segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Por que educação espírita?

De algum tempo a sociedade clama por uma nova abordagem e uma nova prática escolar no campo da aprendizagem, diante dos fatos que atestam baixo nível escolar das crianças e dos jovens, com graves consequências no desenvolvimento individual e na formação social, e os espíritas não podem se ausentar desse debate e desse clamor, porém, o Espiritismo vai mais longe, vai além da questão dos meios de aprendizagem. Entende o Espiritismo a necessidade de reformulação da filosofia que rege a educação, que hoje, em grande parte, é materialista e conteudista, não levando em consideração a alma e a formação do caráter. O Espiritismo é uma filosofia com bases científicas, e de amplas consequências morais, por isso não se confunde com as religiões formais detentoras de dogmas, cultos exteriores e sacerdócio institucionalizado. O Espiritismo, revivendo as lições do Evangelho, o faz em espírito e verdade, conclamando seus adeptos ao exercício da razão, não admitindo a aceitação cega de seus princípios. Por ter como finalidade maior a transformação moral da humanidade, entende que isso somente pode acontecer com a transformação moral dos indivíduos, o que implica um processo educacional, naturalmente fazendo-se doutrina de educação.

Como doutrina de educação do homem integral, espírito reencarnado em pleno caminhar rumo à perfeição, o Espiritismo propõe uma nova filosofia educacional para reger o sistema de ensino representado pelas escolas, onde espiritualidade e religiosidade serão pilares do processo. Podemos, então, falar de educação espírita, não no sentido catequético, não no sentido de ensino do Espiritismo, como muitas pessoas, equivocadamente, pensam, mas no sentido do desenvolvimento cognitivo e emocional levando em consideração a realidade do ser humano ser um espírito imortal reencarnado. Esse é o entendimento dos Espíritos Superiores e de Allan Kardec, como vemos nas obras da codificação espírita, com destaque para O Livro dos Espíritos.

Toda filosofia desenvolve uma filosofia da educação, assim a filosofia espírita naturalmente desenvolve uma filosofia espírita da educação, que por sua vez elabora uma pedagogia espírita e uma práxis educacional diferenciada, a ser aplicada na família, na escola e na instituição espírita. Os espíritas precisam se convencer que o Espiritismo não é mais uma religião, e que o centro espírita não é simplesmente um templo religioso, não é uma igreja para ato devocional semanal; isso é com as religiões instituídas, cristãs e não cristãs, mas nada tem a ver com o Espiritismo.

Allan Kardec, como pedagogo de profunda visão, fala da necessidade da educação moral, que hoje, aqui em terras brasileiras, no movimento espírita, foi substituída pela nomenclatura educação do espírito, mas o mais importante é nos entendermos quanto as bases dessa educação, para não ficarmos paralisados em discussões inúteis, de fachada, tão ao gosto dos que não querem sair do lugar e fazem questão de deixar tudo como está e sempre foi. Compete aos espíritas a missão de transformar a educação, para que esta combata o egoísmo e o orgulho, destruindo-os, por isso a doutrina fala em formar o caráter, desenvolver o senso moral, combater as más tendências, criar bons hábitos, fazer pensar, assumir as responsabilidades no uso do livre arbítrio e desenvolver as virtudes. Tudo isso aconchegado no manto do amor e da caridade, da fraternidade e da solidariedade, levando o educando a pensar no bem coletivo, e não apenas no próprio bem mesmo que prejudicando os outros, como temos assistido.

A educação espírita é uma realidade desde o surgimento do Espiritismo, mas o seu desenvolvimento teórico e sua aplicação prática é de competência dos espíritas, motivo pelo qual conclamamos os pedagogos espíritas a se unirem e realizarem o que deve ser realizado, deixando de lado personalismos, que são incompatíveis com os princípios doutrinários do Espiritismo.

Olhemos para o futuro da humanidade, levando em consideração a reencarnação, o nascer de novo apresentado por Jesus. Se não transformarmos a educação nas luzes que o Espiritismo nos apresenta, que sociedade irá nos recepcionar amanhã, quando tivermos que aqui retornar? A educação espírita, podemos concluir, é uma necessidade que se impõe face à verdade da vida imortal e da lei divina do progresso.


segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Uma revista espírita para educadores

Na década de mil novecentos e setenta, o professor, jornalista, escritor e filósofo espírita José Herculano Pires teve um sonho: publicar uma revista espírita sobre educação. Ela surgiu em mil novecentos e setenta e dois, lançada perla editora Edicel. Sua vida foi curta: seis edições e encerramento no final de mil novecentos e setenta e quatro. O movimento espírita ainda não estava preparado para absorver esse trabalho pioneiro, mas que deixou seu legado, muito importante. Passado o tempo, outro educador espírita idealista, professor e escritor, lançou a Revista Pedagógica Espírita, no ano de dois mil e oito. Estamos nos referindo a Walter Oliveira Alves, com o apoio da Ide Editora, mas o trabalho não resistiu e foi encerrado em 2010, mas igualmente gerando seus frutos. Ambas as iniciativas tiveram o mesmo problema: falta de sustentação financeira de uma publicação impressa, ocasionada pelo número insuficiente de assinaturas.

Com o avanço das tecnologias digitais uma nova perspectiva editorial surgiu: criar, produzir e distribuir uma revista espírita sobre educação nesse novo formato, sem necessidade da impressão física em papel. Naturalmente existem custos, mesmo que pequenos, mas isso poderia ser resolvido através do voluntariado, e assim, seguindo o aconselhamento feito pelos amigos espirituais, e reunindo colaboradores de boa vontade, surgiu em março deste ano de dois mil e vinte e quatro, a Revista Educação Espírita, de mesmo nome da iniciativa de Herculano Pires, mas com novo formato e novos objetivos. De circulação bimensal e com distribuição gratuita através de E-mail e Whatsapp, três números já foram publicados, sendo entregues para mais de mil assinantes do Brasil e do exterior.

A proposta desse novo trabalho é entregar aos educadores espíritas – pais, tios, avós, professores, pedagogos, evangelizadores – material teórico e prático sobre educação, de acordo com os princípios espíritas. São conteúdos de aplicação na evangelização do centro espírita, no lar e na escola, num convite para a realização da educação moral do espírito reencarnado.

Vários colaboradores estão contribuindo para a nova Revista Educação Espírita: A.J. Orlando, responsável pelo layout e diagramação; eu, Marcus De Mario, como editor-chefe e distribuidor da revista; e os colaboradores Dalva Silva Souza, Orson Carrara, Antonio Cesar Perri de Carvalho, entre outros, e trazendo o resgate de textos e contribuições valiosas de Herculano Pires, Léon Denis, Walter Oliveira Alves, Pedro de Camargo, Ney Lobo e outros educadores espíritas que já não estão mais conosco, mas que deixaram importantes trabalhos.

Os espíritas mostram-se na atualidade mais conscientes da importância da educação, tanto que a literatura espírita sobre o tema reúne autores como Lucia Moysés, Walter Barcelos, Sandra Borba Pereira, Heloísa Pires, Anabela Sabino, Adeilson Sales e outros, com vários livros publicados dentro da temática educacional espírita, além de estarmos perto de comemorar cinquenta anos da Campanha Nacional de Evangelização Espírita Infantojuvenil.

Para fazer a assinatura da Revista Educação Espírita que, repetimos, é gratuita, basta acessar o link https://bit.ly/revista-educacao-espirita, que remete o interessado ao formulário para preenchimento com os dados necessários para cadastro.

Acreditamos que a Revista Educação Espírita é importante instrumento pedagógico para que os responsáveis pelas novas gerações possam melhor educar, motivo pelo qual temos publicado não apenas argumentações teóricas, mas igualmente dicas literárias, projetos educacionais e roteiros práticos.

Lembremos que, em sua essência, o Espiritismo é doutrina de educação, e que os benfeitores espirituais da humanidade declararam em O Livro dos Espíritos, que a finalidade maior da doutrina espírita é contribuir decisivamente para a transformação moral dos homens e da humanidade.

Faça sua assinatura e divulgue a Revista Educação Espírita, para que ela possa ser luz na formação do caráter das crianças e dos jovens, fazendo com que a educação moral e a educação do espírito possam ser realidade plena na vida humana.


segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Meu filho (minha filha) não é fácil

É comum vermos nas redes sócias, pais e mães postando vídeos onde seus filhos pequenos, na maioria até três anos de idade, fazem a maior bagunça em casa: rabiscam e pintam as paredes; se lambuzam com margarina, com a geladeira aberta; jogam no chão tudo o que está sobre a mesa; transformam a cozinha num mar de farinha e açúcar; se pintam com a maquiagem da mãe; correm, derrubando tudo o que encontram pela frente, e muitas outras coisas semelhantes. Claro que a criança acha tudo muito divertido, e ainda se exibe para a câmera, pois sabe que está sendo filmada, e vai ainda mais se divertir assistindo suas estrepolias na internet. E o pai e a mãe dizem que é assim mesmo, que não dá para controlar o filho ou filha, que sempre faz o que quer, e acham até mesmo bonito publicar esses vídeos e exibi-los para os familiares e amigos. Temos aqui uma gravíssima questão educacional.

Se os pais deixam os filhos fazerem sempre o que querem, o que eles não farão quando forem adolescentes, e depois na juventude, adentrando ao mundo adulto? Sem nunca terem conhecido limites às suas ações, sem nunca terem aprendido o respeito aos direitos do outro, tendo levado tudo na brincadeira sob o beneplácito dos pais, que se divertem com suas traquinices, se desculpando porque, afinal, seu filho ou sua filha não é fácil, não obedece, teremos instalado na sociedade verdadeiro caos, onde as melhores regras de convivência serão distorcidas a benefício do egoísmo de cada um.

Sim, toda criança nos primeiros anos de vida apronta alguma coisa, faz alguma traquinice, mas é dever dos pais, na sua missão de educar, é dever deles corrigir, mostrar o que é certo e o que é errado, o que pode e o que não pode. É dever dos pais, com autoridade moral, colocar em funcionamento os limites, os combinados, as regras, educando para a vida dentro da própria vida, para que o filho ou filha aprenda a fazer aos outros somente o que deseja que os outros lhe façam, pilar essencial da educação, pois somos seres de relação, dependentes uns dos outros, portanto vivendo em comum na sociedade, o que determina que, se em princípio, tudo posso fazer, entretanto nem tudo me fará bem e fará bem aos outros.

O exercício da autoridade moral dá trabalho e, por egoísmo ou indiferença, muitos pais preferem deixar que os filhos aprontem de tudo, se divertindo com os mesmos e produzindo vídeos, e, quando recebem críticas por esse comportamento, se desculpam, informando que não conseguem controlá-los, que essa atual geração de crianças não é nada fácil, que eles não gostam de limites, e assim toda uma geração se perde na formação de maus hábitos, nocivos a eles e à coletividade.

Esquecem os pais que o amanhã terá uma alta fatura a cobrar deles mesmos, pois a doença e a velhice vão chegar, e, nessa hora, onde estarão os filhos para amparar, proteger e cuidar dos “velhos”? Temos assistido em número crescente, e mais crescente do que gostaríamos de ver, pais e mães abandonados em hospitais ou casas de repouso, ou mesmo no lar, relegados a segundo plano na vida dos filhos. Por que isso está acontecendo? A resposta está nessa educação que flerta irresponsavelmente com a libertinagem, deixando os filhos crescerem olhando somente para si, sem outra diretriz a não ser tudo posso, tudo quero, sem assumir nenhuma responsabilidade. Devemos nos espantar com os males que encontramos na humanidade, diante desse quadro de irresponsabilidade educacional?

O Espiritismo nos alerta que as crianças de hoje são espíritos reencarnados, trazendo consigo hábitos, pendores, valores que precisam ser analisados, e que nem sempre são bons, e, portanto, nesse caso, são hábitos, pendores e valores a serem educados, a serem transformados, a serem corrigidos. Essa é a missão dos pais, missão essa outorgada por Deus, e da qual terão que prestar contas. Muitos homens e mulheres carregam vícios e paixões por culpa da fraca ou inexistente educação que receberam no lar, quando estavam na infância, essa é a verdade. Deveriam ter tido suas más tendências de caráter corrigidas, ao mesmo tempo em que deveriam ter suas virtudes desenvolvidas, mas nada disso aconteceu, e não por culpa deles, mas de seus pais.

Os pais não podem deixar seus filhos serem reis e rainhas despóticos, tudo fazendo. Isso é não exercer autoridade, é não agir como educadores. O filho, ou filha, pode ser um espírito rebelde, desafiador, mas não é por isso que os pais devem abrir mão de educar, de fazer todos os esforços para corrigir suas más inclinações. Quando o pai e a mãe deixam de lado o exercício da autoridade moral, compreendendo que a educação do caráter é prioridade da família, estão colocando no mundo seres humanos egoístas, indiferentes, materialistas e insensíveis. Depois da morte, Deus perguntará a esses pais: o que vocês fizeram com o filho que confiei a vocês? Meditemos seriamente sobre essa pergunta.


segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Mãe e filho

Com o título A Respeito de Seu Filho, o espírito Amélia Rodrigues escreveu através do médium Divaldo Pereira Franco, expressivo texto educacional, do qual vamos utilizar uma parte para nossas considerações. Esse texto está publicado no livro Crestomatia da Imortalidade, publicação da Leal Editora, e revela a sensibilidade da autora, que em sua última encarnação foi professora nas terras baianas, e agora, com visão espiritual aguçada, provoca sérias reflexões sobre o papel da mãe na educação do filho. Vamos à transcrição do trecho em destaque:

Seu filho é o discípulo amado que Deus pôs ao alcance do seu coração enternecido, no entanto, a sua tarefa não pode ir além daquele amor que o Pai propicia a todos, ensinando ao tempo, corrigindo na luta, e educando através da disciplina para a felicidade. Mostre-lhe a vida, mas deixe-o viver. Fale-lhe das trevas, mas dê-lhe a luz do conhecimento. Mande-o à escola, mas faça-se mestra dele no lar. Apresente-lhe o mundo, mas deixe-o construir o próprio mundo. Tome-lhe as mãos e ponha-as no trabalho, ensinando com o seu exemplo, mas não lhe desenvolva a inutilidade, realizando as tarefas que lhe competem. Seu filho é vida da sua vida que vai viver na vida da Humanidade inteira. Cumpra o seu dever amando-o, mas exercite o seu amor ensinando-o a amar e fazendo que no serviço superior ele se faça um homem para que o possa bendizer, mais tarde”.

Vamos sublinhar a parte final, quando ela nos diz que o papel missionário da mãe na educação do filho é ensiná-lo a amar, ou seja, ela deve amá-lo, fazendo todas as demonstrações do seu amor por ele, mas sem sufocá-lo, permitindo que o filho aprenda a amar o próximo, aprenda a pensar, e também agir, no bem coletivo. Temos sentido falta disso quando olhamos para os jovens, muitos deles indiferentes, insensíveis, egoístas, confundindo o amor com o sexo. Não sabem amar, não sabem exercitar esse que é o maior dos sentimentos, talvez porque não tenham recebido de suas mães o aprendizado do amor.

O amor é a essência da vida, pois emana de Deus, o amor perfeito, e por esse motivo recebemos de Jesus, o enviado divino, vigorosas lições sobre o amor: amar o próximo como a si mesmo; amar a Deus acima de todas as coisas; amar os inimigos; perdoar as ofensas; retribuir o mal com o bem. E ainda solicitou que aqueles que seguissem seus ensinos, tornando-se pois seus discípulos, deveriam ser reconhecidos por muito se amarem. Por tudo isso o Espiritismo considera Jesus nosso guia e modelo.

Destaquemos agora as orientações educacionais que Amélia Rodrigues faz às mães:

Deve se conscientizar que o filho é, na verdade, filho de Deus.

Deve ensinar todo o tempo.

Deve corrigir o filho no dia a dia, nas lutas cotidianas.

Deve discipliná-lo a fim de que o mesmo possa ser feliz.

Deve deixar que o filho caminhe com os próprios pés.

Deve matriculá-lo na escola, mas sem abrir mão de realizar, no lar, sua educação moral.

Deve ensiná-lo a trabalhar dando o próprio exemplo.

Preciosas lições dessa abnegada benfeitora espiritual, lições essas dirigidas especialmente às mães, pois são as grandes educadoras e mentoras dos filhos, colocando em evidência o amor na educação, pois sem amor, ou seja, sem sentimento, a educação pode se tornar árida, fria, sem conseguir os resultados desejados, sem conseguir sensibilizar o coração, sem lograr iluminar a consciência do filho.

Repare o leitor que a mensagem tem o objetivo de falar à mãe sobre a educação do filho, portanto é bastante específica, pois refere-se a educar o menino, o futuro homem, para que ele vença tendências trazidas do passado, tendências essas manchadas pelo egoísmo e orgulho, e que fazem com que muitos ainda se considerem superiores à mulher, o que é contrário aos desígnios divinos, o que leva a encontramos na sociedade humana, por exemplo, o feminicídio, o salário desigual para a mesma função, a discriminação de gênero, com o homem tendo mais direitos que a mulher, entre outras desigualdades e violências do homem em relação à mulher, que já deveríamos ter superado, pois os direitos são iguais, todos somos filhos de Deus.

Se você é mãe, lembre-se que seu filho, no futuro, dependerá da educação que você, hoje, está lhe proporcionando.


Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...