terça-feira, 29 de março de 2022

A empatia e o conhecimento

O que é mais importante aprender na escola: a empatia ou o conhecimento?

Ambas são importantes, mas a pergunta refere-se ao que é mais importante, qual deve ser a prioridade. E não temos dúvida em responder: mais importante, mais essencial, é a empatia.

Empatia significa aprender a sentir o outro e a se colocar no lugar dele, portanto, tem a ver com a área sentimento, com o pensar no coletivo e não apenas no individual. Ora, o que mais temos visto em nossa sociedade são pessoas que pensam primeiro nelas mesmas, seus próprios interesses, para depois pensar nos outros, nos impactos que suas ações estabelecem no relacionamento social.

A aquisição dos conhecimentos faz parte do trabalho da escola, mas ficando apenas nisso, como transmissora de saberes técnicos, científicos, culturais, a escola não estará cumprindo plenamente sua finalidade.

Como formar cidadãos conscientes sem desenvolver o potencial emocional da criança e do jovem? Temos visto pessoas intelectualizadas, ou seja, com muitos conhecimentos e vários cursos superiores em renomadas universidades, e que são egoístas, hipócritas, vaidosas, violentas, corruptas, mantendo a injustiça social.

A escola, nesse trabalho de aliar a aquisição de conhecimentos com a formação moral, deve realizar seus esforços em conjunto com a família, a outra instituição social de educação do ser humano. Não podemos mais conceber a separação entre a escola e a família, pois essa separação já acarretou muitos males para a sociedade humana.

Saber se colocar no lugar do outro; saber respeitar os direitos do outro; saber ser solidário para com o outro; saber cooperar no bem comum; saber pensar antes de agir. São aprendizados que família e escola devem trabalhar incessantemente, para que os conhecimentos e a formação técnica não sejam causas de mais males.

Podemos afirmar, sem nenhuma dúvida, que aos seres humanos está faltando sentimento, e essa falta está relacionada ao descaso em que relegamos a educação.

As instâncias governamentais da educação são disputadas acirradamente por partidos políticos, não porque estejam preocupados com a área mais importantes de qualquer governo, mas motivados pelo poder sobre as vultosas verbas dessas instâncias a nível municipal, estadual e federal. Prevalecem os interesses outros na manipulação dessas verbas, que nem sempre, de fato, são utilizadas para melhorar a educação e manter bons projetos pedagógicos.

Assistimos homens e mulheres sem empatia, sem solidariedade, sem humildade desviarem verbas, interromperem projetos e se autopromoverem, à custa de escolas sucateadas, professores mal remunerados, alunos desmotivados.

É por tudo isso que declaramos que desenvolver a empatia é muito mais importante do que desenvolver conhecimentos.

Ou será que estamos tão acomodados e acostumados com a violência, a corrupção, a injustiça e outros males, que já consideramos tudo isso normal, e que nem a educação pode dar jeito? Se chegamos a isso, é a decretação da falência da civilização humana.

De nossa parte, continuamos a acreditar que a educação continua a ser o caminho para renovação das esperanças humanas, entendendo que que aqui falamos da educação que é essencialmente formadora do caráter do ser humano.

segunda-feira, 21 de março de 2022

Empoderamento e ética

Preconceitos e discriminações de toda ordem devem ser combatidos por todos, por incompatíveis com a realidade de sermos no mundo uma única raça: seres humanos. E não importa a cor da pele, o gênero, a religião, a cultura e demais condições que nos caracterizam individualmente. Nada disso altera o fato de sermos seres humanos e, portanto, termos que nos respeitar e considerar que os direitos são iguais para todos.

Assistimos pela televisão o campeonato mundial de atletismo e, além das provas bem disputadas e dos recordes alcançados, chamou-nos a atenção as comemorações dos atletas e suas confraternizações diante do público. Em dado momento uma equipe feminina negra ganhou uma prova. Eram quatro atletas. O segundo e terceiro lugares ficaram com duas equipes de países europeus, com atletas brancas. Na comemoração as europeias se confraternizaram, mas deixaram de lado as atletas negras (que não eram da África), que fizeram sua comemoração sozinhas, sendo apenas brevemente cumprimentadas de forma protocolar pelas demais.

Em tempos de luta pela igualdade de gênero, de empoderamento feminino, a cena nos chamou a atenção para uma séria reflexão.

É claro que somos a favor dos direitos iguais entre homens, mulheres e transgêneros, afinal somos todos seres humanos, mas a questão chave, essencial, parece não estar exatamente nisso, e sim na ética, que anda tão esquecida, perdida entre outros interesses imediatos que caracterizam o existir humano.

Que adianta substituir, por exemplo, os homens pelas mulheres na governança das nações, se as mulheres não forem mais éticas e honestas do que os homens? Se não forem menos preconceituosas que eles? Se não tiverem maior pensamento para o bem da coletividade? Seria trocar seis por meia dúzia, como sabiamente afirma o ditado popular.

Não estou dizendo que não deva existir o empoderamento feminino, nem que a comunidade LGBTQIA+ não tenha os mesmos direitos. Repito: somos todos seres humanos, os direitos são iguais. Estou chamando a atenção para um tema pouco abordado nas discussões a respeito: a ética do viver, do respeito à vida.

No exemplo que trouxe sobre as atletas no campeonato mundial, os protagonistas eram mulheres. Mostraram-se preconceituosas e discriminatórias. Alguma diferença para com muitos homens que hoje criticamos?

A questão não está se temos à frente um homem, uma mulher ou uma pessoa transgênero. A questão está na ética dessa pessoa, na sua visão sobre a vida e os outros seres humanos.

Quando Nelson Mandela venceu as eleições na África do Sul após o apartheid, a população branca ficou preocupada com a revanche que a população negra faria, depois de tantos anos de sofrimento pela discriminação racial. Mandela, que era negro, imediatamente solicitou paz e concórdia, união e reconstrução, e que o passado ficasse no passado, pois o que os negros sempre condenaram, não poderiam agora fazer, pois se condenariam a ser igualmente preconceituosos, discriminatórios, racistas e violentos, como os brancos haviam sido com eles.

A melhora do país não estava na questão de eleger um presidente negro, mas eleger uma pessoa ética, como era Nelson Mandela.

Eis o cerne da questão. Combatamos a discriminação, mas também nos eduquemos, e as novas gerações, para a ética e a solidariedade, esse é o caminho para uma Humanidade melhor.

segunda-feira, 14 de março de 2022

A qualidade da educação diminui a violência

Pesquisa realizada pelo Insper mostra que melhorar a educação reduz os índices de violência e homicídios, e está associada a maiores chances de obter emprego por parte dos jovens.

É mais uma pesquisa na contramão dos que consideram que somente mais segurança pública e armamento da população podem resolver os gravíssimos problemas da violência em nosso país.

Sempre afirmamos que a solução dos problemas sociais passa pela educação. A sociedade humana, não apenas a brasileira, está muito doente. O espírito materialista e egoísta sufocou o espírito filosófico e espiritual, levando as escolas, com raras e honrosas exceções, a serem depósitos da nova geração, fazendo com que acumulem toneladas de lixo intelectual, sem a correspondente formação moral.

Não há mais respeito pela vida. Justificam-se guerras, quando toda guerra é injustificável, pois representam a ganância do poder de indivíduos egoístas, insensíveis, indiferentes à coletividade, e normalmente despóticos, que utilizam o discurso da liberdade para, na verdade, sufocá-la aos seus interesses e dos grupos minoritários que representam.

Militarizar as escolas, armar a população, permitir que agentes da segurança pública possam ser justificados pela truculência, colocar a justiça no pódio em lugar da paz, são aberrações da sociedade humana doente, que assim está porque os indivíduos que a constituem estão doentes, mas é uma doença não perceptível pelos exames médicos, pois trata-se de doença da alma: egoísmo e orgulho, derivando dessas duas causas os sintomas da vaidade, da hipocrisia, da indiferença, da insensibilidade.

A educação de hoje, por mais tecnológica que esteja, não faz pensar, não ensina as crianças e jovens a sentir e se colocar no lugar do outro. A nova geração sabe muitas coisas, mas não sabe respeitar os direitos humanos do outro, e isso já é uma grande violência.

O Insper mostra que ensino de qualidade é primordial. Mas, o que é ensino de qualidade? Não seria melhor a referência ser educação de qualidade?

Educar é uma arte que exige sensibilidade e doação, amor e trabalho contínuo. Essa arte só é plena quando prioriza a formação do ser para o ser e para a vida, trabalhando o desenvolvimento do pensar no outro, de conviver e interagir com o outro na construção de relacionamentos sadios e éticos, ou seja, a educação verdadeira é aquela que realiza a formação do caráter, que leva o educando, de qualquer faixa etária, a elaborar, compreender e interiorizar virtudes, pois somente assim ele exteriorizará o que é bom para ele e para o outro.

Precisamos, na educação, de sentimento. Precisamos, na escola, de amor. Precisamos, na família, de bons exemplos. Precisamos, das autoridades públicas e empreendedores, de projetos pedagógicos que fomentem a educação moral do ser humano. Então veremos a violência ser página virada na história da humanidade.


A solução da violência nas escolas - que é de médio e longo prazo - só acontecerá quando formos na causa. Enquanto considerarmos que a educação é questão de segurança pública, e não de formação das consciências, continuaremos a assistir esse doloroso quadro.

Precisamos com urgência rever nossos valores na educação e também o que estamos fazendo no sistema de ensino. A escola é lugar do amor e não da polícia.

segunda-feira, 7 de março de 2022

Ecos da pandemia

Com o pleno retorno das escolas às suas atividades presenciais, instrumentos de avaliação da aprendizagem puderam ser acionados, mesmo porque é preciso saber como estão os alunos depois de uma ano e meio de escolas fechadas, trabalhando apenas online, com o ensino remoto através da internet. E os primeiros resultados são alarmantes, como já se suspeitava.

A defasagem no aprendizagem, considerando apenas matemática e língua portuguesa, está em patamares nunca antes vistos.

No estado de São Paulo, o aluno da 3ª série do ensino médio está com adequação em matemática de um aluno da 7ª série do ensino fundamental. E o secretário enfatizou: o que “já era ruim, ficou pior”.

As escolas têm pela frente um grande desafio: recuperar a aprendizagem dos alunos. É uma boa oportunidade para dinamizar o ensino, para criar caminhos diferentes, permitindo aos alunos maior participação. Será que isso vai acontecer?

Pelo que estamos vendo a partir do discurso de secretários de educação, o chamado reforço escolar vai utilizar preferencialmente a velha fórmula, a velha estratégia: aulas e mais aulas sobre os alunos, com avaliações feitas através de testes e provas, pois o que interessa é que as crianças e os jovens saibam o conteúdo das matérias (disciplinas).

Quando os educadores vão entender que é mais importante o estudante saber pensar e refletir, do que memorizar conteúdos?

Politicamente não há interesse em levar o aluno a ter autonomia e criticidade, a saber lutar por seus direitos e a ter consciência do respeito aos direitos do outro. E muito menos há interesse em se trabalhar a ética e a solidariedade, o desenvolvimento atitudinal e comportamental.

Quanto menos os adultos souberem pensar por si mesmos, e quanto menos aprenderem a se colocar no lugar do outro, melhor, pois assim serão influenciáveis pelo que as elites querem, assim podendo se perpetuar no poder, apesar de todos os escândalos que protagonizam.

Se já estava ruim, apenas ficou pior. E apesar dessa constatação, que tudo continue como sempre foi, nada de transformar a escola, de repensar a educação. Que os professores continuem dando aula!

Afinal, a escola sempre trabalhou por seriação. As carteiras sempre estiveram enfileiradas umas atrás das outras. O professor sempre deu aula. Os alunos sempre copiaram as lições e fizeram os exercícios apontados pelo professor. As aulas sempre tiveram cinquenta minutos, embora ninguém saiba explicar porque.

Agora, que adianta ensinar coisas que os alunos encontram facilmente na internet?

Fazer diferente é o grande desafio. Sair da crise da pandemia com uma nova concepção da educação e um novo olhar pedagógico sobre a escola é o chamado que pedagogos e professores precisam ouvir, mesmo tendo que enfrentar o sistema, pois não é possível continuar a repetir o mesmo de sempre, com os resultados de sempre.

Por que não trabalhar através de alunos formando grupos de estudo e trabalho, desenvolvendo projetos, realizando oficinas, desafiados por missões e debatendo as questões da vida para encontrar soluções? Por que não permitir que discutam a própria escola em assembleias, formem grupos de responsabilidade, interajam com a comunidade?

Bem gostaríamos de ver esses ecos da pandemia entusiasmando os educadores do nosso Brasil, para colocar a educação na prioridade número um dos nossos governantes.


Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...