Ecos da pandemia

Com o pleno retorno das escolas às suas atividades presenciais, instrumentos de avaliação da aprendizagem puderam ser acionados, mesmo porque é preciso saber como estão os alunos depois de uma ano e meio de escolas fechadas, trabalhando apenas online, com o ensino remoto através da internet. E os primeiros resultados são alarmantes, como já se suspeitava.

A defasagem no aprendizagem, considerando apenas matemática e língua portuguesa, está em patamares nunca antes vistos.

No estado de São Paulo, o aluno da 3ª série do ensino médio está com adequação em matemática de um aluno da 7ª série do ensino fundamental. E o secretário enfatizou: o que “já era ruim, ficou pior”.

As escolas têm pela frente um grande desafio: recuperar a aprendizagem dos alunos. É uma boa oportunidade para dinamizar o ensino, para criar caminhos diferentes, permitindo aos alunos maior participação. Será que isso vai acontecer?

Pelo que estamos vendo a partir do discurso de secretários de educação, o chamado reforço escolar vai utilizar preferencialmente a velha fórmula, a velha estratégia: aulas e mais aulas sobre os alunos, com avaliações feitas através de testes e provas, pois o que interessa é que as crianças e os jovens saibam o conteúdo das matérias (disciplinas).

Quando os educadores vão entender que é mais importante o estudante saber pensar e refletir, do que memorizar conteúdos?

Politicamente não há interesse em levar o aluno a ter autonomia e criticidade, a saber lutar por seus direitos e a ter consciência do respeito aos direitos do outro. E muito menos há interesse em se trabalhar a ética e a solidariedade, o desenvolvimento atitudinal e comportamental.

Quanto menos os adultos souberem pensar por si mesmos, e quanto menos aprenderem a se colocar no lugar do outro, melhor, pois assim serão influenciáveis pelo que as elites querem, assim podendo se perpetuar no poder, apesar de todos os escândalos que protagonizam.

Se já estava ruim, apenas ficou pior. E apesar dessa constatação, que tudo continue como sempre foi, nada de transformar a escola, de repensar a educação. Que os professores continuem dando aula!

Afinal, a escola sempre trabalhou por seriação. As carteiras sempre estiveram enfileiradas umas atrás das outras. O professor sempre deu aula. Os alunos sempre copiaram as lições e fizeram os exercícios apontados pelo professor. As aulas sempre tiveram cinquenta minutos, embora ninguém saiba explicar porque.

Agora, que adianta ensinar coisas que os alunos encontram facilmente na internet?

Fazer diferente é o grande desafio. Sair da crise da pandemia com uma nova concepção da educação e um novo olhar pedagógico sobre a escola é o chamado que pedagogos e professores precisam ouvir, mesmo tendo que enfrentar o sistema, pois não é possível continuar a repetir o mesmo de sempre, com os resultados de sempre.

Por que não trabalhar através de alunos formando grupos de estudo e trabalho, desenvolvendo projetos, realizando oficinas, desafiados por missões e debatendo as questões da vida para encontrar soluções? Por que não permitir que discutam a própria escola em assembleias, formem grupos de responsabilidade, interajam com a comunidade?

Bem gostaríamos de ver esses ecos da pandemia entusiasmando os educadores do nosso Brasil, para colocar a educação na prioridade número um dos nossos governantes.


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