O que pretendemos com o Espiritismo?
Este texto tem por motivação uma fala de Vinícius, saudoso escritor e educador espírita cujo nome verdadeiro é Pedro de Camargo, estampada em seu livro O Mestre na Educação, mais especificamente no capítulo Clama Sem Cessar. Antes de transcrevermos o referido texto, lembremos que Vinícius participou da criação da USE – União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e do Instituto Espírita de Educação, além de ter desenvolvido cursos sobre o Evangelho, tendo íntima ligação com os ensinos do Mestre Jesus, deixando-nos palestras e artigos sobre os mais variados temas evangélicos e educacionais. As palestras se perderam numa época em que não haviam recursos para sua gravação, mas os textos estão em maravilhosos e admiráveis livros que ele lançou e encontram-se devidamente publicados. Vamos, então, ao texto de Vinícius:
“Cumpre indagar: Que pretendem os homens fazer do Espiritismo, desviando-o de sua finalidade, precípua e verdadeira, que é, como desdobramento do Cristianismo, acender o facho da luz no interior das consciências, regenerando e reformando o homem por meio da Educação, tal como exemplificou o divino Mestre em sua passagem por este mundo?”
O questionamento de Vinícius é muito oportuno nos tempos atuais, onde assistimos interpretações doutrinárias em choque e desvios de foco dos centros espíritas, onde o tratamento espiritual dos corpos orgânicos perecíveis tomou a frente da evangelização dos indivíduos.
Em seu texto, Vinícius relembra o filósofo e escritor Léon Denis, paladino do Espiritismo e da Educação, que sentenciou: “O Espiritismo será o que os homens dele o fizerem”. O contemporâneo de Kardec não se referia à doutrina em si, ou seja, aos seus princípios, que são inamovíveis, mas aos desvirtuamentos interpretativos, ao choque de opiniões contrárias, e a práticas abusivas e fora do contexto doutrinário, numa conspurcação do que verdadeiramente seja o Espiritismo, de tal modo a confundi-lo no seio das massas, a desvirtuá-lo, mascará-lo com superficialidades e outras coisas, gerando confusão entre os adeptos e o público em geral.
Tal é o que está acontecendo neste momento, onde, por meio das redes sociais na internet, divulgam-se falácias, mentiras sobre o Espiritismo, que escondem, na verdade, interesses pessoais e interpretações de foro íntimo, na tentativa de acomodar o conhecimento e a pratica espíritas a conveniências pessoais ou de grupo, forçando interpretações e introduzindo práticas que nada tem a ver com a Doutrina Espírita. A hipocrisia, o orgulho e a prepotência de muitos desfiguram uma doutrina eminentemente educacional do espírito imortal e reencarnado, que lança luzes sobre o Evangelho, que deve ser nosso roteiro de vida, São os falsos profetas de quem Jesus já nos advertiu dois mil anos atrás.
O estudioso do Espiritismo deve se precaver com opiniões que não tragam fundamentação doutrinária bem estabelecida, com ideias inovadoras de pessoas que se fazem verdadeiros meteoros, mas que com o tempo perdem o vigor e entram em completo ostracismo, pois não estavam com a verdade, que é única, muito bem estabelecida por Allan Kardec nas obras da Codificação Espírita.
Não existe Espiritismo de mesa branca, Espiritismo umbandista, Espiritismo kardecista, Espiritismo brasileiro, Espiritismo de esquerda e outras adjetivações muito ao gosto dos polemistas de plantão, que vivem confundindo as pessoas com as instituições que representam, e muitas vezes confundindo a doutrina com o seu movimento representativo, que é feito pelos seres humanos falíveis, enquanto a doutrina é dos Espíritos, que tudo ensinaram, conforme atestam as palavras do próprio codificador.
É moda recortar textos tirando-os do contexto próprio, para fazer defesa de pensamento pessoal. Quantas vezes já não lemos e assistimos pessoas ditas espíritas fazendo citações de encarnados e desencarnados sem citar a fonte, sem dizer onde e quando foi publicado. É fácil colocar palavras, por exemplo, na boca do médium Chico Xavier, que não mais está entre nós para se defender. Entretanto, se ele disse, tem que estar publicado num livro, num jornal ou numa revista; sem a fonte original, a citação fica invalidada.
Estão faltando nos tempos atuais estudo e bom senso, motivo pelo qual temos assistido tantos desvios doutrinários, tantas práticas estranhas, num desvio de foco perigoso da finalidade do Espiritismo, que é a educação, do ponto de vista moral e espiritual, dos indivíduos, para que estes, então, possam realizar a transformação moral da humanidade, como bem nos lembra Vinícius.
No decurso da história vilipendiamos e adulteramos o Cristianismo, não permitindo que o mesmo realizasse nossa transformação moral. Cumpre agora perguntar: faremos o mesmo com o Espiritismo, que é o Cristianismo Redivivo nas luzes da imortalidade e da reencarnação? Não esqueçamos que toda deturpação, todo desvio de foco, toda adulteração doutrinária, acarretará sérios problemas na evolução humana, e é da lei divina que cada um assuma as responsabilidades por suas obras, aqui e depois da morte.
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