Ensinar e Aprender
O paradigma atual da educação promovida nas escolas foi alicerçado ao longo do tempo e, embora muito questionado diante dos seus repetidos resultados desfavoráveis, é ainda mantido, ou seja, o paradigma do professor ensinando seus alunos em sala de aula. Você já parou para pensar e questionar por que o professor ensina? Por que o aluno só deve aprender? Por que existe aula? Por que existe sala de aula? É possível fazer diferente? E se é possível, quais seriam, ou quais são, os resultados?
No paradigma atual o professor é aquele que detém o conhecimento e, sem levar em consideração as diferenças existenciais entre os alunos, ensina do mesmo jeito, massivamente, para todos. Temos, nesse contexto, o que já virou um jargão entre os professores: Eu ensino, quem quiser aprender, que aprenda. É, na verdade, uma maneira disfarçada para falar do fracasso desse paradigma, jogando a culpa nos alunos.
Com o avanço dos estudos sobre o desenvolvimento psicológico e genético do ser humano, com o conhecimento cada vez maior sobre a infância e a juventude, não cabe mais repetirmos esse velho modelo. Um novo paradigma surge no horizonte educacional: o aluno deve ser responsável por sua aprendizagem, sob a orientação do professor. E mais do que isso: além de orientar, o professor deve também aprender com os alunos, que pesquisam, refletem, debatem, aprendendo e ensinando ao mesmo tempo, como uma via de mão dupla: do professor para os alunos e dos alunos para o professor.
O novo paradigma possui um grande desafio: capacitar o professor a exercer o papel de orientador, quando auxilia o aluno a buscar, compreender, assimilar e integrar a informação para transformá-la em conhecimento. Para isso é necessário um novo modelo de formação dos professores, tanto no nível médio quanto superior, além de um projeto de formação continuada promovido pelas escolas e secretarias de educação.
Até aqui escrevemos tendo por base o psicólogo e educador Içami Tiba, que possui um livro sobre o assunto: Ensinar Aprendendo. E ele vai mais além, ao afirmar que esse novo paradigma nas escolas é dependente do relacionamento professor/aluno estar acima dos instrumentos pedagógicos, ou seja, a relação humana é mais importante que a metodologia de ensino, o recurso didático e outras questões. Nisso ele concorda com o educador José Pacheco, que afirma que as escolas são pessoas,são seres humanos em interatividade.
Tanto Içami Tiba, quanto José Pacheco, entre outros educadores, referendam, mesmo sem conhecerem, o que afirma o Espiritismo desde a metade do século XIX, quando trouxe a revelação da nossa imortalidade, que estamos aqui na Terra para continuar nosso aperfeiçoamento moral e intelectual, e isso deve ser feito no coletivo, na relação social, onde devemos colocar em prática o que aprendemos.
Colocando nosso foco mais especificamente no Centro Espírita, e considerando que a essência da Doutrina Espírita é a educação do ser imortal presentemente reencarnado, passando por uma experiência humana material, temos que a essência dessa instituição está em ser uma escola de almas, onde o desenvolvimento da espiritualidade, ou do potencial divino de cada um, é a prioridade, sendo sua práxis a caridade, colocando o amor ao próximo em ação.
O que assistimos, infelizmente, na maioria dos Centros Espíritas, é a repetição do velho e obsoleto paradigma daquele que ensina e daqueles que tentam aprender. Isso ocorre tanto na evangelização da criança e do jovem, quanto nas reuniões públicas de palestras, e também nos grupos de estudo do Espiritismo. Raros são aqueles que fazem pensar, que levam os adeptos a ler, pesquisar e, de fato, conhecer com profundidade a doutrina, e isso significa atrasar a marcha da evolução, apesar de sonharmos em sair do mundo de expiações e provas para entrar no mundo de regeneração.
Ensinar e aprender, com profundidade, orientando e conhecendo, é o que todo professor e todo espírita devem fazer, transformando o atual paradigma da educação, realizando a formação integral do homem, e alavancando o progresso moral e social da humanidade.
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