O progresso moral
Afirma Allan Kardec no utem 5 da Conclusão de O Livro dos Espíritos: “Com o Espiritismo a Humanidade entra numa fase nova: a do progresso moral, que lhe é consequência inevitável”. O pensamento é claro, bem estabelecido, não deixando dúvida: a consequência do estudo e aplicação da Doutrina Espírita junto aos indivíduos e às coletividades, é o desenvolvimento moral, caracterizando uma nova fase da sociedades humana. Como já se passaram mais de centro e sessenta anos do lançamento da obra básica, e continuamos às voltas com mil problemas, haverá equívoco por parte do codificador?
Antecedendo suas palavras que utilizamos na abertura deste texto, Kardec informa no item 4: “Sob todos os aspectos estamos ainda longe da perfeição e existem ainda muitos resíduos antigos a serem destruídos, até que tenham desaparecido os derradeiros vestígios da barbárie.” Vemos aqui visão de futuro com base na realidade. Nem Kardec, nem os Espíritos Superiores, afirmaram que o progresso moral seria alcançado em cem, duzentos ou quinhentos anos; na verdade, isso nunca foi estabelecido, pois a lei divina respeita nosso livre arbítrio e, portanto, o progresso moral se faz dentro de um processo natural, levando o tempo que se fizer necessário.
Mas, por que o Espiritismo deve ser considerado fator importante do progresso moral? O próprio Allan Kardec responde, conforme seu magistral texto no item 5 da Conclusão: “O Espiritismo é forte porque se apoia nas próprias bases da religião: Deus, a alma, as penas e recompensas futuras, e porque sobretudo mostra essas penas e recompensas como consequências naturais da vida terrena, oferecendo um quadro do futuro em que nada pode ser contestado pela mais exigente razão. Vós, cuja doutrina consiste inteiramente na negação do futuro, que compensação ofereceis para os sofrimentos deste mundo? Vós vos apoiais na incredulidade, e ele se apoia na confiança em Deus. Enquanto ele convida os homens à felicidade, à esperança, à verdadeira fraternidade, vós lhes ofereceis o nada por perspectiva e o egoísmo por consolação. Ele explica tudo, vós nada explicais. Ele prova pelos fatos e vós nada provais. Como quereis que o homem hesite entre essas duas doutrinas?”
São duas as ideias predominantes na humanidade, o materialismo e o espiritualismo, sendo que a primeira tem olhar apenas para a matéria circunscrita entre o nascer e o morrer, ou seja, nada existe depois da morte e deve-se viver com a maior intensidade possível os prazeres desta vida, ou viver com a dor e o sofrimento sem obter resposta que traga consolo e esperança. A segunda ideia, espiritualista, é onde se encontra o Espiritismo, mas com um diferencial muito importante, pois é doutrina racional, de base científica, nada tendo com o misticismo; a Doutrina Espírita que explica os porquês da vida e dá ao ser humano um profundo sentido de viver, mostrando que a vida continua depois da morte, que há vida futura, e que ninguém sofre por acaso.
Demonstra ainda o Espiritismo que todos somos perfectíveis e que caminhamos sim, mesmo que lentamente, para a perfeição, pois a lei de Deus que rege o universo é a lei de progresso. Quanto a essa caminhada, realizada individualmente e também coletivamente, eis que o Espiritismo apresenta outra diferença significativa para as demais doutrinas espiritualistas: proclama a necessidade da aplicação da educação moral do Espírito reencarnado que todos somos.
É através da educação moral que destruiremos o egoísmo, que é a causa de todos os vícios e de todas as paixões desenfreadas, isso porque o desenvolvimento das virtudes será o antídoto natural das imperfeições do caráter, imperfeições essas que ainda carregamos, pois teimamos em nos atolar no materialismo ou no misticismo, deixando a educação moral de lado, quando ela deveria ser prioridade.
Não temos porque nos espantar do progresso moral ainda estar lento, pois não estamos fazendo o dever de casa. O problema não está no Espiritismo, mas nos seres humanos que não querem saber de se melhorar, mesmo quando tem contato com a doutrina dos Espíritos, pois que procuram acomodá-la aos seus interesses pessoais, assim adiando e complicando sua evolução e, por consequência, da humanidade.
Será através da educação moral que aprenderemos, na teoria e na prática, a fazer ao outro somente o que desejamos o que ele nos faça, pilar essencial da educação e da vida, e daremos então um estímulo vigoroso ao progresso moral, estabelecendo a lei de amor como diretriz do nosso comportamento e do nosso relacionamento com os outros.
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