Virtudes e valores
Já dizia o velho Aristides, professor que encontrei nos caminhos da vida, ele que tinha muito tempo de magistério trabalhando no ensino médio e no ensino superior, que “o melhor mestre é sempre o exemplo”. Não penso de outra forma. Quantos discursos professorais já vivi e que nada significaram, pois o discursador não era exemplo do que falava. E isso não acontece apenas na escola, mas igualmente na família.
No desenvolvimento das virtudes e dos valores, hoje tão desprezado ou falseado, um forte equívoco dos educadores é insistir em comparar a capacidade de aprendizagem de uma criança com o de outra. É equívoco porque cada criança tem sua personalidade, seu ritmo de aprendizagem, sua história de vida. São individualidades diferentes, não são máquinas com a mesma programação, são pessoas, são seres humanos carregando inteligência e sentimento, e a comparação com o outro pode, em verdade, desestimular seu progresso, sua força de vontade.
O educador, seja ele pai, mãe, professor, professora e quem mais esteja responsável por uma criança, deve saber aprender a “ler” a maneira e o jeito de ser das crianças com as quais trabalha. A Rose, professora da educação infantil sabe disso:
“Cada criança é um mundo próprio. É um encanto observar como cada uma assimila os aprendizados, como cada uma pensa, raciocina. E não podemos desconsiderar sua realidade emocional, seu histórico social e familiar. Educar é um universo de emoções a cada dia quando se lida com as crianças.”
Outra questão relevante é saber que nem sempre a criança consegue verbalizar tudo o que aprende. Às vezes ela não quer falar, não quer contar, apenas interiorizar o aprendizado, que mais tarde aparecerá espontaneamente. Se a criança não quer falar, não quer contar o que aprendeu, respeitemos seu silêncio, do mesmo modo que muitas vezes queremos que respeitem o nosso silêncio quando só queremos pensar.
Na ânsia de bem educar, de querer que nossos filhos e nossos alunos desenvolvam a contento virtudes e valores para uma cidadania ética, vez ou outra exageramos nos estímulos e também nas cobranças comportamentais, e isso pode ser frustrante para a criança e funcionar em contrário, como um desestímulo. Mais importante é dar o bom exemplo, ser o que gostaríamos que elas sejam.
Agora, o mais importante. Para bem educar é preciso que o educador conheça a si mesmo, se eduque, para que a criança, seguindo seus exemplos, seja sua imagem e semelhança, exatamente o que não se quer que ela seja. Isso entendeu muito bem a Mariana, professora do ensino fundamental:
“Eu vivia irritada e levava para a escola meus problemas familiares e minhas frustrações com a carreira profissional. Depois de muitos problemas, percebi que o clima ruim nas turmas tinha muito a ver com o jeito como eu me comportava, com minhas falas e atitudes. Comecei a me ver nas falas e comportamentos de vários alunos. Foi quando me dei conta que eles estavam sendo o que eu era, copiavam meus exemplos: irritada, sem paciência, ranzinza, explosiva, exigente. As coisas melhoraram quando comecei a me educar, a me transformar. Pode até não parecer para muitos, mas o professor é um modelo para os alunos.”
Podemos estudar teoricamente virtudes e valores, e termos nisso bons aprendizados, mas nessa área o que mais vale é o exemplo de quem ensina, de quem tem a responsabilidade de educar.
Se queremos que as novas gerações sejam éticas, responsáveis, incorruptíveis, sabendo pensar nos outros e no bem coletivo, entendamos que tudo isso é dependente muito mais dos nossos exemplos do que da aquisição de conhecimentos, é dependente muito mais do sentimento do que do saber filosófico.
Que o digam o Aristides, a Rose e a Mariana, com seus depoimentos assentados na experiência de quem trabalha diariamente com as crianças e com os jovens.
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