segunda-feira, 25 de abril de 2022

A arte de educar para o bem

Em sua sabedoria profunda, afirmava o filósofo Platão (427 a.C – 347 a.C.) que a educação é o único valor que se pode levar para toda a vida. E ao mesmo tempo advertia que a educação somente existe verdadeiramente quando o ser humano consegue se libertar das ilusões das percepções meramente sensoriais, avançando pelo caminho do bem, sendo a educação a arte de converter a alma humana para o bem.

Nos tempos atuais de muita tecnologia, vida agitada, ideologias as mais diversas, o pensamento de Platão parece muito distante da realidade, tanto da família quanto da escola. Na prática, não temos no ambiente escolar essa arte de converter a alma humana para o bem, mesmo porque não há espaço no currículo e nas burocracias para esse intento.

Mesmo olhando para a família, que muitos teóricos da educação afirmam ser única responsável pela formação moral das crianças (será?), não vemos, em sua grande maioria, essa preocupação ser validada por elementos práticos, concretos, prevalecendo as questões da sobrevivência econômica, formação técnico-profissional, consumismo e outras, que não permitem espaço para a formação ética dos filhos.

A verdade é que se tivéssemos dado ouvidos a Platão, estaríamos vivendo bem melhor. Lembremos que ele trabalhou pela arte de educar para o bem em passado remoto que dista por volta de dois mil e trezentos anos do hoje, portanto, podemos vislumbrar mentalmente como a Humanidade estaria nos dias atuais se em todo esse tempo tivéssemos trabalhado a educação das novas gerações conforme sua proposta.

Teimamos em não colocar a educação como prioridade, e ainda mais teimosos somos quando descaracterizamos a educação para torná-la apenas instrução. Isso tem levado a assistirmos ao longo da história inúmeros personagens intelectualizados, detentores de conhecimentos, ao mesmo tempo egoístas, orgulhosos, indiferentes, fazendo o mal para a coletividade.

Projetos de combate à corrupção, violência, miséria, pedofilia, feminicídio, tráfico de drogas e outros males sociais são inócuos se não estiverem atrelados à educação moral do ser humano. Podemos gastar quanto dinheiro quisermos, aparelhar tecnologicamente os órgãos de fiscalização, acionarmos as entidades de segurança pública, e tudo isso será apenas enganação, enxugamento de gelo, pois a raiz do mal continuará intocável: a falta de educação como arte de levar o ser humano para o bem, para pensar no outro, para ser ético e solidário.

Naturalmente, para aplicarmos o pensamento de Platão, temos que repensar a educação, a família e a escola. Sem esse repensar não há reforma possível, até porque quase todas as propostas apresentadas até o momento de reforma da educação não passaram de fachada, ficando na periferia curricular e metodológica do ensino, isso quando não foram formuladas para destruir ainda mais a educação, face a interesses escusos dos governantes.

O leitor pode não concordar com Platão e, claro, comigo, mas é fato que o filósofo grego, discípulo de outro filósofo não menos famoso, Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.), é estudado intensamente até os tempos atuais, tendo transformado a antiga civilização grega, e sendo considerado um dos mais importantes pensadores de todos os tempos.

Diante disso, parece-nos que precisamos meditar com mais profundidade sobre o pensamento educacional de Platão, se, de fato, queremos algo melhor para a Humanidade, tanto hoje quanto amanhã.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Em uma roda de conversa

No ensejo de uma festa familiar, vários assuntos vieram às considerações de um grupo que se formou, transformando a mesa num encontro ao mesmo tempo político, filosófico e científico. Participamos das conversações. Como era natural de se esperar, a conversa teve início sobre os problemas econômico-financeiros que atingem a nos brasileiros, diante da alta da inflação e dos preços ao consumidor. Depois de várias considerações, surgiram críticas ao governo, e logo tivemos os que defendem o governo. Um bom tempo foi gasto em prós e contras. E assim outros temas foram abordados. Uma característica esteve presente em todas as discussões: os outros, e em especial as autoridades públicas e os grandes empresários, são sempre os culpados.

Depois de mais de uma hora de debates, e tendo que voltar a atenção para o aniversariante e sua festa, o tema educação não foi debatido, aliás sequer foi lembrado. Economia, inflação, desemprego, governo, violência, corrupção, segurança e outros temas surgiram e receberam comentários, mas ninguém falou da educação, nem mesmo como solução para os problemas apresentados.

Que adianta debater os problemas que nos afligem na sociedade, se não procuramos as soluções?

Aventurei-me a fazer um comentário sobre a necessidade da formação moral nossa e das novas gerações como solução para todos os problemas, ou seja, que o caminho, mesmo que de médio e longo prazo, é a educação. Alguns concordaram com monossílabos, outros silenciaram, sem qualquer comentário, e logo novo assunto surgiu, agora levando a conversa para amenidades como o futebol.

Em outra ocasião, tendo uma professora entre os que estavam conversando, ouvi dela a seguinte expressão:

Fala sério, professor, já não chega eu trabalhar a semana toda na escola, e o senhor vem falar aqui de educação? Só quero ouvir falar disso na segunda-feira, quando voltar para a escola!”

Bem, se nem a professora quer saber de conversar sobre educação…

Lembro o querido amigo Ronaldo, professor universitário, que de sua experiência no ensino superior comenta:

Na universidade temos entre os professores verdadeira fogueira das vaidades. Você precisa saber o que fala e com quem fala. É um querendo ser mais do que o outro. E se o colega tem mais títulos acadêmicos do que você, ele estará sempre com a razão, mesmo que sua razão seja irracional.”

Na terra em que Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Paulo Freire e outros grandes educadores são execrados publicamente, e em que escolas não têm água potável, luz elétrica, banheiro, já se vê que educação não é tema prioritário.

Pode-se argumentar que as pessoas eram leigas, mas esse argumento é muito frágil diante de um auditório formado por professores e pedagogos, em evento educacional, e que têm o mesmo comportamento. E quantas vezes já presenciei isso!

Não é por outro motivo que o José Pacheco me disse:

Amigo Marcus, não faço mais palestras. Já percorri o Brasil de ponta a ponta, durante anos, e praticamente não colhi frutos. Quase nenhum projeto tenho para apresentar que tenha colocado em prática meus dizeres. Agora vou tentar eu mesmo fazer.”

Que ele tenha sucesso, pois estamos precisando muito que a educação faça luz em nossas mentes e em nossos corações.

Escola sem inovação é escola chata

 


segunda-feira, 11 de abril de 2022

A questão essencial

Em nossos dias, em nome dos direitos iguais, e não temos nenhuma dúvida que os direitos são iguais para todos os seres humanos, vários movimentos articulam para que tenhamos, por exemplo, mais mulheres na política; mais pessoas negras na universidade, e assim por diante. Tudo isso é muito meritório e tem nosso apoio. Direitos iguais são direitos iguais, e não há discussão possível sobre isso.

O que abordamos neste texto é o que consideramos seja a questão essencial, fundamental: o caráter das pessoas. Podemos ter um presidente da república negro e, mais ainda, uma mulher negra, mas isso não significa necessariamente que tenhamos então um governo melhor. Essa pessoa, exercendo seu direito, é uma pessoa honesta, de bom caráter e de pensamento para o bem estar coletivo? Isso é essencial, e não a sua cor de pele ou sua opção sexual, ou qualquer outra coisa que não esteja ligada à questão moral.

Debater a questão moral, ou de moralidade e ética, nem sempre está presente nas considerações dos comentaristas políticos, dos jornalistas e das autoridades públicas, e muito menos presente nas considerações dos pedagogos e professores, que parecem ter medo, receio ou mesmo ojeriza do tema, preferindo ficar na superfície das discussões metodológicas e das práticas educativas.

Talentos técnicos nem sempre carregam consigo visão ética da vida. Acúmulo de conhecimentos e vasta experiência profissional nem sempre revelam bom caráter. Corpo bonito, sadio, não significa que ao mesmo tempo temos uma alma boa e solidária.

As qualidades morais da pessoa são muito mais importantes do qualquer título acadêmico, ou mesmo do que qualquer outra referência. Quando vamos despertar para essa questão essencial?

Veja-se o caso de muitos políticos e muitas autoridades governamentais. Diante de denúncias escandalosas, se defendem dizendo que tudo o que foi feito está de acordo com a lei. Pode até estar obedecendo normas legais, mas essas leis são justas? Essas leis não foram feitas para privilegiar grupos de interesse em prejuízo de muitos? E a ação, mesmo respaldada pela lei, é ética, é moral? Bem, isso não está em discussão, e caso encerrado.

A questão essencial é de educação, mas entendendo que tratamos aqui da verdadeira educação: a educação moral, ou a educação em virtudes, ou a educação ética, ou ainda a educação em valores humanos.

Se as escolas, em conjunto com a família, dedicasse, cinco horas por semana para trabalhar a essência da educação, já teríamos um grande avanço na formação das novas gerações, isso considerando um trabalho feito por uma disciplina específica, quando o ideal é que ética e solidadriedade, virtudes e não violência permeassem todo o trabalho pedagógico realizado pelos professores e pelos pais.

Não somos contra o negro, a mulher, o transsexual, o gordo, o baixo, o feio ou seja o que for que identifique o ser humano. Repetimos: todos temos os mesmos direitos. Mas, afinal, o que é mais importante? O que é fundamental? O que é essencial?

Não temos nenhuma dúvida em afirmar que o essencial, invisível aos olhos, mas patente em seu efeitos na sociedade humana, é a formação moral do ser humano.

Isso é questão educacional que não pode mais ser varrida para debaixo do tapete.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Uma flor em meio ao pântano

No caos que muitas vezes se estabelece na educação, deixando os professores atormentados em escolas abandonadas pelo poder público, também surge, apesar de todas as dificuldades, o bem exemplo de uma professora abnegada, com muito amor ao que faz. É o caso da professora Mercedes.

Toda sua vida profissional foi dedicada ao magistério público, trabalhando com as crianças do primeiro segmento do ensino fundamental, mantendo-se dedicada e criativa, apesar de muitas vezes não ter tido o apoio dos colegas ou da direção escolar. Coisas da vida, infelizmente.

Com dons artísticos naturais, a professora Mercedes desenvolveu técnicas maravilhosas de Origami, a famosa dobradura no papel, vinda do Japão para nossas terras, e soube aplicá-las na educação das crianças.

Idealizou e realizou um projeto maravilhoso, junto com os alunos, de transformar parte do pátio da escola numa mini cidade, com horta e tudo o mais, tudo feito através de dobradura em papel, assim ensinando suas crianças conceitos de cidadania, cooperativismo, preservação do meio ambiente e muito mais.

Suas colegas professoras ridicularizaram o projeto, que demandou esforço e alguns dias, pois as técnicas de dobradura tiveram que ser ensinadas pacientemente, e com a mesma paciência as dobraduras tiveram que ser refeitas várias vezes até ficarem boas, construindo casas, prédios, praças, ruas, carros e tudo o mais que uma cidade possui.

Suas colegas não podiam entender tamanho esforço e dispêndio de energia, quando é mais fácil dar aula sobre essas coisas lá na sala de aula, utilizando o quadro na parede e o livro didático.

O ridículo também atingiu ferozmente o professor Nei, criador de uma nini cidade dentro da própria escola, onde as crianças formavam a Câmara dos Vereadores, elegiam o Prefeito, e movimentavam os serviços, vivendo na prática a cidadania, preparando-se para o futuro adulto que teriam na sociedade humana. Muitos colegas professores consideraram um desperdício de verba e tempo a tal mini cidade.

Felizmente, contra todos os prognósticos, a Mercedes e o Nei, como idealistas da educação, conseguiram crescer em meio ao lodo, e perfumaram e embelezaram o pântano em que se tornou o ensino, mostrando que podemos regenerar a terra inculta e ruim, se assim o quisermos.

Nossas escolas públicas não precisam ser terra de ninguém, abandonadas ao sabor dos interesses políticos dos governantes. Nossas escolas podem e devem ser instituições sociais de educação do ser humano, reunindo pessoas que não se deixarão acomodar ao já estabelecido e às ordens que vem de cima.

Professores iguais à Mercedes e ao Nei fazem a diferença e convidam aos demais professores para seguir o caminho do ideal, do amor, da criatividade, para transformação da educação e da escola.

Quando houver união de esforços para fazer diferente, aí a educação das novas gerações fará a diferença.

Reguemos com carinho as flores em meio ao pântano, para que mais e mais suas sementes possam se espalhar e frutificar.

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...