O homem no centro da vida

A primazia do homem supõe que ele estará colocado no centro das preocupações do mundo, como um dado filosófico e como uma inspiração para as ações. Dessa forma, estarão assegurados o império da compaixão nas relações interpessoais e o estímulo à solidariedade social, a ser exercida entre indivíduos, entre o indivíduo e a sociedade e vice-versa e entre a sociedade e o Estado, reduzindo as fraturas sociais, impondo uma nova ética, e, destarte, assentando bases sólidas para uma nova sociedade, uma nova economia, um novo espaço geográfico. O ponto de partida para pensar alternativas seria, então, a prática da vida e a existência de todos.

Milton Santos

Hoje as relações sociais estão empoderadas no dinheiro e na informação. A economia de cada nação e a economia global regem os destinos humanos, muitas vezes sem considerar a existência do próprio ser humano, decorrendo dessa anomalia a globalização da miséria e a concentração de renda em poucas mãos. É um modelo perverso, desumano, perpetuado por interesses de grupos minoritários que controlam o Estado, somados aos interesses do lucro a qualquer custo das Empresas. A pergunta que se impõe é se podemos alterar esse modelo, se podemos transformar esse sistema dito neoliberal, enfim, se podemos recolocar o homem no centro do mundo, como fator principal da vida.

Em genial e sólida análise, o mestre Milton Santos afirma categoricamente que sim, em sua obra analítica Por Uma Nova Globalização – Do Pensamento Único à Consciência Universal.

Para quem não sabe, Milton Santos (1926-2001) é um dos grandes pensadores brasileiros respeitado internacionalmente, mas pouco conhecido dos próprios brasileiros. Com mais de 30 livros publicados e 400 artigos científicos, foi professor emérito da Universidade de São Paulo. Geógrafo conceituado, humanista, pacifista, é considerado um dos mais renomados intelectuais do Brasil, e com um detalhe importante: era negro, afrodescendente, tendo que vencer os preconceitos e discriminações raciais, totalmente intoleráveis, dessa condição.

A transformação pode ocorrer, e haverá de ocorrer, quando a vida do ser humano, de todos os seres humanos, for colocada como foco gerador das políticas. Do homem para o homem, pelo homem e com o homem. Será um novo paradigma consolidado através da solidariedade e da ética regendo todos os interesses.

Esse caminhar transformador passa, necessariamente, pela educação das novas gerações, uma educação humanizada substituta do ensinar pelo aprender, permitindo que se pense com liberdade, que se exerça a autonomia com responsabilidade, que se desenvolva a empatia nas relações interpessoais, que se pratique a solidariedade. Essa educação assegurará, como diz Milton Santos, a compaixão nas relações.

O homem não será mais predador do homem e da natureza, compreendendo que vive com eles e que essa vivência deve ser feita em harmonia, pois existe uma interdependência a ser respeitada, sob pena de continuar a carregar sobre os ombros males de toda ordem, tanto no nível individual quanto coletivo, como temos assistido.

O mal não é, propriamente, a globalização, mas sim como a entendemos e como a estamos formatando, priorizando o dinheiro e a informação para reger a vida humana, o que leva à desconstrução da educação, pois não é interessante para os grupos hegemônicos, sejam estatais ou empresariais, o crescimento intelectual e emocional do ser humano, pois quanto mais intelectualizado e equilibrado, mais ele tenderá para uma nova globalização, colocando-se como sujeito do processo, não mais priorizando a individualidade e sim a coletividade.

Cremos que esse novo paradigma é irreversível, e que todas as tentativas de frustrar sua evolução serão inócuas, não passando de obstáculos momentâneos geradores de crises que mais fortalecerão o desejo da transformação social, da obtenção de novas relações interpessoais com base na solidariedade e, repetimos, na ética.

O homem no centro das preocupações do mundo, no centro da vida, eis para onde estamos caminhando, mesmo que muitos assim não o queiram, mas o movimento maior das massas será a força transformadora da sociedade humana para melhor.

Comentários

Unknown disse…
Excelentes reflexões, realmente o caminho para uma sociedade mais igualitária é um processo irreversível que tem na educação sua principal força motriz, mas como disse Max e ruptura e consequente mudança dessa sociedade não acontecerá sem uma revolução, não necessariamente belicosas, mas sim uma revolução de ideias e atitudes.
O ser humano só voltará a ser o centro da e o motivo das realizações sociais, quando nós mesmos, homens, agiremos para que isso aconteça.
Essa maioria oprimidas terá que primeiro tomar consciência de si mesma como parte igual em importância da minoria opressora, o que só irá acontecer através da educação.
Coaduno com duas ideias e esperanças, abraço.
Parabéns querido Marcus de Mario pelo belo e orientador texto tão necessário à reflexão de todos nós.

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