Deixe cair a ficha
Muitos educadores querem transformar a escola tendo como referencial o projeto Escola do Sentimento, mas sem abrir mão da seriação, das provas, das notas, das turmas por idade, da atividade de recuperação, da reprovação, da aula. É impossível. Numa escola inovadora não temos aula, séries por idade, currículo fechado, provas, notas, recuperação, aprovação automática. Tudo é diferente, o trabalho é feito por ciclos, interatividade, autonomia dos alunos, professores que são orientadores, avaliação contínua e progressiva. Não existe semana de provas, notas bimestrais, nem carteiras enfileiradas em salas de aula.
Para que a escola seja diferente os professores precisam fazer diferente. Esse óbvio ainda não foi entendido pela maioria, ou seja, como se diz popularmente, ainda “não caiu a ficha”, os professores não se deram conta dessa necessidade, que não podem querer implantar uma metodologia inovadora mantendo uma escola que em tudo é tradicional, convencional.
Mas como fazer diferente? Como implantar uma metodologia tão revolucionária? Como isso é possível?
A primeira questão a ser entendida é que o projeto Escola do Sentimento, que é um projeto de escola inovadora, não é simplesmente um projeto metodológico, é um projeto filosófico, pedagógico, com base em princípios e valores que vão reger a nova metodologia centrada na aprendizagem e no desenvolvimento integral da pessoa do educando. Aliás, educadores e educandos aprendem juntos o tempo todo.
Ao querer mudar a metodologia escolar sem levar em conta o entendimento do projeto pedagógico, o trabalho tende a fracassar. Fica como aquele atleta que dá tudo de si no início da prova e perde o fôlego para sustentar a mesma, ficando longe do pódio. A questão não está em substituir atividades, mas em compreender a nova visão pedagógica do ser, da vida e da educação, e o novo fazer escolar que daí se desdobra.
O professor, antes, deverá discutir a si mesmo, seu papel, sua função, que na verdade não é de dar aula, aplicar provas e avaliar por notas. Ele deverá ser um orientador e facilitador das aprendizagens realizadas pelos alunos, E deverá ser humanizado, afetivo, pois o projeto Escola do Sentimento prevê uma escola que seja uma grande família.
Nessa discussão naturalmente surgirá uma nova compreensão sobre a educação, hoje considerada tão somente um processo de instrução ou transmissão de conhecimentos, daí porque tantos desvios sociais, pois não estamos focando na formação do ser humano para a vida.
Já deu para perceber que a transformação da escola é um processo que não se faz da noite para o dia, ou do dia para a noite, requerendo tempo. Primeiro a mudança das mentalidades, dos pensamentos e posturas, depois a mudança da metodologia, que será implementada pouco a pouco, envolvendo professores, alunos, pais, responsáveis e agentes comunitários.
É possível? Sim, perfeitamente possível. Veja-se o exemplo da Ponte, escola portuguesa conhecida internacionalmente como escola inovadora. Vamos olhar o Conhecer, escola brasileira em Minas Gerais. Temos igualmente a Amorim Lima, escola pública da cidade de São Paulo, um verdadeiro oásis no meio do deserto escolar. São apenas três exemplos, mas muito significativos, pedagogicamente ricos.
Professor, deixe cair a ficha! Você pode fazer diferente. A escola pode fazer diferente. A sociedade precisa que a educação seja diferente!
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