Educação, política e lucro

Temos dois caminhos bem nítidos na educação brasileira: de um lado o sistema escolar público, à mercê da política partidária e dos mandos e desmandos do chefe de governo, seja ele municipal, estadual ou federal; de outro lado o sistema escolar particular, sendo rifado por empresas ditas educacionais, que visam apenas muito lucro com um ensino elitista e formatado. Pobre educação brasileira. São poucas as escolas resistentes e que conseguem fugir a um sistema degradado, que trocou o educar pelo ensinar, a aprendizagem pela memorização.

Do lado público, temos o histórico sucateamento das escolas, a politização da direção escolar, a falta de plano de carreira do magistério, os salários baixos e uma burocratização que sufoca a pedagogia.

Do lado particular, temos uma corrida desenfreada de empresas lutando entre si para ver quem tem o maior sistema escolar, e quem fatura mais, e lucra mais. Agora temos, inclusive, escolas separadas por nível de excelência. Se os pais tiverem dinheiro, seus filhos poderão estudar nas melhores escolas do sistema de ensino, do contrário, vão para as outras.

É bem provável que Anísio Teixeira, Paulo Freire, Anália Franco, Lauro de Oliveira Lima, Rubem Alves, Helena Antipoff, entre outros, estejam vertendo lágrimas diante dessa perdição educacional brasileira, que vem sendo construída já há algumas décadas. A bem da verdade, não temos mais educação em nosso país. Temos vários métodos de ensino em escolas que não trabalham a aprendizagem, não respeitam o ritmo de cada aluno, não se interessam por desenvolver a ética e a liberdade.

Os poderosos, sejam públicos ou particulares, têm medo, muito medo, da educação. Professores, livros e canetas dão arrepios a essas pessoas, pois significam promover o pensar, a criticidade, a autonomia, a criatividade. Isso pode tirá-las do poder. Não nos iludamos com os empresários da educação. Eles estão no ramo apenas para obter muito lucro. Criam empresas e sistemas de ensino parta fidelizar a clientela, malversando a educação, em escolas com aparência de excelência em qualidade, mas com projetos pedagógicos pobres, engessados, apostilados, onde tecnologia da informação é confundida com qualidade em educação.

Quanto ao sistema público de ensino, falar de escolas sucateadas, sem banheiro e água potável, é chover no molhado, pois fala-se disso há muito tempo. Assistimos governos se sucederem e a educação nunca ser prioridade, a não ser de fachada, no discurso, nunca na prática.

Hoje temos gerações mescladas em nossa sociedade, dos mais jovens aos mais adultos, que não sabem exercer sua liberdade com respeito à liberdade dos outros. Vemos pais perdidos diante dos filhos: simplesmente não sabem educá-los. E a corrupção, a desonestidade, a violência, a falta de ética, o individualismo egoísta, dominam em todos os níveis e setores da população brasileira. Não é à toa que assistimos embates políticos, religiosos, ideológicos radicalizando discursos e atitudes em nossa sociedade, gerando e cultivando mais males.

Toda nação que não dá importância à educação, é nação fadada ao derretimento moral de seus indivíduos e de sua coletividade. E quando a educação é sistematicamente confundida com a instrução, o ensino, temos aberta a porta para o precipício que faz com que essa nação se degrade, se desgaste e caminhe para uma crise de difícil e demorada solução.

Movimentos como o das escolas inovadoras, têm procurado tirar o Brasil desse precipício, mas é preciso bem mais do que isso para uma decidida transformação, para termos um novo rumo em nossa educação.

No atual momento, não enxergamos nas autoridades governamentais e nos empresários, ou seja, no sistema público e no sistema particular de ensino (educação!!!), visão e interesse em mudar as coisas, mas temos a esperança que isso aconteça mais cedo ou mais tarde, pois muitas vozes têm se levantado, e essas vozes haverão, com o tempo, de tornar fortes o suficiente esse grito pela educação, por uma nova nação brasileira, que não mais se curve aos déspotas, sejam estes agentes públicos ou empreendedores empresariais.

Somente a educação, bem compreendida e vivenciada, poderá transformar as pessoas, que por sua vez transformarão a sociedade em que vivem.

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