Conversando sobre educação
Em conversa online com professores mais uma vez constato o quanto ignoramos o que seja verdadeiramente a educação.
A professora Vanessa argumentou:
Educar é transmitir conhecimentos, esse é o papel da escola, é o que tenho que fazer em sala de aula, trabalhando os conteúdos da minha disciplina.
A aquisição de conhecimentos, e que sejam úteis para o viver, faz parte do processo educacional, mas será que a educação se limita a isso? E o desenvolvimento socioafetivo da criança, onde fica? Quem faz? E permito-me mais uma pergunta: A escola limita-se à sala de aula, e nela o professor é apenas informante de conteúdos programados? Nesse caso temos que a escola está divorciada da vida, e o professor isolado da criatividade.
Já o professor Rodrigo, com bom tempo de cátedra, sentenciou:
Não me parece que seja nossa competência discutir a educação, não somos pagos nem contratados para isso, mas apenas para dar aula.
Aqui percebemos nitidamente que o professor não se considera um educador, mas apenas um auleiro, alguém que se preparou para dominar, ou decorar, o conteúdo de sua disciplina curricular, entrar na escola, dirigir-se à sala de aula e transmitir, às vezes sem os devidos cuidados metodológicos e didáticos, esse conteúdo, não levando em consideração o processo de aprendizagem de cada aluno, pois que cada um tem seu ritmo. Bem, como lembrou o professor Rodrigo, pensar sobre isso não é de sua competência. Ou será?
Na sequência da conversa, sentenciou a professora Magda:
Agora querem que nós professores também trabalhemos o emocional dos alunos. Ora, e temos tempo para isso? E com alunos que não querem saber de nada?
A fala da nossa querida professora nos levou a duas considerações específicas. Primeiro, que, de fato, o professor vive atolado numa burocracia infernal. Deve cumprir um currículo em tempo determinado, deve aplicar as provas de avaliação r corrigi-las, deve preencher os formulários, impressos e/ou digitais, lançar as notas e outras coisas mais que, de fato, lhe tiram um tempo precioso. É uma queixa válida, mas que não justifica o desprezo pelo desenvolvimento emocional dos alunos. Segundo, será que as crianças e jovens realmente não querem saber de nada? Ou será que se sentem entediados numa escola que não lhes dá liberdade, que se isola da realidade existencial, que prioriza o fazer sempre como foi feito e ponto final?
Desde a década de 1980 participo de encontros, rodas de conversas, seminários sobre educação, e o que venho constatando é a falta de visão e entendimento por parte dos professores sobre educação.
Numa palestra que fiz para alunos de uma faculdade de pedagogia, todos no quarto período do curso, depois de vinte minutos em tentativas frustradas, não consegui que eles dessem uma definição satisfatória sobre educação e pedagogia. Simplesmente não sabiam, pois ali estavam com o objetivo de serem professores, auleiros, passadores de conteúdos, repetidores do processo de ensinagem, como papagaios que sabem imitar a voz humana, mas não sabem pensar e fazer diferente.
Triste realidade da educação brasileira, que desde um bom tempo é chamada de ensino brasileiro, ou seja, até na terminologia oficial não se fala mais em educação: as escolas formam redes de ensino, quando deveriam ser de educação.
E assim vamos. Escolas isoladas da comunidade, afastadas da família, com professores que só sabem ensinar acompanhando livros didáticos e apostilas, e estudantes de pedagogia que sequer sabem o que essa palavra significa.
As conversas sobre educação são muito ricas, nos levam a uma explosão de reflexões, não para destruir, mas para construir o novo, de que tanto necessitamos para vislumbrar um amanhã melhor na sociedade humana.
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