Empoderamento e ética

Preconceitos e discriminações de toda ordem devem ser combatidos por todos, por incompatíveis com a realidade de sermos no mundo uma única raça: seres humanos. E não importa a cor da pele, o gênero, a religião, a cultura e demais condições que nos caracterizam individualmente. Nada disso altera o fato de sermos seres humanos e, portanto, termos que nos respeitar e considerar que os direitos são iguais para todos.

Assistimos pela televisão o campeonato mundial de atletismo e, além das provas bem disputadas e dos recordes alcançados, chamou-nos a atenção as comemorações dos atletas e suas confraternizações diante do público. Em dado momento uma equipe feminina negra ganhou uma prova. Eram quatro atletas. O segundo e terceiro lugares ficaram com duas equipes de países europeus, com atletas brancas. Na comemoração as europeias se confraternizaram, mas deixaram de lado as atletas negras (que não eram da África), que fizeram sua comemoração sozinhas, sendo apenas brevemente cumprimentadas de forma protocolar pelas demais.

Em tempos de luta pela igualdade de gênero, de empoderamento feminino, a cena nos chamou a atenção para uma séria reflexão.

É claro que somos a favor dos direitos iguais entre homens, mulheres e transgêneros, afinal somos todos seres humanos, mas a questão chave, essencial, parece não estar exatamente nisso, e sim na ética, que anda tão esquecida, perdida entre outros interesses imediatos que caracterizam o existir humano.

Que adianta substituir, por exemplo, os homens pelas mulheres na governança das nações, se as mulheres não forem mais éticas e honestas do que os homens? Se não forem menos preconceituosas que eles? Se não tiverem maior pensamento para o bem da coletividade? Seria trocar seis por meia dúzia, como sabiamente afirma o ditado popular.

Não estou dizendo que não deva existir o empoderamento feminino, nem que a comunidade LGBTQIA+ não tenha os mesmos direitos. Repito: somos todos seres humanos, os direitos são iguais. Estou chamando a atenção para um tema pouco abordado nas discussões a respeito: a ética do viver, do respeito à vida.

No exemplo que trouxe sobre as atletas no campeonato mundial, os protagonistas eram mulheres. Mostraram-se preconceituosas e discriminatórias. Alguma diferença para com muitos homens que hoje criticamos?

A questão não está se temos à frente um homem, uma mulher ou uma pessoa transgênero. A questão está na ética dessa pessoa, na sua visão sobre a vida e os outros seres humanos.

Quando Nelson Mandela venceu as eleições na África do Sul após o apartheid, a população branca ficou preocupada com a revanche que a população negra faria, depois de tantos anos de sofrimento pela discriminação racial. Mandela, que era negro, imediatamente solicitou paz e concórdia, união e reconstrução, e que o passado ficasse no passado, pois o que os negros sempre condenaram, não poderiam agora fazer, pois se condenariam a ser igualmente preconceituosos, discriminatórios, racistas e violentos, como os brancos haviam sido com eles.

A melhora do país não estava na questão de eleger um presidente negro, mas eleger uma pessoa ética, como era Nelson Mandela.

Eis o cerne da questão. Combatamos a discriminação, mas também nos eduquemos, e as novas gerações, para a ética e a solidariedade, esse é o caminho para uma Humanidade melhor.

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