Fazer diferente num sistema fechado
Como utilizar novas metodologias se o sistema de ensino exige que façamos isso ou aquilo de acordo com as normas e diretrizes emanadas dos órgãos responsáveis pelo educação?
Essa pergunta é recorrente entre os professores quando apresentamos o projeto Escola do Sentimento e mostramos escolas que fazem diferente, classificadas como escolas inovadoras.
É verdade que o sistema exige provas avaliativas, notas classificatórias, organização escolar por idade e séries, entre outras coisas, mas nada disso impede que o professor faça a diferença e transforme sua prática pedagógica na escola, bastando saber, ao final, traduzir o desenvolvimento cognitivo, emocional e atitudinal do aluno no histórico escolar exigido pelas normas da secretaria de educação, as normas do sistema vigente.
Muitos professores e pedagogos não sabem que Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional permite a autonomia administrativa e pedagógica da escola, e que sua organização pode ter diversas organizações. Isso está muito claro, com todas as letras, no artigo 23:
A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se tratar de transferências entre estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais.
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei.
Está bem claro: organização em séries anuais, ou por períodos, ou ciclos, ou por grupos não seriados, ou por forma diversa de organização, obedecendo o que recomenda o processo de aprendizagem.
Quem foi que disse que toda escola tem que obedecer a seriação por idade? Quem foi que disse que todo professor tem que dar aula? Quem foi que disse que a avaliação tem que ser feita por provas e notas? Onde essas coisas estão escritas na lei que rege a educação brasileira?
É muito cômodo formatar o sistema numa determinada maneira, pois isso facilita a fiscalização e a aplicação de normas gerais, mas, em compensação, a formatação atropela o processo educacional, não leva em conta a individualidade única de cada professor e de cada aluno, engessando o sistema e trazendo resultados duvidosos quanto à sua qualidade.
O professor pode e deve fazer diferente para fazer a diferença. Se o sistema exige que seu trabalho seja transcrito em históricos escolares com médias avaliativas, que seja, embora não compactuemos com isso, pois nenhuma quantificação pode transcrever a qualificação, mas que isso não o impeça de mudar a metodologia e fazer uma escola humanizada, integrada com a família e a comunidade, dinâmica, participativa, onde o processo de aprendizagem dará autonomia e respeitará o ritmo de cada aluno.
O sistema pode ser fechado, formatado, mas é com força de vontade e ações pedagógicas de qualidade que poderemos transformá-lo.
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