O equívoco de mãos dadas com a irresponsabilidade

Todos os anos ouvimos sempre a mesma expressão: Volta às aulas! Governadores, prefeitos e secretários de educação pensam equivocadamente que educação é sinônimo de retorno anual das aulas nas escolas. E os pedagogos também! Em tempos de pandemia e ensino online, transformaram a educação a distância em novo caminho para volta às aulas, e não poderia ser diferente, pois os professores sabem fazer uma única coisa na escola: dar aula!

A aula, um anacronismo sem tamanho, que ninguém sabe dizer porque possui cinquenta minutos de duração, é uma aberração instrucional, um faz de conta educacional, responsável pela falta de ética das pessoas, pelo uso indevido da liberdade, e pela baixa cultura dos indivíduos, que, por não saberem para que servem todos aqueles conteúdos que são obrigados a engolir e memorizar, logo se livram deles na primeira oportunidade, ou seja, logo após as provas e as notas que garantem passar de ano e conseguir o famigerado certificado de conclusão de curso.

Há décadas estamos nesse sistema, infantilizando as gerações e mantendo a ignorância e a corrupção, assistindo males sem conta invadirem nossa sociedade, e com transferência absoluta de responsabilidades: ninguém é culpado pelo sistema de ensino falido e pelo caos social.

Propor ao professor que faça roda de conversa com os alunos é como se estivéssemos sendo indecorosos e desrespeitosos para com ele. Dizer ao professor que permita que os alunos façam pesquisas em grupo e perguntas para tirar dúvidas, parece significar um absurdo pedagógico, quando na verdade é uma prática pedagógica saudável. Dizer ao professor que utilize o ensino online com fóruns interativos e debates em videoconferência, é ouvir um sonoro não sei fazer isso! Ou isso dá muito trabalho!

Ora, mais trabalho que elaborar e corrigir provas inúteis, que nada avaliam, não existe. Mas os professores, formatados em ensinar, instruir e obedecer burocracias, já não sabem pensar, ou pelo menos têm muita dificuldade, com medo de perder o emprego. É mais cômodo ficar na zona de conforto e arranjar uma licença médica.

Ensinar e instruir mantém os alunos sem aprender a pensar, sem aprender a se colocar no lugar do outro (como faz falta a empatia!), sem aprender a assumir responsabilidades, reforçando o individualismo egoísta que assistimos diariamente em todos os lugares e circunstâncias.

Já dizia e indagava o Lauro de Oliveira Lima, lá em 1960:

O que os jovens precisam é aprender a solucionar, a criticar, a escolher o que é válido e autêntico na multiplicidade de informes fornecidos pelos meios de comunicação modernos. Mas, onde encontrar mestres para dirigir uma escola crítica?

E o Lauro, quando isso escreveu, nem sonhava com a existência da internet e suas ferramentas de pesquisa, redes sociais, aplicativos e tantas outras coisas que agora temos, numa multiplicidade sem fim de informações.

Entretanto, no horizonte desponta uma escola crítica, com professores criativos e alunos participativos. Ela já existiu na primeira metade do século vinte: as Escola Novas, abafadas pelo conservadorismo e pela pecha de serem escolas experimentais, quando na verdade eram escolas com propostas pedagógicas diferentes e de muito bom resultado.

Hoje temos o movimento das Escolas Inovadoras. O futuro dirá dessa luta em substituir o instruir pelo educar, o ensinar pelo aprender.

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