O combate à corrupção
A corrupção é um mal moral, e esse entendimento é fundamental para compreendermos que sua solução está na educação, que não se restringe a estudo de conteúdos de disciplinas curriculares na escola, mas abrange igualmente a formação do caráter, o desenvolvimento das virtudes, o combate às más tendências que o Espírito apresente desde o nascimento. Em outras palavras, a educação deve trabalhar, de forma equilibrada, harmônica, tanto o desenvolvimento cognitivo quanto o desenvolvimento emocional da criança, permitindo o crescimento autônomo acompanhado do cumprimento dos deveres e das responsabilidades para consigo e para com os outros, visando o bem estar social. A falta dessa visão mais aprofundada sobre a educação tem permitido a manutenção da corrupção, que anda de mãos dadas com a desonestidade e com a ideia materialista sobre a vida. Não é por outro motivo que o Espiritismo defende a urgente aplicação da educação moral, tanto na família quanto na escola.
Não confundamos a educação moral com lições de moral na infância, nem tão pouco com o ensino dos princípios desta ou daquela doutrina religiosa, cristã ou não, pois a educação moral está acima disso, e é muito mais profunda e ampla, pois trata-se de colocar em ação uma proposta pedagógica com metodologia e didática próprias, pois não se pode conceber que para educar moralmente se recorra a um trabalho feito de qualquer jeito. Se para a melhor educação intelectual, para a melhor aquisição de conhecimentos, recorre-se a estudos prolongados sobre o desenvolvimento psicogenético do ser humano, com foco especial no período infantil, desenvolvendo-se metodologias apropriadas, o mesmo deve ser feito com relação à educação moral, no desenvolvimento dos sentimentos.
Equivoca-se o educador que pensa baste contar uma parábola de Jesus para incutir nos educandos um comportamento moral que será, depois, revelado na vivência social. A contação de história é uma arte pedagógica, e ela, por si só, não poderá fazer o “milagre” da transformação moral de uma criança, tendo que estar inserida num contexto educacional mais amplo. E há maneiras e maneiras de se contar uma história e, dependendo de como é feito, pode motivar ou desmotivar, por isso mesmo, insistimos, é uma arte.
Uma questão que deve ser levada em conta pelo educador no trabalho da educação moral, é o contexto multicultural e tecnológico em que a nova geração está inserida. A internet, as telas digitais, as redes sociais, as ideologias políticas e de gênero, numa ebulição sem precedentes na sociedade humana, não podem ser desprezadas. As questões referentes aos avanços científicos e o uso ético de suas descobertas; as questões referentes à liberdade de expressão, entre outras, atingem com maior ou menor profundidade os Espíritos que agora estão reencarnando, e não podem ser desprezadas no contexto educacional da melhor preparação para a vida.
Essa abordagem não é um desvio de foco, pois a vida é educação, como nos alertam os Espíritos Superiores, e não podemos educar dentro de uma bolha, dentro de uma utopia. Basta lembrar que Jesus viveu o seu tempo normalmente, convivendo com as pessoas, enfrentando os desafios existenciais e culturais com desassombro, sem se isolar do mundo, legando-nos lições morais vivas, universais, aplicáveis em todos os tempos, utilizando os mais diversos recursos de ensino.
Como dissemos, para o desenvolvimento da educação moral, e o consistente combate à corrupção, atingindo suas causas, que são o egoísmo e o orgulho, precisamos compreender que ela, a educação moral, é essencial, mas que se ficar apenas em ensinos teóricos ou discussões filosóficas, não conseguirá lograr o cumprimento de sua finalidade, que é a boa formação do caráter do ser humano, levando-o a pensar nos outros, no bem coletivo, fazendo ao próximo somente o que deseja que este lhe faça.
Estamos no mundo, mas não somos do mundo. Nada nos pertence do ponto de vista material. Deixar-se corromper ou praticar a corrupção é perder a oportunidade reencarnatória de reparar más ações cometidas em existências passadas, e dar início ao processo de reparação das mesmas, com vistas ao nosso progresso espiritual e encontro com a verdadeira felicidade, que não está na posse dos bens materiais, mas no desenvolvimento do potencial divino que está em nós, e que deve florir através da prática das virtudes: honestidade, bondade, fraternidade, caridade.
Por mais esforços sejam feitos em ações de segurança pública, no aperfeiçoamento e aplicação da justiça, na distribuição de benefícios sociais, entre outras, não conseguiremos acabar com a corrupção, pois ela é um vício moral, e essas ações passam longe da educação, da verdadeira educação, que o Espiritismo nos apresenta sem rodeios, e cuja aplicação é urgente, se queremos que o bem predomine sobre o mal, se queremos que a caridade predomine sobre o egoísmo, se queremos que a humildade predomine sobre o orgulho.
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