Como educar sem estudar?

Recebemos com tristeza e apreensão a notícia que os brasileiros estão lendo cada vez menos, e que fazer a leitura completa de um livro, seja ele físico ou digital, está se revelando um verdadeiro sacrifício para muitas pessoas. Essa situação constatada por diversas pesquisas, também está acontecendo entre os espíritas. Se podemos perguntar como alguém pode ser advogado com pouca leitura, também podemos indagar como alguém pode evangelizar crianças e jovens no centro espírita, sem conhecer a educação espírita, sem fazer as leituras necessárias? O que vale para todas as profissões, também vale para o exercício voluntário da Doutrina Espírita, pois não basta ter boa vontade, é necessário conhecer.

Temos a experiência pessoal de participar de eventos reunindo os evangelizadores espíritas, em que muitos desconhecem Herculano Pires, Sandra Borba Pereira, Walter Oliveira Alves, Dalva Silva Souza, Ney Lobo, Cíntia Vieira Soares, Pedro de Camargo (Vinicius), Anália Franco, Eurípedes Barsanulfo, Lucia Moysés, entre outros educadores espíritas, todos com importantes trabalhos realizados e publicados. A leitura de seus livros é feita por uma parcela mínima dos evangelizadores, que querem sempre receber tudo pronto, mastigado, ou seja, a receita do bolo, quando sabemos que em educação essa receita não existe.

Apesar dos esforços na divulgação, estamos muito longe do ideal no número de assinaturas da Revista Educação Espírita, publicação bimestral, gratuita, que existe desde março de 2024. E as manifestações dos seus leitores são bem pequenas, dando-nos a impressão que se o trabalho não tiver continuidade, ninguém sentirá falta, apesar de seu conteúdo dinâmico, com a finalidade de ser um suporte para todos os educadores que abraçam o Espiritismo.

É de se lamentar profundamente tal realidade quando sabemos que o Espiritismo é, na sua essência, doutrina de educação do ser humano, Espírito reencarnado, tendo Allan Kardec o cuidado de, magistralmente, apontar em O Livro dos Espíritos a necessidade da aplicação da educação moral, como única alternativa para a regeneração dos indivíduos e da coletividade.

Voltando à questão da leitura, lembremos que a literatura espírita é farta, e que hoje temos à disposição muitos livros abordando a educação, inclusive com propostas pedagógicas práticas, e que não é possível educar à luz dos princípios espíritas sem conhecê-los, sem estudá-los. E ainda temos um suporte muito bom na internet com palestras, entrevistas e abordagens disponíveis em vídeo. Ou seja, não faltam livros, vídeos e outros materiais, mas parece que os espíritas ainda não despertaram para a necessidade e urgência da Educação do Espírito.

É de nosso conhecimento que muitas instituições espíritas ainda entendem que a evangelização infantil é apenas suporte para a reunião pública de palestra. Enquanto os pais assistem a palestra e recebem o passe, as crianças estão com os evangelizadores, num trabalho que fica restrito a quarenta ou cinquenta minutos, mesmo porque as crianças também tem que receber o passe, e devem estar prontas para reencontrar seus pais ao término da atividade pública. Isso, convenhamos, não é a verdadeira educação espírita, com o agravante que muitas instituições sequer possuem dependências específicas para a evangelização.

Quando propomos que os evangelizadores devem se reunir periodicamente para avaliar as atividades e estudar, logo recebemos a contrapartida que isso é muito difícil de acontecer, porque todos já são muito ocupados, não sobrando tempo para avaliar e, muito menos, estudar. Naturalmente o trabalho fica prejudicado quando não se tem tempo para avaliar, ler e estudar.

Diante de tudo isso, conclamamos os dirigentes, os coordenadores e os evangelizadores das instituições espíritas, para o despertamento em relação à essência e finalidade educacional do Espiritismo, e que evangelizar não é uma brincadeira, não é um passatempo semanal que pode acontecer de qualquer jeito, e nem sempre sendo prioridade dos próprios evangelizadores, pois sabemos que a vida continua depois da morte, e que haverá necessidade de nascer de novo neste mundo.

Perguntamos: como queremos encontrar a humanidade em nossa próxima reencarnação? Que você, leitor, reflita bem antes de responder, pois sem o desenvolvimento da educação moral do Espírito imortal, nosso futuro feliz pode estar bastante comprometido.

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