segunda-feira, 31 de julho de 2023

A negação e o futuro da humanidade

O que dizer da pessoa que nega a ciência e seus benefícios para a humanidade? Que nega a educação como formadora moral do ser humano? Que nega a religião e, por consequência, a fé, mesmo racional? Que nega seu egoismo e orgulho, mesmo diante de todas as evidências? Com essas pessoas pouco há o que dizer e fazer, pois se situam numa ideia fixa e não admitem nada que contrarie o seu pensar. A negação dos fatos espirituais, dos fenômenos mediúnicos, das pesquisas realizadas a respeito por cientistas renomados, faz parte do conteúdo desses negadores sistemáticos. A propósito, contou-nos uma pessoa espírita que tinha um amigo que não acreditava em nada além da matéria e combatia abertamente o Espiritismo. Essa pessoa, espírita de longa data e participante de um grupo mediúnico de efeitos físicos, convenceu o amigo cético a assistir uma reunião, dando-lhe explicações prévias e convidando-o a investigar o local para certificar-se de não haver nenhum mecanismo oculto que pudesse falsear os fenômenos. Isso feito, a reunião teve início e vários fenômenos de efeitos físicos acontecerem, bem patentes, inclusive com a materialização completa de um espírito, que dirigiu a palavra ao visitante. Tudo terminado, despedidas feitas, perguntou ao amigo sua impressão sobre os fenômenos, ao que o mesmo respondeu: Tudo ilusão!

Como diz o ditado popular, não existe pior cego do que a pessoa que não quer enxergar.

Isso também acontece na área da educação. Quando falamos da necessidade da escola se transformar, trabalhando o ensino mais humanizado, priorizando o desenvolvimento da espiritualidade de crianças e jovens, professores e pedagogos “torcem o nariz”, e logo ligam a proposta com qualquer coisa da religião, rejeitando sumariamente a educação moral, também conhecida como educação emocional, educação em valores, e outras denominações. E tem os que respondem que essa educação é de foro da família, pois eles, professores e pedagogos, estão na escola para ensinar conhecimentos das ciências exatas e humanas, e nada mais do que isso. Ora, essa é uma visão distorcida da educação, pois a ética, os valores humanos, a finalidade do viver, são temas que devem fazer parte do projeto pedagógico da escola que, é sempre bom lembrar, é feita por pessoas em relação constante umas com as outras.

Negar a importância do relacionamento humano, ou relegá-la ao contexto exclusivo da família, é dizer, em outras palavras, que se está na escola para instruir, para ensinar o que está estabelecido no currículo, e os alunos devem se esforçar em aprender esses conteúdos curriculares, e ponto final. Quem aprende e demonstra esse aprendizado, mesmo que apenas memorizado, nas provas, está aprovado e segue em frente. Os demais, com suas notas baixas, que estudem mais, se esforcem mais, memorizem melhor os conteúdos dados em sala de aula. A situação anda tão ruim, que temos escolas providenciando aulas de recuperação, com as famílias contratando aulas avulsas (às vezes com o próprio professor da escola). Mas essa é a somente uma das pontas do problema, pois do outro lado temos a gravíssima questão da violência no ambiente escolar, do preconceito, da discriminação.

Negar a necessidade da ética no projeto pedagógico; continuar a fechar as portas para a participação efetiva da família no processo educacional; minimizar ou mesmo desconsiderar novas propostas educacionais, fazendo uma escola diferente; insistir em formar o professor apenas para dar aula, quando ele deveria ser um orientador do processo de aprendizagem; enfim, continuar a negar a realidade de um sistema de ensino que há muito deixou de ser um sistema de educação, é complicar o hoje e o manhã da humanidade, mas parece que pedagogos, professores e autoridades políticas estão cegos para isso, deixando o tempo passar e tomando apenas medidas paliativas, maquiadoras, sem atacar as causas do fracasso escolar e educacional.

É urgente termos um olhar espiritualizado sobre a educação e a formação das novas gerações. A contribuição do Espiritismo para isso é imensa e profunda, mas parece que nem mesmo os espíritas despertaram para essa verdade, pois as intervenções do movimento espírita na educação são mínimas, apesar de já termos uma contribuição literária e pedagógica significativa.

Sonhar com o mundo de regeneração não resolve, se esse sonho não for acompanhado de realizações concretas. É o que estamos aguardando, tanto no movimento espírita, quanto na educação brasileira.


domingo, 23 de julho de 2023

Ensinar e Aprender

O paradigma atual da educação promovida nas escolas foi alicerçado ao longo do tempo e, embora muito questionado diante dos seus repetidos resultados desfavoráveis, é ainda mantido, ou seja, o paradigma do professor ensinando seus alunos em sala de aula. Você já parou para pensar e questionar por que o professor ensina? Por que o aluno só deve aprender? Por que existe aula? Por que existe sala de aula? É possível fazer diferente? E se é possível, quais seriam, ou quais são, os resultados?

No paradigma atual o professor é aquele que detém o conhecimento e, sem levar em consideração as diferenças existenciais entre os alunos, ensina do mesmo jeito, massivamente, para todos. Temos, nesse contexto, o que já virou um jargão entre os professores: Eu ensino, quem quiser aprender, que aprenda. É, na verdade, uma maneira disfarçada para falar do fracasso desse paradigma, jogando a culpa nos alunos.

Com o avanço dos estudos sobre o desenvolvimento psicológico e genético do ser humano, com o conhecimento cada vez maior sobre a infância e a juventude, não cabe mais repetirmos esse velho modelo. Um novo paradigma surge no horizonte educacional: o aluno deve ser responsável por sua aprendizagem, sob a orientação do professor. E mais do que isso: além de orientar, o professor deve também aprender com os alunos, que pesquisam, refletem, debatem, aprendendo e ensinando ao mesmo tempo, como uma via de mão dupla: do professor para os alunos e dos alunos para o professor.

O novo paradigma possui um grande desafio: capacitar o professor a exercer o papel de orientador, quando auxilia o aluno a buscar, compreender, assimilar e integrar a informação para transformá-la em conhecimento. Para isso é necessário um novo modelo de formação dos professores, tanto no nível médio quanto superior, além de um projeto de formação continuada promovido pelas escolas e secretarias de educação.

Até aqui escrevemos tendo por base o psicólogo e educador Içami Tiba, que possui um livro sobre o assunto: Ensinar Aprendendo. E ele vai mais além, ao afirmar que esse novo paradigma nas escolas é dependente do relacionamento professor/aluno estar acima dos instrumentos pedagógicos, ou seja, a relação humana é mais importante que a metodologia de ensino, o recurso didático e outras questões. Nisso ele concorda com o educador José Pacheco, que afirma que as escolas são pessoas,são seres humanos em interatividade.

Tanto Içami Tiba, quanto José Pacheco, entre outros educadores, referendam, mesmo sem conhecerem, o que afirma o Espiritismo desde a metade do século XIX, quando trouxe a revelação da nossa imortalidade, que estamos aqui na Terra para continuar nosso aperfeiçoamento moral e intelectual, e isso deve ser feito no coletivo, na relação social, onde devemos colocar em prática o que aprendemos.

Colocando nosso foco mais especificamente no Centro Espírita, e considerando que a essência da Doutrina Espírita é a educação do ser imortal presentemente reencarnado, passando por uma experiência humana material, temos que a essência dessa instituição está em ser uma escola de almas, onde o desenvolvimento da espiritualidade, ou do potencial divino de cada um, é a prioridade, sendo sua práxis a caridade, colocando o amor ao próximo em ação.

O que assistimos, infelizmente, na maioria dos Centros Espíritas, é a repetição do velho e obsoleto paradigma daquele que ensina e daqueles que tentam aprender. Isso ocorre tanto na evangelização da criança e do jovem, quanto nas reuniões públicas de palestras, e também nos grupos de estudo do Espiritismo. Raros são aqueles que fazem pensar, que levam os adeptos a ler, pesquisar e, de fato, conhecer com profundidade a doutrina, e isso significa atrasar a marcha da evolução, apesar de sonharmos em sair do mundo de expiações e provas para entrar no mundo de regeneração.

Ensinar e aprender, com profundidade, orientando e conhecendo, é o que todo professor e todo espírita devem fazer, transformando o atual paradigma da educação, realizando a formação integral do homem, e alavancando o progresso moral e social da humanidade.


segunda-feira, 17 de julho de 2023

A concepção de Deus

Alguns cientistas não conseguem conceber a existência de Deus pelo fato de não aceitarem racionalmente o Deus apresentado de forma dogmática, e mesmo um tanto irracional, por parte de diversas religiões. E estão cobertos de razão, pois não se pode aceitar uma ideia que não pode ser discutida e que não possui fundamentos que possam ser provados. Por não conhecerem outra ideia sobre Deus, qual a que o Espiritismo apresenta, negam sua existência e defendem exclusivamente a teoria materialista para explicar o universo e a vida. Mas, perguntamos: qual a origem da partícula elementar, pois que a mesma é um elemento material? E como explicar o extraordinário fenômeno da vida apenas e tão somente com a matéria? E a mente, com todo o seu prodigioso psiquismo, estaria encerrada em sinapses neuronais? E os sentimentos, as emoções, a afetividade, seriam produto do nosso organismo físico ou apenas ilusões? Como fica a chamada espiritualidade do ser humano, que comprovadamente afeta a saúde orgânica para melhor ou para pior? E por que temos que estudar, aprender, trabalhar, amar, sofrer se tudo acaba no túmulo? E para que servem os bilhões de astros espalhados pelo universo? Não podemos admitir a ideia do acaso, pois seria explicar uma coisa que não compreendemos por outra ainda mais incompreensível.

Mas o que é Deus? É o ser incriado, acima de qualquer concepção que o pensamento humano possa conceber, e que sabemos ser ao mesmo tempo Pai e Criador, dotado de atributos inigualáveis, tais como: eternidade, imutabilidade, imaterialidade, único, todo poderoso, soberanamente justo e bom. Sem esses atributos nossa razão não pode concebê-lo como Deus.

Quando entendermos que a religião e a ciência não existem para se excluírem mutuamente, mas que podem e devem unir seus esforços para o bem da humanidade, fazendo aproximações entre suas pesquisas e crenças, diminuiremos o espaço hoje existente entre ambas, e isso é justamente o que faz o Espiritismo.

E como podemos provar a existência de Deus? Na verdade os cientistas é que deveriam provar a não existência desse ser supremo, mas como não conseguem fazer isso satisfatoriamente, tentemos responder algumas perguntas sem a crença na existência de Deus:

1 – Como uma causa material pode ser o princípio de todas as coisas?

2 – Como tudo no universo está em perfeita harmonia e equilíbrio?

3 – Qual é a origem da intuição inata nos homens da existência de um ser supremo?

4 – Se a partícula elementar é matéria, qual é a causa dessa partícula?

5 – Como explicar efeitos inteligentes sem uma causa inteligente?

Desafiamos os pesquisadores e pensadores materialistas para responder através de raciocínios lógicos, satisfazendo todas as consequências dessas perguntas, provando por a+b que não há necessidade da existência de Deus. Lembramos que no século 19 essa tentativa foi feita, e sem sucesso, pela teoria positivista encabeçada por Auguste Comte (1798-1857), lançando uma Religião da Humanidade não teísta, mas que acabou não conseguindo responder aos anseios espirituais dos indivíduos.

Concepção espírita da divindade

Na concepção espírita de Deus existe a certeza de um ser supremo ao mesmo tempo justo e misericordioso, princípio de tudo e que em tudo está, cujas leis são perfeitas e as quais vamos descobrindo paulatinamente, regendo a vida sem nos tirar o livre arbítrio. Essa concepção explica racionalmente os acontecimentos existenciais, esclarece ao mesmo tempo que consola, mostrando que todos temos um futuro glorioso pela frente, porque somos destinados a alcançar a perfeição intelectual e moral e, portanto, a felicidade.

Desembaraçando a ideia de Deus do antropomorfismo (Deus representado como um ser humano), da superstição, da crendice e da teologia, o Espiritismo reconhece que a crença racional sobre um ser supremo criador como ponto de partida da vida universal, é a crença que melhor responde aos anseios humanos de espiritualidade e religiosidade, aliando as pesquisas científicas com as religiosas e dando ao ser humano uma fé raciocinada que o eleva acima das questões circunscritas à vida material, pois o faz entrever o futuro espiritual que não apenas o aguarda, mas que lhe pertence como alma imortal que é, e que a morte não aniquila.

O Espiritismo não concebe Deus como um ser passional, muitas vezes vingativo, e mesmo injusto como várias doutrinas o apresentam. Nem considera que ele esteja envolto em mistérios insondáveis ao ser humano. Pelo contrário, a doutrina espírita combate essas visões sobre a divindade por considerá-las não racionais, insustentáveis diante da razão e da observação dos fatos. Para ser a inteligência suprema e o criador de tudo, Deus há de ser a perfeição, e um ser perfeito nada pode ter dos vícios e paixões que caracterizam os homens, e esse pensamento é lógico, daí porque a representação artística de Deus como um velhinho de barba branca ladeado de anjos estar muito longe de ser a melhor figura que podemos fazer dele, a qual o Espiritismo não sanciona, mostrando que ele é incomparável a qualquer coisa que possamos conhecer ou imaginar.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

A geração do futuro e o homem de bem

O amanhã começa hoje. O futuro depende das ações que realizamos no presente. A ação humana tem impacto considerável tanto na natureza planetária quanto na própria sociedade, com consequências tanto para a atualidade como para os dias vindouros. Estamos às voltas com a diminuição dos mananciais, extinção de espécies, inundações, erosões, poluição, mudanças climáticas, destruição da camada de ozônio, chuva ácida, agravamento do efeito estufa e destruição de habitats, além de consumo exagerado de bens, violência, falta de saneamento básico, graves distúrbios psicológicos, fome, guerras, migração descontrolada de pessoas, preconceitos, discriminações. A lista dos graves problemas que afetam a sociedade humana e a natureza é tão grande que não cabe nas linhas deste texto. Temos sofrido as consequências, e estas vão igualmente atingir as próximas gerações se nada fizermos para reverter essa situação, daí a necessidade de apoiarmos todas as iniciativas, em todas as áreas, para preservação do meio ambiente e da saúde emocional do ser humano, único caminho para pararmos com a degradação do planeta e da própria vida.

Na luta pela vida em plenitude temos que destacar a importância da educação moral, ainda tão mal compreendida, que o Espiritismo resgata com toda força, pois somente ela pode desenvolver o homem de bem, moralizado e espiritualizado, ou seja, o ser humano – homem ou mulher – solidário, fraterno, cooperativo, ético, com ideais nobres e visão superior sobre o viver, colocando em prática a regra maior do processo de aprendizagem: saber fazer ao outro somente o que deseja que o outro lhe faça, como nos ensinou o Mestre dos mestres: Jesus.

A competência para realização da educação moral é, em primeira instância, da família e da escola, mas coadjuvadas pelas instituições religiosas e sociais de variado espectro, proporcionando à criança e ao jovem a oportunidade de aprender a pensar, aprender a criticar, aprender a reconstruir, aprender a extrair de si o potencial divino que carrega consigo, aprender a ser construtor de si mesmo, aprender a se colocar no lugar do outro. Não se trata apenas de acumular saberes, de explorar conhecimentos, de memorizar instruções; a educação moral vai mais além, trabalhando o homem moral e espiritual, e não apenas o intelectual.

Ao trazer para a educação a realidade da alma imortal conjugada com a reencarnação, o Espiritismo provoca uma verdadeira revolução pedagógica, solicitando da família e da escola revisão das suas finalidades e procedimentos, pois não é mais possível manter a cátedra, o ensinar, o instruir e avaliar com provas para detectar o nível de conhecimento da língua portuguesa e da matemática, como se faz atualmente. Isso não revela o ser espiritual que somos, não avalia o caráter, não proporciona o verdadeiro aprendizado. Memorizar conhecimentos para aplicação dos mesmos numa prova não é avaliação, não é aprendizado. A capacidade de memória não quer dizer que o educando tenha aprendido, ou seja, que saiba contextualizar, interpretar, reconstruir e colocar em prática o que acumulou de memória para tirar uma boa nota no teste. E qual é a prova de formato quantitativo que pode avaliar um ser complexo como o ser humano?

Vivemos hoje uma crise que vai bem mais além do que crise hídrica, crise climática, crise econômica, crise social. Estamos vivendo profunda crise moral, das quais essas outras crises são consequência. Desvirtuado de sua realidade espiritual e da finalidade divina de sua presença na Terra, o ser humano vive à deriva, deixando-se levar pelas ondas do egoísmo e do orgulho, invertendo os valores humanos para saciar apenas os seus interesses individuais e imediatos, pouco se preocupando com os outros e com a sustentabilidade dos ecossistemas, impactando a vida com ações predadoras que estabelecem, por exemplo, mudanças climáticas profundas, assim como desigualdades geradoras de dor e sofrimento.

A proposta espírita da educação moral do espírito imortal é a de resgatar em espírito e verdade os ensinos morais de Jesus, preparando as novas gerações para serem cocriadoras com Deus, sabendo aproveitar esta encarnação para reparar os débitos individuais e coletivos do passado, ao mesmo tempo em que preparam, numa nova ordem de ideias, uma nova humanidade e um novo mundo. A educação moral deve formar o homem e a mulher de bem, trabalho urgente, pois estamos muito indiferentes, insensíveis e materialistas, agindo sem pensar nos outros, nem no dia de amanhã, na ansiedade das conquistas e dos lucros, da manutenção do poder a qualquer custo. Pobre ser humano que acredita estar acima de tudo e de todos, mas que não pode controlar a morte, instrumento de Deus que nos lança para fora desta existência, retornando-nos ao mundo espiritual, quando nos veremos arredados de todos os bens materiais, de todos os diplomas, de todos os cargos, mas repletos de nossos vícios, tendo que assumir as consequências de nossas ações.

Aos espíritas compete uma grande missão, da qual responderão perante Deus: trabalhar a educação moral da alma imortal, pois o Espiritismo tem por finalidade a transformação moral dos indivíduos e da humanidade. É de homens e mulheres de bem que necessitamos; é de pessoas com sentimento aguçado que precisamos; é de verdadeiros cristãos que dependemos para estabelecer a humanidade do mundo de regeneração, onde o bem deverá prevalecer sobre o mal. Esse futuro deve ser estabelecido hoje, através dos esforços em educar para corrigir más tendências e estabelecer bons hábitos, exatamente o significado profundo da educação moral. A esse trabalho devem os espíritas dirigir seus esforços, como muito bem assinalam e conclamam os Espíritos Superiores nas obras da codificação espírita assinadas por Allan Kardec. Se não fizermos, ficando nos atalhos do tratamento espiritual dos corpos orgânicos, do assistencialismo e das discussões estéreis de temas irrelevantes, responderemos por crime de lesa humanidade, ao deixarmos que as novas gerações se percam por não receberem a educação moral de que tanto necessitam.


segunda-feira, 3 de julho de 2023

Cuidados na publicação do livro mediúnico

Com o advento da tecnologia de informação ficou muito prático preparar a edição de um livro, e mesmo publicá-lo, seja no formato impresso ou digital. Com isso, determinados cuidados literários, e no caso do livro espírita, também cuidados doutrinários, estão ficando à margem, e temos então o lançamento de obras de valor literário e doutrinário duvidoso. Alguns livros não são bem escritos, ou seja, são literariamente pobres; outros contém erros gramaticais que uma boa revisão corrigiria; outros difundem princípios que colidem com o Espiritismo, embora se rotulem de livro espírita. E se tudo isso acontece com obras de escritores encarnados, exigindo de autores e editores a melhoria dos critérios para publicação de um livro que, em princípio, vai divulgar. a Doutrina Espírita, o mesmo deve ser feito com as obras ditas mediúnicas, escritas por autor espiritual (desencarnado) através de um médium. Como sempre nos alertou Allan Kardec, nem tudo o que provém dos espíritos é bom ou deve ser aceito sem julgamento, sem análise criteriosa.

Analisar, julgar o que vem dos espíritos é muito importante, pois no mundo espiritual temos do ignorante ao sábio, do mau ao bom. E ainda temos outra questão relevante: a intermediação do médium, que pode ser um instrumento fiel ou infiel. Ao verificar a enorme quantidade de livros mediúnicos lançados mensalmente pelas editoras, ou de forma independente pelos médiuns, percebemos que esses cuidados nem sempre são observados, o que tem levado a público obras com flagrantes erros doutrinários, ideias pessoais dos autores espirituais, ou simplesmente mal escritas. Muitos médiuns alegam em sua defesa que os livros são publicados tendo por objetivo financiar obras assistenciais, entretanto devemos lembrar que nem sempre os fins justificam os meios.

Para maior exemplo sobre os cuidados que devemos ter na publicação de livros mediúnicos, vamos estudar o caso Memórias de Um Suicida, livro de autoria do espírito Camilo Cândido Botelho, na verdade pseudônimo do escritor português Camilo Castelo Branco, e recebido pela médium Yvonne do Amaral Pereira, médium bastante conhecida dos espíritas, que nos deixou exemplos dignificantes do uso das faculdades mediúnicas, além de ter sido grande estudiosa do Espiritismo.

Yvonne Pereira relata na apresentação da obra que o livro não foi propriamente psicografado, mas seu conteúdo foi narrado pelo autor espiritual aproveitando a faculdade de emancipação da alma da médium, faculdade essa também conhecida como desdobramento. Ela, no mundo espiritual, ouviu as narrativas e viu as imagens dessas narrativas, captando o que o autor queria lhe transmitir para, depois, em vigília, acordada, ela mesma passar para o papel o conteúdo na forma de texto. Ela relata que esse processo teve início por volta do ano de 1926, e foi supervisionado pelo eminente espírito Léon Denis, que durante vinte anos lhe amparou, prometendo fazer revisão completa dos escritos. Passemos a palavra à médium:

“Devo estas páginas à caridade de eminente habitante do mundo espiritual, ao qual me sinto ligada por um sentimento de gratidão que pressinto se estenderá além da vida presente. Não fora a amorosa solicitude desse iluminado representante da Doutrina dos Espíritos – que prometeu, nas páginas fulgurantes dos volumes que deixou na Terra sobre filosofia espírita, acudir ao apelo de todo coração sincero que recorresse ao seu auxílio com o intuito de progredir, uma vez passado ele para o plano invisível e caso a condescendência dos Céus tanto lho permitisse – e se perderiam apontamentos que, desde o ano de 1926, isto é, desde os dias da minha juventude e os albores da mediunidade, que juntos floresceram em minha vida, penosamente eu vinha obtendo de Espíritos de suicidas que voluntariamente acorriam às reuniões do antigo "Centro Espírita de Lavras", na cidade do mesmo nome, no extremo sul do Estado de Minas Gerais, e de cuja diretoria fiz parte durante algum tempo. Refiro-me a Léon Denis, o grande apóstolo do Espiritismo, tão admirado pelos adeptos da magna filosofia, e a quem tenho os melhores motivos para atribuir as intuições advindas para a compilação e redação da presente obra. Durante cerca de vinte anos tive a felicidade de sentir a atenção de tão nobre entidade do mundo espiritual piedosamente voltada para mim, inspirando-me um dia, aconselhando-me em outro, enxugando-me as lágrimas nos momentos decisivos em que renúncias dolorosas se impuseram como resgates indispensáveis ao levantamento de minha consciência, engolfada ainda no opróbrio das consequências de um suicídio em existência pregressa” (1).

Anotemos: vinte anos de envolvimento entre médium e benfeitor espiritual. Mesmo assim, a revisão necessária da obra não foi realizada com facilidade. Quem nos explica isso é o próprio Léon Denis, em prefácio à obra, onde esse ilustre espírito assim se expressa:

“Revisão criteriosa impunha-se nesta obra que há alguns anos me fora confiada. para exame e compilação, em virtude das tarefas espiritualmente a mim subordinadas, como da ascendência adquirida sobre o instrumento mediúnico ao meu dispor. Fi-lo, todavia, algo extemporaneamente, já que me não fora possível fazê-lo na data oportuna, por motivos afetos mais aos prejuízos das sociedades terrenas contra que o mesmo instrumento se debatia, do que à minha vontade de operário atento no cumprimento do dever. E a revisão se impunha, tanto mais quanto, ao transmitir a obra, me fora necessário avolumar de tal sorte as vibrações ainda rudes do cérebro mediúnico, operando nele possibilidades psíquicas para a captação das visões indispensáveis ao feito, que, ativadas ao grau máximo que àquele seria possível comportar, tão excitadas se tornaram que seriam quais catadupas rebeldes nem sempre obedecendo com facilidade à pressão que lhes fazia, procurando evitar excessos de vocabulário, acúmulos de figuras representativas, os quais somente agora foram suprimidos”.

Como podemos perceber, a ligação mental e magnética entre espírito e médium é delicada, não é fácil de ser realizada, tendo o espírito Léon Denis encontrado a médium Yvonne Pereira se debatendo com problemas de ordem material que afetavam sua sintonia, além do que, sua capacidade mediúnica possuía limites que eram imprescindíveis serem respeitados.

O livro Memórias de Um Suicida foi publicado somente no ano de 1954, pela Federação Espírita Brasileira, tendo sua segunda edição, revista e corrigida pelo espírito Léon Denis, vindo a público no ano de 1957.

Finalizando nossas considerações sobre os cuidados que devemos ter com a publicação de livros mediúnicos que recebem o rótulo espírita, passemos a palavra novamente a Yvonne Pereira, quando, no final de sua apresentação, nos mostra o quanto o médium deve ser humilde e procurar por todos os meios se certificar de aquilo que recebeu literariamente, deve, realmente, ser publicado:

“Proibi-me, durante muito tempo, levá-la ao conhecimento alheio, reconhecendo-me incapaz de analisá-la. Não me sinto sequer à altura de rejeitá-la, como não ouso também aceitá-la. Vós o fareis por mim. De uma coisa, porém, estou bem certa: é que estas páginas foram elaboradas, do princípio ao fim, com o máximo respeito à Doutrina dos Espíritos e sob a invocação sincera do nome sacrossanto do Altíssimo”.

Meditemos profundamente sobre os apontamentos que trazemos, pois, como nos afirma o espírito Erasto, em O Livro dos Médiuns, no capítulo 20, item 230: “Melhor é repelir dez verdades, do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea” (2).

Referências

(1) Botelho, Camilo Cândido/Pereira, Yvonne do Amaral. Rio de Janeiro: Feb, 10 ed., s/data.

(2) Kardec, Allan. Livro dos Médiuns, O. Rio de Janeiro: 71 ed., 2003.


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O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...