Palavras que fazem pensar
Foi no ano de 1943 que o público passou a encontrar nas livrarias a obra O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupery, que se tornaria um fenômeno mundial de venda, sendo considerada uma obra prima da literatura mundial. De sua deliciosa e imaginativa narrativa, trazemos para reflexão uma frase de um dos personagens, frase essa da qual sempre tivemos admiração, pela sua beleza e profundidade: “O essencial é invisível aos olhos”.
À primeira vista ela parece nada ter com a educação, mas isso é um equívoco, pois ela toca na essência da educação, ou seja, que no processo educacional, em todos os níveis, precisamos focar naquilo que vai além dos cinco sentidos, precisamos trabalhar a nossa espiritualidade, nossa transcendentalidade, pois se assim não fizermos, ficaremos na superfície da educação, confundindo-a com o ensino e a aprendizagem de conteúdos curriculares previamente programados.
Em verdade, é o que acontece há muito tempo. Estamos perdidos entre livros didáticos, apostilas, professores que tentam ensinar e alunos que tentam aprender, muitas vezes uns e outros sem saberem porque ensinam e porque aprendem. A escola mergulhou num abismo pedagógico e burocrático, tanto que muitos professores não admitem serem chamados de educadores, e estão certos, pois que não o são, somente sabem dar aula, aplicar provas e preencher formulários em papel ou online, conforme se lhes é determinado.
Ser educador é outra coisa. Ser educador é saber estimular os educandos (e não simplesmente alunos) a querer aprender; é orientar os educandos a saber pesquisar e estudar; é alimentar a curiosidade dos educandos; é ser facilitador do processo de aprendizagem dos educandos; é amar o que faz, interagindo com os educandos. Para ser um verdadeiro educador, muitos professores precisam transformar sua mentalidade, sua postura, seu trabalho, indo além do ensinar, ensinar e ensinar.
Aqui podemos voltar à frase “o essencial é invisível aos olhos”. A essência da educação, seu fundamento, está na compreensão que fazemos do ser humano. De acordo com essa compreensão desenvolvemos a educação. Basicamente temos no mundo duas visões principais sobre o ser humano, da criança ao adulto: materialista e espiritualista. Na visão ou pensamento materialista, o ser humano é um conglomerado biológico formado no ato sexual da concepção, que se desenvolve, cresce, vive e, um dia, morre; pensamentos e emoções derivam de funções neuronais específicas; a alma não existe, assim como tudo o que seja relacionado a ela. Na visão ou pensamento espiritualista, o ser humano é uma alma imortal que temporariamente ocupa um corpo biológico; a morte deixa de ser o fim da vida, pois se o corpo morre, a alma continua viva; pensamentos e emoções pertencem à individualidade imortal, e não ao corpo, que é apenas instrumento de manifestação da alma.
Se o essencial (quem somos, de onde viemos, o que fazemos aqui e para onde vamos) é invisível aos olhos materiais do corpo biológico, isso quer dizer que o essencial está além da matéria, mas, embora as escolas ensinem muitas coisas, não ensinam o que é invisível e principal, nossa imortalidade, e portanto, não nos preparam para ideais superiores de vida, lançando na sociedade indivíduos materialistas e egoístas, e todos conhecemos o resultado disso, bastando olhar para os males sociais que carregamos há tanto tempo.
Precisamos de uma doutrina filosófica, que está no Espiritismo, que transforme a educação a partir de uma visão espiritualista do ser humano e da vida, dando-lhe valores nobres, no resgate dos ensinos morais de Jesus, que são universais, não pertencem a esta ou aquela religião, nem mesmo são exclusividade dos cristãos. E não estamos aqui falando de ensinar a Doutrina Espírita nas escolas, o que seria um desrespeito às demais crenças, estamos falando de utilizar a filosofia espírita, que trabalha o que é essencial e invisível aos olhos, para transformar a educação, hoje totalmente materialista, e que, por isso, não tem conseguido transformar os homens e a humanidade.
O Espiritismo é doutrina de educação, tendo por finalidade alavancar a transformação moral da humanidade, casando-se perfeitamente com a visão do escritor Saint-Exupery, que em seu famoso romance infantojuvenil, uma obra prima filosófica, nos lança em pensamentos transcendentes, num convite à espiritualidade e religiosidade de nós mesmos. E isso é a essência da educação.
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