No início da república, uma escola democrática

Poucos anos após o fim da monarquia e o início da república na nação brasileira, surgiu em pequeno município das terras mineiras uma escola, mais precisamente em Sacramento, no ano de 1907, que revolucionou o ensino e bem poderia ter sido classificada como uma escola nova, movimento educacional que pulsava na Europa e nos Estados Unidos, propondo uma nova filosofia educacional, novos procedimentos pedagógicos e uma nova metodologia de ensino.

Nas terras europeias iriam se destacar Ferrieri, Freinet, Montessori e outros, e nas terras americanas do norte iria se destacar Dewey, mas esses nomes, suas pesquisas, seus trabalhos e suas escolas somente chegariam ao Brasil a partir de 1920, tempos depois da inauguração do Colégio Allan Kardec pelo educador Eurípedes Barsanulfo, na pequena Sacramento, distante desses centros culturais.

Ao olharmos para a escola sacramentana percebemos nitidamente que ela utilizava a metodologia pestalozziana, desenvolvida por João Henrique Pestalozzi no Instituto de Yverdon, na Suíça, entre os anos de 1804/05 a 1824/25, um século antes, embora não existam documentos que atestem ter Eurípedes Barsanulfo conhecido ou estudado a obra do mestre suíço.

Em sua proposta pedagógica o Colégio Allan Kardec propunha:

Respeitar a liberdade e a individualidade da criança, que precisa agir para aprender, numa ação livre acompanhada pelo amor do educador.

O educador deve se empenhar em incentivar e cultivar o lado bom do educando, com atenção, diálogo e observação.

A educação deve buscar o desenvolvimento da inteligência, no cultivo da bondade, na preparação do ser físico, intelectual e moral de forma equilibrada.

A escola deve ser uma grande família, uma extensão do lar dos educadores e educandos.

A educação deve começar na infância, formando indivíduos com novas consciências e posturas éticas.

O professor não pode ser autoritário, nem dono do saber.

Para cumprir essa proposta pedagógica bem diferente do que se pensava e fazia na educação brasileira daqueles tempo, Eurípedes implantou uma metodologia que funcionava com a interação de todos os agentes educacionais:

Os alunos participavam ativamente de ações sociais para desenvolvimento da solidariedade.

Os alunos podiam perguntar e escolher o que queriam estudar.

Não se fazia memorização de conteúdos, apelando-se para o uso ativo da racionalidade, do estudo da natureza, das investigações, discussões, conclusões e reflexão crítica.

Não existiam provas, exames, prêmios ou castigos.

Os alunos mais desenvolvidos auxiliavam os outros.

As turmas eram mistas, mesclando meninos e meninas.

A escola mantinha a liberdade, autonomia, diálogo e afeto, e as aulas tinham duração de tempo variável, dependendo do conteúdo estudado e das atividades desenvolvidas.

O Colégio Allan Kardec, lá nos idos de 1907, hoje seria considerado uma escola inovadora, uma comunidade de aprendizagem, graças ao pioneirismo de Eurípedes Barsanulfo, um educador que precisa ser resgatado pela história da educação brasileira. 

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