terça-feira, 31 de maio de 2022

A liberdade e a educação

Pelo interesse supremo da nova civilização pela qual lutamos, é mais do nunca necessário que a educação seja a educação do homem e educação para a liberdade, a formação de homens livres para uma comunidade livre. É na educação que a liberdade tem seu mais seguro refúgio humano, onde as reservas da liberdade são guardadas vivas.” (Jacques Maritain).

Temos acompanhado muitas discussões sobre a liberdade: liberdade de pensar, liberdade de expressão, liberdade de opinião, liberdade de ir e vir, liberdade de colocar em prática a própria vontade, liberdade de infringir a lei, e assim por diante. Essas discussões, em sua maioria, se perdem por defender interesses pessoais, sem levar em consideração os interesses e o bem coletivo. E muitas vezes são fundamentadas em valores ético-morais subvertidos, fora de contexto, manipulados para defender uma zona de conforto pessoal estabelecida.

A liberdade é a essência do ser humano, mas o ser humano não vive sozinho, não existe exclusivamente para si, o que seria o auge do individualismo egoísta. O ser humano vive em sociedade, em interação com outros seres humanos, inserido numa cultura histórica e social, portanto deve respeitar o direito dos outros e entender que existem regras de convivência estabelecidas, as quais devem ser obedecidas conscientemente, pois do contrário a sociedade é levada ao caos.

A educação deve trabalhar a liberdade humana conscientizando o ser humano da sua responsabilidade em assumir as consequências do que pensa, fala e faz. É assim que promove o desenvolvimento do senso moral, tão em falta na atualidade, substituído que está pelo egoísmo.

Temos assistido o Estado intervir na educação de forma a transfigurá-la e levá-la para interesses outros, muitas vezes inconfessáveis, desviando-a da sua essência formadora do ser humano. Faz-se um pseudo discurso pela liberdade, quando na prática essa liberdade é cerceada e acomodada aos interesses políticos totalitários.

Sobre isso refere-se Maritain:

Cabe ao Estado informar o corpo educacional das necessidades em que se encontra a sociedade de certas categorias de atividades, e do ensino que para isso se prepara. Deve velar sobretudo para que não se desenvolva na educação nenhuma tendência oposta aos valores reconhecidos pelo conjunto de cidadãos de uma sociedade de homens livres como a base mesma da vida comum e da harmonia cívica, e para que os valores em questão, que são como a Carta constitucional da vida comum sejam cuidadosamente esclarecidos e penetrem um ensino ministrado com fé e convicção.”

Numa democracia liberal o Estado não pode fazer intervenções educacionais que não representam os anseios e interesses da maioria; não pode impor os desejos desta ou daquela autoridade constituída em defesa de um grupo minoritário. Se assim fizer, estará contradizendo a democracia liberal que deve defender e, portanto, na verdade estará se fazendo um totalitarismo, que em todas as épocas da humanidade se mostrou prejudicial ao desenvolvimento humano e de sua liberdade.

No pensamento o ser humano sempre terá total liberdade, mas em suas ações deve obedecer o bem comum, por isso a educação é essencialmente formadora, dando a ele a liberdade com a responsabilidade, o direito com o dever, pois liberdade sem os valores ético-morais é qual veículo em alta velocidade e sem freios.

O que fazemos da educação é a sociedade humana que teremos no futuro.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Sabem mas não fazem

Na história da educação mundial, e especificamente na história da educação brasileira, temos educadores que mostraram e mostram os caminhos para que tenhamos educação de qualidade para as novas gerações e, em consequência, para termos uma melhor sociedade, mais igualitária e ética.

Esses educadores, através de livros, artigos e práticas escolares, tornaram-se conhecidos e são lidos e estudados, e aqueles que não os conhecem, basta uma simples pesquisa nas prateleiras de uma livraria ou biblioteca, ou uma pesquisa na internet, para serem encontrados.

Não vamos citá-los por dois motivos: primeiro, porque certamente cometeríamos injustiças por esquecer este e aquele; segundo, porque seria fastidioso enumerar dezenas de nomes abrangendo diversas épocas da história humana, e não é nosso objetivo neste texto ficar destacando nominalmente esses educadores.

Nosso objetivo é outro: mostrar que esses educadores existem e são conhecidos, portanto os responsáveis pela educação brasileira não podem alegar ignorância, a não ser que essa ignorância seja proposital para defender interesses outros que nada tenham a ver com a educação de qualidade da população.

E parece ser exatamente isso o que está acontecendo desde muito tempo. Mesmo tendo formação no campo educacional, as autoridades públicas investidas em cargos da administração pública municipal, estadual e federal na área da educação, insistem em ignorar esses educadores que iluminam a educação, realizando uma administração mais política e partidária, do que pedagógica.

E como se trata de defender interesses políticos dos seus partidos e coligações, além de interesses de determinados grupos sociais, os educadores de renome são solenemente esquecidos, ou quando muito, utilizados apenas para verniz retórico, sem maiores consequências práticas.

É mais importante manter as escolas como estão e sempre estiveram, fazendo confusão entre o instruir e o educar, isso porque não há interesse que as crianças e jovens saibam pensar por si mesmas, ou seja, tenham autonomia com criticidade. Isso não interessa a quem luta apenas para se manter no poder, custe o que custar.

Nessa corrente destrutiva da educação, querem agora abrir mais um vazadouro na guerra instalada: oficializar o ensino domiciliar (homeschooling), isso para escantear a escola, até porque já foi dito que a escola é um mal social, reduto de anarquistas e revolucionários (argumentação falsa feita por quem sequer conhece a escola de ensino fundamental de nosso país, que vive sucateada e à mercê da politicagem canhestra do servilismo e da corrupção que tomam conta dos governos).

Até quando vamos fingir que não sabemos?

Até quando vamos inventar histórias contra este e aquele educador, para retirá-lo dos estudos pedagógicos?

Até quando vamos fingir que está tudo bem, que está tudo certo?

Onde estão os pedagogos do nosso Brasil, que não reagem a essa situação e se mantém fechados em suas zonas de conforto?

Tem mais culpa aquele que sabe e não faz, do que aquele que ignora e por isso não saber fazer. A estes cabe a desculpa da ignorância, mas aos primeiros deve recair o julgamento sobre a consciência culpada pelo delito de destruir a educação para proveito próprio e escuso.

Que venham novos tempos, mais felizes, pela graça dos que trabalham pela educação como ela deve ser.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Má formação dos professores

Segundo dados oficiais do Ministério da Educação (MEC), temos atualmente no Brasil 90 cursos de pedagogia no ensino superior com nota de avaliação entre 1 e 2, numa escala que vai até 5. As normas que regulam o ensino superior exigem que um curso avaliado com essas notas receba uma comissão do MEC para avaliação presencial, quando serão feitas recomendações a serem implementadas. Se numa nova avaliação a nota não crescer, o curso deve ser descredenciado.

Acontece que esses 90 cursos de pedagogia simplesmente não receberam nos últimos anos a segunda nota de avaliação. O MEC não informa se foi feita vistoria presencial. Resultado: temos 90 cursos de pedagogia de má qualidade, mal avaliados, que continuam a captar estudantes e diplomá-los.

Essa situação é calamitosa, pois esses cursos estão formando os professores e os cientistas da educação de nosso país, que chegarão às escolas despreparados para a realidade do sistema de ensino, tendo apenas teoria e quase nenhuma prática.

A deterioração dos cursos de pedagogia está tão grande, e é muito fácil entrar numa faculdade particular para fazer o curso a distância com uma mensalidade de pequeno valor, que muitas pessoas estão fazendo pedagogia apenas para ter o diploma do ensino superior, facultando a elas acessarem cargos públicos mais vantajosos. Moral da história: há uma parcela significativa de estudantes de pedagogia que nada querem com a carreira, estão apenas ganhando um diploma, enquanto a empresa que mantém o curso soma o lucro.

E há ainda mais um componente perverso: boa parte desses cursos são oferecidos totalmente na modalidade educação a distância pela internet, quando o regulamento do MEC exige uma parcela mínima de horas de aulas presenciais. Como isso é permitido?

O futuro da educação brasileira está seriamente ameaçado.

Realizando uma palestra para estudantes do 4º período de pedagogia de uma faculdade particular, não conseguimos que os mesmos conseguissem definir minimamente o que seja pedagogia e educação.

Realizando uma roda de conversa com professoras de uma escola pública, todas ostentando o diploma de pedagogia, constatamos que não tinham noção do que a pedagogia representa para a educação.

O sucateamento dos cursos de pedagogia representa o sucateamento da educação.

Educação sucateada, vilipendiada, jogada à matroca, com educadores que não sabem pensar, que não estão preparados para a realidade da escola, pouco representará para o bem-estar social, mantendo uma sociedade desorganizada, repleta de males e subserviente aos mais inteligentes e espertos.

É triste constatar a que ponto chegamos com o descaso sobre a educação.

O que deveria ser considerado essencial, pois trata do futuro humano, está jogado ao lixo, irresponsavelmente sendo paulatinamente destroçado e deixado ao relento nos subúrbios da sociedade.

Diante dessa realidade, o que já estava ruim está ficando cada vez pior, e o amanhã da nossa nação está ficando obscurecido por uma nuvem de incertezas, pois se ninguém sabe para onde vai nossa educação, qualquer destino servirá. É isso o que desejamos?

Mantemos nossa esperança de uma reversão desse quadro, continuando a trabalhar pela educação.

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Novos rumos para a educação

Realizando estudos sobre educação, o filósofo e teólogo Jacques Maritain já dizia lá nos idos de 1940 em suas conferências, e também em seus livros:

A solução (da educação) não está certamente em afastar a família ou a escola, mas no empenho em torná-las mais conscientes e mais dignas de sua vocação, em reconhecer não só a necessidade de um auxílio mútuo, mas também que é inevitável uma tensão recíproca entre ambas.”

Mais de oitenta anos depois ainda encontramos quem condene a escola, ou querendo retirá-la da realidade social humana, ou querendo radicalizá-la num projeto pedagógico sob um único ponto de vista ideológico como, por exemplo, o militarismo. E temos aqueles que anunciam a morte da família, sua desnecessidade para o ser humano, talvez imaginando que tudo é válido, menos o relacionamento em bases ético-morais dos seres humanos.

Que precisamos rever o papel e a missão da escola e da família, não temos dúvida, mas daí a condená-las como se fossem as vilãs, as causas dos males sociais, é um equívoco de funestas consequências.

O que propõe Maritain é a convergência de esforços, mesmo que existam tensões entre essas duas instituições humanas educacionais, o que é natural, faz parte do processo, para que então tenhamos a realização de uma verdadeira comunidade de aprendizagem, superando o velho modelo da ensinagem e da separação entre esses dois grandes entes educativos do ser humano.

E ainda para nossa reflexão, afirma:

O que é talvez mais paradoxal é o fato de que a esfera extraeducacional (…) - toda a esfera extraeducacional exerce no homem (ser humano) uma ação mais importante para completar sua educação do que a própria educação (institucionalizada).”

Se precisamos caminhar para o conceito e a prática da comunidade de aprendizagem é lógico pensar que a educação não se faz apenas dentro da família e da escola, pois a vida em si já é grande educadora. Os eventos naturais e sociais fazem parte do processo educacional e não podem ser desconsiderados. É o que ele afirma utilizando o termo esfera extraeducacional.

A vida precisa estar no ambiente familiar e escolar, não pode ser desconsiderada, ainda mais em tempos de internet e interação instantânea, em que aprendemos pesquisando através da tecnologia da informação, mesmo porque a educação precisa preparar o ser humano para a vida.

Tudo está conectado, tudo interage incessantemente, numa dinâmica que nem escola, nem família, podem desconsiderar.

Tudo educa, para o bem e para o mal, daí a necessidade de repensarmos a educação, a família e a escola, pois disso depende o rumo que estamos dando para a Humanidade, pois onde a educação se faz ausente, ou é deturpada por falsos valores, o ser humano se perde em ações primitivas ou totalitárias, ambas extremamente prejudiciais para o nosso futuro.

E é sobre o nosso futuro, da Humanidade, que muito precisamos refletir...

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Está na hora de educar

Diante das necessidades sociais urgentes de promoção do ser humano, face às múltiplas exigências que requerem ações das entidades públicas, dos especialistas de várias áreas e das instituições não governamentais no combate à dependência química, à prostituição sexual, à violência de toda ordem e outras situações não menos graves que atormentam a vida humana, devemos olhar com mais profundidade esses temas e ações sobre os mesmos.

Muitas vezes estamos apenas enxugando gelo, na expressão popular, pois teimamos em combater os efeitos, mantendo as causas do problema que desequilibra a sociedade.

Um exemplo é o combate às doenças sexualmente transmitidas, em especial a Aids, quando se fazem campanhas pelo sexo seguro através do uso da camisinha, com o discurso que todos podem se relacionar sexualmente à vontade, desde que usem o preservativo. Assim, estamos mantendo as relações promíscuas, a prostituição sexual do ser humano, sem respeito a si mesmo e ao outro, como se sexo fosse tudo na vida, apenas com a ressalva de se assegurar a proteção, e, em isso ocorrendo, estão todos, jovens e adultos, liberados.

O assunto é grave e requer considerações educacionais, pois esses projetos e ações carecem de fundamentação pedagógica, não adentram ao grave problema moral de desrespeito aos sentimentos do outro, e do desgaste das energias sexuais, ocasionando gravidez não planejada, aborto, desilusão afetiva, doenças sexualmente transmissíveis, vazio existencial, crianças sem pais e outras questões não menos relevantes, pelo fato de vivermos mais pelos instintos e sensações do que pela razão e sentimento, sem levar em consideração as consequências do descontrole sexual.

Um único caminho é possível para mudar esse quadro: a educação, ms não a educação intelectual, informativa através do acúmulo de conhecimentos. Estamos falando da educação moral, promovida pela família e pela escola, dando às crianças e jovens, e mesmo aos adultos, formação ética, quando aprendem a respeitar a si mesmos e aos outros, todos seres humanos, tendo uma via sadia, equilibrada, mantendo instintos e desejos sob controle.

É um processo educacional de médio e longo prazo, mas imprescindível de ser feito, de ser iniciado agora para termos no mais breve tempo possível seus resultados.

Outro exemplo é o combate à violência. Se precisamos de segurança policial e leis mais rígidas, isso ocorre porque mantemos a injustiça social e descuidamos da educação no seu viés de formação moral. Com o passar do tempo as situações se agravam, como ora estamos assistindo em nossa sociedade.

E não são operações policiais violentas nas favelas que darão solução. Se trabalhássemos a educação que desenvolve as virtudes, os valores humanos, não precisaríamos tanto de segurança pública. Onde a educação não cumpre o seu papel, a desagregação social toma conta.

Todas as ações no combate aos problemas sociais devem se transformar em ações pedagógicas preventivas. Não há como resolver os problemas humanos sem a educação. Se a família e a escola não são acionadas, não fazem parte dos programas planejados, e a educação não é cogitada, esses programas tendem ao fracasso, pois ficam trabalhando os efeitos, mantendo as causas intactas.

Se os responsáveis não se educam, não dão bons exemplos e não se preocupam com a formação do caráter das crianças, o que podemos esperar? Tão somente os diversos problemas vivenciais dolorosos que estamos enfrentando de há muito tempo.

Está nora de educar!

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...