Avaliação de quem deveria fazer

O educador, filósofo e escritor Mario Sergio Cortella, conhecido pela sua vasta e profunda atuação, em entrevista concedida para a revista Isto É (29/01/21), indagado sobre sua avaliação do trabalho do atual Ministro da Educação, Milton Ribeiro, respondeu de forma incisiva, sem deixar dúvida, remetendo-nos a sérias reflexões:

Não tivemos a presença do Ministério da Educação como órgão orientador até agora, durante os 24 meses de governo. Então, não é nem possível avaliar, pois não há nada a ser avaliado. Nada foi feito. Não há clareza nenhuma. Não dá nem para fazer uma comparação com governos anteriores, pois não se tem um programa nem projetos.

Como não concordar com Cortella?

Até mesmo o que sempre foi feito, como o Enem, foi um choque de falta de planejamento e organização, com mais 50% de abstenção na prova presencial, e mais de 60% por cento de abstenção na prova digital, a que se somam as falhas técnicas. Um festival de horrores para o que já um horror, pois o Enem é uma prova vestibular disfarçada de prova de avaliação do ensino médio.

Dois anos do novo governo federal e três ministros da educação depois, não se sabe para onde vai a educação brasileira. O atual governo tem síndrome de pânico com tudo o que foi feito antes dele, não dando continuidade a nenhum planejamento ou projeto, e, em compensação, nada apresentando, piorando a situação grave da educação brasileira, que há muito tempo está com o sinal vermelho aceso.

Para sermos justos, há um projeto, único, do atual governo na área da educação: ampliar os colégios militares, espalhando-os por todo o Brasil. Percebe-se um sonho constrangedor, louco: militarizar a educação brasileira. Absurdo total!

Felizmente as instituições democráticas do legislativo e do judiciário, assim como outras da sociedade civil, não estão permitindo essa loucura, que não foi sonhada nem mesmo quando as forças militares estiveram no poder no período 1964-1985.

O MEC não tem que resolver tudo, é verdade, mas como lembra Cortella, precisa orientar, não pode deixar as secretarias de educação à deriva, sem norte, sem rumo, cada uma se virando como pode. Se é para ser assim, não há razão para o Ministério da Educação existir, pode ser extinto que não vai fazer falta.

O atual ministro não é de falar muito, nem de aparecer. Não se sabe o que está fazendo ou pretende fazer. Nenhuma política educacional está claramente delineada, não se sabe qual é o projeto político pedagógico do ministério para a educação do nosso Brasil. E tão caótica é a situação que, antes do término de 2020, os reitores das universidades federais se rebelaram contra a ordem da volta às aulas presenciais em meio à pandemia do novo coronavírus já no início de janeiro, fazendo com que o MEC adiasse a decisão para o mês de março.

É triste constatar que o que deveria ser essencial, a educação, é tratada como um nada, sem nenhuma consideração por parte do atual governo federal.

E ainda mais triste verificar que os ministros se sucedem defendendo ideologias radicais, anticientíficas e ultrajantes.

Então, avaliar o quê?

O fato é que nada aconteceu, nada foi feito e não se sabe o que virá pela frente, se é que tem algo para amanhã ou depois no âmbito do Mistério da Educação. Aliás, ele continua existindo lá em Brasília, ou o prédio já foi demolido por falta de uso?

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