segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Navegar é preciso

Conversando sobre educação em programa televisivo através da internet, recebi a participação da Elizabete Alves, trazendo um pensamento fantástico onde embutiu uma importante pergunta:

Navegar é preciso. Educar é mais preciso ainda. Onde escola e pais estão sem navegar?”

Não temos dúvida que é preciso navegar, ou seja, viver a vida, se movimentar, realizar, não ficando no comodismo da zona de conforto. Um barco é feito para navegar, não para ficar guardado em terra firme, ou ancorado no porto sem jamais zarpar. Assim deve ser nosso viver, pois somos os que fazemos a vida.

Também não temos dúvida que é preciso educar. Temos escrito sobre isso incessantemente. A educação das novas gerações é essencial. Toda transformação social passa pela educação das pessoas. Quando falhamos na educação temos uma sociedade que irá refletir em escala maior essa falha.

Agora, onde escola e pais estão deixando de navegar?

Tenho escrito e falado que tanto a escola quanto a família tem falhado na educação moral das crianças e jovens. Se você que está lendo este texto quiser chamar esse enunciado de educação ética, de educação em virtudes, de educação em valores humanos, ou qualquer outro nome, isso não é o mais importante, pois o que vale mesmo é nos entendermos quanto ao conceito, o que essa educação representa.

Há tempos a educação é confundida com a transmissão de conhecimentos compartimentados em disciplinas curriculares, então professores e pais estão preocupados com o aprendizado da matemática, da língua portuguesa e outras disciplinas. Estão preocupados com as provas, as notas e os deveres de casa. Esses conhecimentos são importantes, tanto quanto ler e escrever, mas será que a educação do ser humano se resume a isso? Será que o certificado de conclusão representa a educação?

Quantas pessoas dotadas de amplos conhecimentos fazem mal à sociedade? E fazem mal porque são egoístas, orgulhosas, preconceituosas. Pensam primeiro nelas mesmas e nos seus interesses, e somente depois, se tanto, pensam nos outros e nos interesses da coletividade.

Quantas pessoas repletas de conhecimentos utilizam a violência? Agridem, atropelam, mentem, matam diante de qualquer conflito de relacionamento, manipulando os conhecimentos para arquitetar males maiores em prejuízo dos outros.

Tudo isso acontece porque falta a elas o sentimento, não são capazes de sentir o outro e de se colocar no lugar do outro.

Então, temos que escola e família, professores e pais, estão esquecidos de navegar pela educação moral, equilibrando o desenvolvimento do conhecimento com o desenvolvimento do sentimento.

Está mais do que na hora de colocarmos o barco da educação de volta às águas da vida, com pessoas trabalhando com pessoas, numa dinâmica viva muito além de conhecer por conhecer.

Onde seres humanos se encontram precisamos de humanização. Família e escola são espaços de pessoas.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Virtudes e valores

Já dizia o velho Aristides, professor que encontrei nos caminhos da vida, ele que tinha muito tempo de magistério trabalhando no ensino médio e no ensino superior, que “o melhor mestre é sempre o exemplo”. Não penso de outra forma. Quantos discursos professorais já vivi e que nada significaram, pois o discursador não era exemplo do que falava. E isso não acontece apenas na escola, mas igualmente na família.

No desenvolvimento das virtudes e dos valores, hoje tão desprezado ou falseado, um forte equívoco dos educadores é insistir em comparar a capacidade de aprendizagem de uma criança com o de outra. É equívoco porque cada criança tem sua personalidade, seu ritmo de aprendizagem, sua história de vida. São individualidades diferentes, não são máquinas com a mesma programação, são pessoas, são seres humanos carregando inteligência e sentimento, e a comparação com o outro pode, em verdade, desestimular seu progresso, sua força de vontade.

O educador, seja ele pai, mãe, professor, professora e quem mais esteja responsável por uma criança, deve saber aprender a “ler” a maneira e o jeito de ser das crianças com as quais trabalha. A Rose, professora da educação infantil sabe disso:

Cada criança é um mundo próprio. É um encanto observar como cada uma assimila os aprendizados, como cada uma pensa, raciocina. E não podemos desconsiderar sua realidade emocional, seu histórico social e familiar. Educar é um universo de emoções a cada dia quando se lida com as crianças.”

Outra questão relevante é saber que nem sempre a criança consegue verbalizar tudo o que aprende. Às vezes ela não quer falar, não quer contar, apenas interiorizar o aprendizado, que mais tarde aparecerá espontaneamente. Se a criança não quer falar, não quer contar o que aprendeu, respeitemos seu silêncio, do mesmo modo que muitas vezes queremos que respeitem o nosso silêncio quando só queremos pensar.

Na ânsia de bem educar, de querer que nossos filhos e nossos alunos desenvolvam a contento virtudes e valores para uma cidadania ética, vez ou outra exageramos nos estímulos e também nas cobranças comportamentais, e isso pode ser frustrante para a criança e funcionar em contrário, como um desestímulo. Mais importante é dar o bom exemplo, ser o que gostaríamos que elas sejam.

Agora, o mais importante. Para bem educar é preciso que o educador conheça a si mesmo, se eduque, para que a criança, seguindo seus exemplos, seja sua imagem e semelhança, exatamente o que não se quer que ela seja. Isso entendeu muito bem a Mariana, professora do ensino fundamental:

Eu vivia irritada e levava para a escola meus problemas familiares e minhas frustrações com a carreira profissional. Depois de muitos problemas, percebi que o clima ruim nas turmas tinha muito a ver com o jeito como eu me comportava, com minhas falas e atitudes. Comecei a me ver nas falas e comportamentos de vários alunos. Foi quando me dei conta que eles estavam sendo o que eu era, copiavam meus exemplos: irritada, sem paciência, ranzinza, explosiva, exigente. As coisas melhoraram quando comecei a me educar, a me transformar. Pode até não parecer para muitos, mas o professor é um modelo para os alunos.”

Podemos estudar teoricamente virtudes e valores, e termos nisso bons aprendizados, mas nessa área o que mais vale é o exemplo de quem ensina, de quem tem a responsabilidade de educar.

Se queremos que as novas gerações sejam éticas, responsáveis, incorruptíveis, sabendo pensar nos outros e no bem coletivo, entendamos que tudo isso é dependente muito mais dos nossos exemplos do que da aquisição de conhecimentos, é dependente muito mais do sentimento do que do saber filosófico.

Que o digam o Aristides, a Rose e a Mariana, com seus depoimentos assentados na experiência de quem trabalha diariamente com as crianças e com os jovens.

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Sustentabilidade

Em tempos de desmatamento florestal, poluição dos rios e mares, mudanças climáticas, ondas de calor e de frio intensas, incêndios devastadores, pandemias nunca antes acontecidas, é urgente conversarmos sobre educação ambiental e sustentabilidade, pois nossa casa planetária está sofrendo e, como consequência, nós, seres humanos, também. Como somos os responsáveis por esses acontecimentos, nada mais justo do que sermos igualmente os responsáveis pelo reajuste planetário, que se torna cada vez mais urgente.

A educação ambiental é o processo de educação que forma indivíduos preocupados com os problemas ambientais e que busquem a conservação e preservação dos recursos naturais e a sustentabilidade.

Precisamos dos recursos naturais para viver, mas seu consumo desenfreado ou sua destruição desnecessária, esgotam esses recursos e provocam graves desequilíbrios no meio ambiente, que se refletem em situações agravantes para todas as espécies minerais, vegetais e animais do planeta. Como exemplo disso, temos a morte de vastas cadeias de corais marítimos pelo aquecimento da água e a poluição causada pelo plástico.

No Brasil, grandes cidades precisam utilizar proporções cada vez maiores de produtos químicos e processos de depuração, para abastecer a população com água potável, tal o nível de poluição dos rios e lagoas, que mais se parecem com esgotos a céu aberto. Outro exemplo é o desmatamento e queimadas da floresta amazônica, cada vez mais acentuado ano após ano.

Precisamos, através da educação ambiental na família e na escola, levar as novas gerações a compreender a necessidade de desenvolver valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, ou nosso planeta, com o tempo, se tornará uma casa onde viver será muito difícil.

A formação de cidadãos conscientes e críticos, com valores e atitudes pró sustentabilidade, preservação e conservação é um atributo da educação, e isso não pode mais ser postergado, ser deixado para depois. Quando não há prevenção resta apenas a remediação, que pode não resolver o problema.

Os educadores precisam trabalhar temas como consumo, recursos naturais, crise ambiental, efeito estufa, tipos de lixo, coleta seletiva, reciclagem, entre outros, com seus educandos, para que eles se familiarizem com as práticas sustentáveis e possam vislumbrar os problemas relacionados com a degradação do meio ambiente e suas implicações futuras.

Agora, não basta trabalhar educação ambiental de forma apenas teórica, é preciso levar filhos e alunos, crianças e jovens, a visitar locais com práticas sustentáveis e a colocar mãos à obra, vivenciando essas práticas. Nesse contexto, podem ser visitadas e desenvolvidas hortas comunitárias, mutirões para recolhimento de resíduos poluentes, coleta de água da chuva, assim como passeios em espaços naturais como parques, hortos, praças, tudo no sentido de fazer com que reflitam sobre a importância dos bens naturais e sua conservação.

Lembremos que o futuro da humanidade depende do que estamos fazendo hoje, e esse futuro é para muitos dos adultos, e, com certeza, para as crianças e jovens que ainda têm muitos anos pela frente para serem vividos.

Que planeta e que vida humana queremos ter aqui na Terra amanhã?

Pensemos, e trabalhemos para o melhor.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Educador: mestre e professor

Estava a pensar sobre o papel do professor, sua missão, sua atuação na escola, sua importância na vida das crianças e dos jovens, quando, em minhas leituras, encontrei a fala de Kerschensteiner:

Não é o saber pedagógico, nem a ciência propriamente dita, que fazem o educador”.

Em outras palavras, nosso pedagogo alemão quer dizer que não é o conhecimento das escolas pedagógicas, não é o domínio da didática, não é o conhecimento das metodologias de ensino, nada disso, verdadeiramente, faz o educador. Embora tudo isso tenha sua importância, não é o conhecimento técnico que faz do professor um verdadeiro educador.

Mas, então, o que faz do professor um verdadeiro educador?

Quem nos dá a resposta é o educador suíço Pestalozzi, ao dizer que a ação do educador deve ser “toda inspirada por seu amor infinito, emanando dessa fonte jamais estancada”.

Temos encontrado muitos bons professores, mas nem todos podem ser classificados como muito bons educadores, pois há uma diferença significativa entre esses dois sujeitos, o professor e o educador. Disso nos deu prova, certa vez, uma professora do ensino fundamental, quando de seu pedestal falou-nos em grave e solene tom:

Não admito que o senhor me chame de educadora. Não sou uma educadora, sou professora. Me formei para dar aula de língua portuguesa e esse é o meu papel na escola, junto dos alunos”.

Certamente ela é uma professora. Domina sua disciplina curricular, obedece os trâmites burocráticos, indica os livros didáticos, aplica as provas, lança as notas dos alunos nos boletins, envia as questões disciplinares para a coordenação pedagógica ou diretoria da escola. É provável que esteja mecanizada, de tanto repetir as mesmas coisas ano após ano. Não se apercebe que os alunos são seres humanos que pensam, se emocionam e possuem sua própria história de vida.

São muitos os professores e professoras nessas condições. Não avaliam o quanto influenciam as crianças e os jovens com suas palavras, com seus valores, com seus exemplos.

Para se tornar um educador, o professor precisa ter amor ao que faz. Precisa ser criativo, Precisa ser humanizado. Precisa ter prazer em ser um mestre. Precisa respeitar os alunos. Precisa interagir com os alunos e com seus colegas. Precisa deixar de ser o centro do processo educacional, ou seja, precisa parar de ensinar, permitindo que os alunos façam seu próprio percurso de aprendizagem.

Educador é todo aquele que pensa, reflete, sonha, idealiza e acredita no potencial incrível que seus educandos possuem. É todo aquele que vai com prazer e alegria para a escola. É todo aquele que está sempre inovando e ouvindo. É todo aquele que sabe trabalhar com os outros, cooperativamente. É todo aquele que, mais do que ser professor, é um orientador, um facilitador.

Que adianta acumular mil saberes, mil técnicas, se falta amor, se falta sentimento?

Sabedoria não é sinônimo de acúmulo de conhecimentos. Sabedoria é saber compartilhar, caminhar junto, aprender sempre.

O professor que ama o que faz e tem os olhos voltados para a construção do futuro, esse pode ser chamado de educador, porque nele não faltará amor à educação e à humanidade.

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