Em uma roda de conversa
No ensejo de uma festa familiar, vários assuntos vieram às considerações de um grupo que se formou, transformando a mesa num encontro ao mesmo tempo político, filosófico e científico. Participamos das conversações. Como era natural de se esperar, a conversa teve início sobre os problemas econômico-financeiros que atingem a nos brasileiros, diante da alta da inflação e dos preços ao consumidor. Depois de várias considerações, surgiram críticas ao governo, e logo tivemos os que defendem o governo. Um bom tempo foi gasto em prós e contras. E assim outros temas foram abordados. Uma característica esteve presente em todas as discussões: os outros, e em especial as autoridades públicas e os grandes empresários, são sempre os culpados.
Depois de mais de uma hora de debates, e tendo que voltar a atenção para o aniversariante e sua festa, o tema educação não foi debatido, aliás sequer foi lembrado. Economia, inflação, desemprego, governo, violência, corrupção, segurança e outros temas surgiram e receberam comentários, mas ninguém falou da educação, nem mesmo como solução para os problemas apresentados.
Que adianta debater os problemas que nos afligem na sociedade, se não procuramos as soluções?
Aventurei-me a fazer um comentário sobre a necessidade da formação moral nossa e das novas gerações como solução para todos os problemas, ou seja, que o caminho, mesmo que de médio e longo prazo, é a educação. Alguns concordaram com monossílabos, outros silenciaram, sem qualquer comentário, e logo novo assunto surgiu, agora levando a conversa para amenidades como o futebol.
Em outra ocasião, tendo uma professora entre os que estavam conversando, ouvi dela a seguinte expressão:
“Fala sério, professor, já não chega eu trabalhar a semana toda na escola, e o senhor vem falar aqui de educação? Só quero ouvir falar disso na segunda-feira, quando voltar para a escola!”
Bem, se nem a professora quer saber de conversar sobre educação…
Lembro o querido amigo Ronaldo, professor universitário, que de sua experiência no ensino superior comenta:
“Na universidade temos entre os professores verdadeira fogueira das vaidades. Você precisa saber o que fala e com quem fala. É um querendo ser mais do que o outro. E se o colega tem mais títulos acadêmicos do que você, ele estará sempre com a razão, mesmo que sua razão seja irracional.”
Na terra em que Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Paulo Freire e outros grandes educadores são execrados publicamente, e em que escolas não têm água potável, luz elétrica, banheiro, já se vê que educação não é tema prioritário.
Pode-se argumentar que as pessoas eram leigas, mas esse argumento é muito frágil diante de um auditório formado por professores e pedagogos, em evento educacional, e que têm o mesmo comportamento. E quantas vezes já presenciei isso!
Não é por outro motivo que o José Pacheco me disse:
“Amigo Marcus, não faço mais palestras. Já percorri o Brasil de ponta a ponta, durante anos, e praticamente não colhi frutos. Quase nenhum projeto tenho para apresentar que tenha colocado em prática meus dizeres. Agora vou tentar eu mesmo fazer.”
Que ele tenha sucesso, pois estamos precisando muito que a educação faça luz em nossas mentes e em nossos corações.
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