Importância da educação moral

De que adianta ter muitos conhecimentos, um bom desenvolvimento intelectual, se o caráter está manchado por vícios e o aluno sai da escola sem saber pensar e sem preocupação com a vida coletiva, de relação, dos seres humanos? Se no indivíduo predominam o egoísmo e o orgulho, as sensações e as paixões, a sociedade será manchada pela corrupção, violência e injustiça, com o agravante de serem superestimuladas por uma inteligência sem freios, sem ética.

Pais e professores, portanto família e escola, estão demasiadamente preocupados em ensinar, instruir, dar preparação técnica, fazer com que crianças e jovens acumulem conhecimentos, pensando equivocadamente que isso é educar, quando a finalidade da educação é o desenvolvimento harmônico do ser integral, de todo o seu potencial intelectual e emocional. Quando priorizamos apenas um dos eixos de desenvolvimento, como agora acontece com os esforços em torno da inteligência, do cognitivo, temos diariamente, ano após ano, a entrada na sociedade de seres humanos em desequilíbrio: são inteligentes, mas pouco preparados para as questões socioemocionais.

Mas esse quadro é incompleto se não levarmos em conta a imensa camada populacional na pobreza e mesmo abaixo da linha da miséria que ainda caracteriza a sociedade brasileira, com percentual acentuado de adultos analfabetos e crianças e jovens fora da escola. O mundo digital, tecnológico, eletrônico está muito distante de boa parte dessas famílias vivendo em comunidades carentes dos serviços públicos, verdadeiras ilhas sociais esquecidas não apenas dos governos, mas discriminadas pelo restante da sociedade. A luta pela sobrevivência, nem sempre ética, produz legiões de pessoas, geração após geração, desprovidas de instrução e de educação.

É grave a questão educacional brasileira. A solução está na necessidade de entendermos o que é educação e sua importância. Não podemos nos acomodar no discurso de que sempre foi assim, que a cultura brasileira é a do jeitinho, que desde Cabral a corrupção sempre existiu, que o brasileiro não tem jeito; assim como temos que deixar de lado a guerra estabelecida entre a escola e a família, de quem deve fazer o quê, pois isso só nos afasta cada vez mais da educação como instrumento de transformação da sociedade.

Educação é o processo de desenvolvimento harmônico, equilibrado, de todas as potencialidades do ser humano, levando em conta as áreas cognitiva e emocional, sem privilegiar uma ou outra, mas entendendo que a formação do caráter deve ser prioridade, deve vir antes da aquisição de conhecimentos. Homens e mulheres éticos, solidários, com autonomia e pensamento crítico, que saibam se colocar no lugar do outro, é o que precisamos, daí a importância da educação moral, ou da educação em virtudes, em valores humanos.

Precisamos rever a escola, assim como revisitar a família. Instruir não é educar. Adquirir conhecimentos não é desenvolver educação. Todo processo centrado na ensinagem está equivocado, pois o processo precisa estar centrado na aprendizagem, permitindo ao educando, no seu tempo e ritmo, realizar seu desenvolvimento, mas não isolado e sim com os outros, pois somos seres de relação, de convivência.

A questão não passa pelo desmonte ou fechamento das escolas com prioridade para o ensino doméstico. Isso não é solução. Apenas estaremos transferindo o que se faz na escola atual, ou seja, ensinar e instruir, para a família, mantendo os problemas de sempre. Vamos mudar, mas não transformar.

A escola é muito importante no desenvolvimento emocional e intelectual das crianças e jovens, mas necessita voltar-se para o processo de educação, deixando em segundo plano o processo de aquisição de conhecimentos, muitas vezes inúteis e sem sentido prático.

A família é muito importante na formação do caráter das crianças e jovens, mas precisa entender que isso é processo educacional de grave importância, prioridade diante da vida, e não tudo fazer para que eles tenham esta ou aquela formação técnica, pois sem desenvolvimento moral nenhuma competência técnica irá resolver os problemas humanos.

Finalmente, escola e família devem se unir, se dar as mãos no esforço educacional das novas gerações. Então, paulatinamente, veremos uma real transformação dos indivíduos, que, moralizados, irão estabelecer numa nova sociedade, mais justa, menos violenta, com respeito aos direitos de cada um, mais solidária e, acima de tudo, mais ética.

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