.

A escola necessita de outra dinâmica, assim como os pedagogos e os professores devem repensar seu pensamento e suas ações educacionais. Não é mais possível apenas “dar aula”, ensinar conteúdos, manter os alunos enfileirados uns atrás dos outros em carteiras individuais e, vez ou outra, colocá-los em trabalho de grupo, mas com tudo já formatado, engessado, dirigido, o que equivale a cercear a liberdade e a criatividade das crianças. Igualmente a avaliação não pode ficar à mercê de provas e notas, que na verdade nada avaliam, a não ser a memorização de conhecimentos e fórmulas, isso se não der o famoso esquecimento por puro nervosismo na hora de responder as questões propostas.

Por sua vez a família deve preocupar-se em corrigir as más tendências que as crianças apresentem, trabalhando os limites, os combinados, as regras, os valores humanos e a ética na convivência com os outros. A preocupação com a formação escolar dos filhos é válida, e a família deveria integrar-se à escola, e vice versa, mas não é o suficiente, pois que adianta ter filhos diplomados que chegam ao ensino superior, se não são honestos, se não sabem cooperar. Se não sabem pensar e querer o bem para todos?

Para alcançarmos a verdadeira finalidade da educação, como a explicitamos acima, é fundamental que os educadores, primeiro, eduquem a si mesmos, pois a maior força da educação está no exemplo de quem deve educar. Uma verdadeira autoeducação parte do exercício constante de autoconhecimento, de conhecer a si mesmo, corrigindo defeitos de caráter antes em si do que nos outros.

Escrevo para fazer pensar, para provocar reflexão. O que estamos fazendo com a educação? Por que sou um educador? Qual é o meu verdadeiro papel enquanto professor? Qual é a finalidade da escola? Por que sou pai ou mãe? Qual é a minha missão perante meus filhos? Qual é a finalidade da família?

Precisamos despertar para o verdadeiro significado e o verdadeiro papel da educação, nossa e das novas gerações. Precisamos nos sensibilizar que todos somos seres humanos dotados de inteligência e sentimento. Precisamos nos conscientizar da nossa missão de educadores desse ser integral, e que a educação é geradora do futuro humano, pois nossa sociedade será amanhã conforme a educação que estivermos desenvolvendo hoje.

Caro educador, você já pensou em tudo isso?

Pare, pense, reflita. O futuro da humanidade está nas suas mãos.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Importância da educação moral

De que adianta ter muitos conhecimentos, um bom desenvolvimento intelectual, se o caráter está manchado por vícios e o aluno sai da escola sem saber pensar e sem preocupação com a vida coletiva, de relação, dos seres humanos? Se no indivíduo predominam o egoísmo e o orgulho, as sensações e as paixões, a sociedade será manchada pela corrupção, violência e injustiça, com o agravante de serem superestimuladas por uma inteligência sem freios, sem ética.

Pais e professores, portanto família e escola, estão demasiadamente preocupados em ensinar, instruir, dar preparação técnica, fazer com que crianças e jovens acumulem conhecimentos, pensando equivocadamente que isso é educar, quando a finalidade da educação é o desenvolvimento harmônico do ser integral, de todo o seu potencial intelectual e emocional. Quando priorizamos apenas um dos eixos de desenvolvimento, como agora acontece com os esforços em torno da inteligência, do cognitivo, temos diariamente, ano após ano, a entrada na sociedade de seres humanos em desequilíbrio: são inteligentes, mas pouco preparados para as questões socioemocionais.

Mas esse quadro é incompleto se não levarmos em conta a imensa camada populacional na pobreza e mesmo abaixo da linha da miséria que ainda caracteriza a sociedade brasileira, com percentual acentuado de adultos analfabetos e crianças e jovens fora da escola. O mundo digital, tecnológico, eletrônico está muito distante de boa parte dessas famílias vivendo em comunidades carentes dos serviços públicos, verdadeiras ilhas sociais esquecidas não apenas dos governos, mas discriminadas pelo restante da sociedade. A luta pela sobrevivência, nem sempre ética, produz legiões de pessoas, geração após geração, desprovidas de instrução e de educação.

É grave a questão educacional brasileira. A solução está na necessidade de entendermos o que é educação e sua importância. Não podemos nos acomodar no discurso de que sempre foi assim, que a cultura brasileira é a do jeitinho, que desde Cabral a corrupção sempre existiu, que o brasileiro não tem jeito; assim como temos que deixar de lado a guerra estabelecida entre a escola e a família, de quem deve fazer o quê, pois isso só nos afasta cada vez mais da educação como instrumento de transformação da sociedade.

Educação é o processo de desenvolvimento harmônico, equilibrado, de todas as potencialidades do ser humano, levando em conta as áreas cognitiva e emocional, sem privilegiar uma ou outra, mas entendendo que a formação do caráter deve ser prioridade, deve vir antes da aquisição de conhecimentos. Homens e mulheres éticos, solidários, com autonomia e pensamento crítico, que saibam se colocar no lugar do outro, é o que precisamos, daí a importância da educação moral, ou da educação em virtudes, em valores humanos.

Precisamos rever a escola, assim como revisitar a família. Instruir não é educar. Adquirir conhecimentos não é desenvolver educação. Todo processo centrado na ensinagem está equivocado, pois o processo precisa estar centrado na aprendizagem, permitindo ao educando, no seu tempo e ritmo, realizar seu desenvolvimento, mas não isolado e sim com os outros, pois somos seres de relação, de convivência.

A questão não passa pelo desmonte ou fechamento das escolas com prioridade para o ensino doméstico. Isso não é solução. Apenas estaremos transferindo o que se faz na escola atual, ou seja, ensinar e instruir, para a família, mantendo os problemas de sempre. Vamos mudar, mas não transformar.

A escola é muito importante no desenvolvimento emocional e intelectual das crianças e jovens, mas necessita voltar-se para o processo de educação, deixando em segundo plano o processo de aquisição de conhecimentos, muitas vezes inúteis e sem sentido prático.

A família é muito importante na formação do caráter das crianças e jovens, mas precisa entender que isso é processo educacional de grave importância, prioridade diante da vida, e não tudo fazer para que eles tenham esta ou aquela formação técnica, pois sem desenvolvimento moral nenhuma competência técnica irá resolver os problemas humanos.

Finalmente, escola e família devem se unir, se dar as mãos no esforço educacional das novas gerações. Então, paulatinamente, veremos uma real transformação dos indivíduos, que, moralizados, irão estabelecer numa nova sociedade, mais justa, menos violenta, com respeito aos direitos de cada um, mais solidária e, acima de tudo, mais ética.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Educação para a paz

Nos tempos atuais ainda carregamos muitos ódios e pensamentos radicais, eclodindo em ações violentas, quer sejam elas físicas ou digitais, e as tentativas de solução não tem surtido o efeito desejado, pois estamos deixando de lado o desenvolvimento da cultura da paz, o que deve ocorrer tanto na família quanto na escola. E temos certeza que a mediação pacífica de conflitos é o melhor caminho.

Para que essa mediação pacífica possa surtir efeito contra a violência, precisamos nos desarmar do egoísmo, do orgulho, da prepotência, da vaidade, da hipocrisia, da indiferença, aprendendo a nos colocar no lugar do outro e a pensar no bem coletivo. Esse é o trabalho da educação: potencializar as virtudes, ou valores humanos, assim combatendo automaticamente os vícios e paixões que nos chafurdam na violência.

Educadores espalhados pelo mundo têm trabalhado pela educação em ética, educação em virtudes, educação em valores humanos, o que já fazemos há mais de vinte anos através da educação moral, mas ainda não conseguimos transformar o sistema que prioriza a formação intelectual e coloca em segundo plano a formação emocional. Com isso assistimos pessoas diplomadas, com formação acadêmica, tendo surtos odientos e matando outras pessoas em recintos públicos, mostrando que a formação intelectual não é garantia de um viver ético, solidário e pacífico.

E o que dizer dos cancelamentos, ataques e outras coisas que muitos fomentam através da internet? Estamos por demais violentos, sem compaixão, sem diálogo, vivendo uma guerra sem fim contra os outros por simplesmente pensarem de forma diferente do que pensamos.

Por tudo isso necessitamos da cultura da paz junto às crianças e jovens em seu processo de educação, assim como necessitamos reeducar a nós, adultos, em pacificação e atitudes éticas para com os outros. Se continuarmos a adiar esse trabalho vamos colher amargos frutos, ainda piores do que os de hoje.

Não é a segurança pública armada, nem as escolas cívico-militares, que farão a diferença na transformação para melhor da humanidade. O que irá fazer a diferença é uma ampla campanha educacional pela não-violência, pelo desarmamento de toda espécie, pela paz nas relações familiais e sociais, pela humanização da convivência.

Há mais de vinte anos ofertamos para as escolas o Programa Vivendo Sempre em Paz, coordenado pelo Ibem Educa, mas as escolas insistem em marginalizar e expulsar os alunos, ainda mais se forem oriundos de classes de baixa renda, moradores de comunidades consideradas violentas, a ponto de levantarem altos muros, gradearem as dependências internas, instalarem câmeras de vigilância, na prática deixando de ser uma escola para ser uma prisão, dizendo em alto e bom som às crianças e jovens: não confiamos em vocês, não acreditamos em vocês!

Essas crianças e esses jovens, explodirão em violências tanto na escola quanto na sociedade, pois estão com sua autonomia cerceada, ou então ficarão em depressão ou subservientes a um sistema que perpetua a violência.

Os educadores – pais e professores – precisam acreditar nas crianças e jovens, propiciando uma educação que liberte as consciências, desenvolva as virtudes, dê autonomia com responsabilidade, permita a prática da empatia, fomente a solidariedade e estabeleça a pacificação no relacionamento com o outro como um ato educativo capaz de erradicar qualquer tipo de violência.

Para que essa educação dê excelentes resultados, ela precisa que os educadores a apliquem primeiro consigo mesmos, pois somente que é da paz pode transmitir a paz.

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...