Do sono para a atividade

Nós temos que recriar, constantemente, nossa práxis como educadores, desafiando os estudantes a estarem alerta e não adormecidos, ou seja, a ter voz e não apenas ouvir a voz dos professores. A desenvolverem sua autonomia, a serem eles mesmos e não o reflexo de seus professores ou de suas professoras.

Paulo Freire

Por que eu tenho que estudar isso?

A pergunta do Paulinho deixou a professora embaraçada, que sacou logo a resposta padrão:

Por que está no currículo e um dia você vai precisar saber isso.

Todos os que já passamos pela escola sabemos que esse dia quase nunca chega, pelo menos não de forma consciente, pensada. Os muitos conteúdos que estudamos, memorizamos e comprovamos em provas, se foram, esvaíram-se de nossa mente e se perderam diante das necessidades existenciais, o que revela que na escola precisamos mudar o que fazemos, preparando os alunos para a vida, e não para receber conteúdos formatados e programados à revelia da realidade da vida.

Os professores precisam criar, na prática, um novo paradigma: deixar os alunos desenvolverem sua autonomia e serem os responsáveis pelos aprendizados. Isso não significa que o professor não terá o que fazer, pelo contrário, pois terá de acompanhar cada aluno no seu desenvolvimento, na sua aquisição de saber. Terá que trabalhar os conteúdos aplainando o caminho dos alunos, orientando-os constantemente. O que realmente muda em sua postura é que deixará de dar aula, deixará de se desgastar preparando tudo o que é necessário para desenvolver uma aula, pois estará na posição de orientador, facilitador do processo de aprendizagem realizado com autonomia, mas não sem direção, pelo aluno.

Os professores devem se permitir trabalhar dispondo os alunos em grupos de estudo e pesquisa, realizando rodas de conversa, debates e concluindo projetos de estudo, com ampla participação dos alunos, o que já foi provado ser muito mais eficiente do que dar aula, do que seguir rigidamente, dia após dia, conteúdos pré programados.

Para que tenhamos essa transformação da escola, do ensino, adentrando à verdadeira educação, temos que repensar a formação dos professores.

Sem investir na formação, e não meramente no treinamento dos educadores, é muito difícil concretizar uma educação que promova o pensamento crítico, que prepare estudantes e educadores para responder aos desafios impostos pelas mudanças nos estilos de vida.

Tem razão Paulo Freire, pois hoje os cursos técnicos e as faculdades de pedagogia preparam os futuros professores apenas para dar aula, e como esse sistema há muito tempo nos entrega péssimos resultados, as novas gerações querem distância do magistério. O professorado está envelhecendo e os responsáveis, sejam os pedagogos ou as autoridades, teimam em não querer aceitar a necessidade da transformação.

Estamos em sono profundo, letárgicos, deixando a educação ser confundida com a escolaridade diplomada, certificada, não se sabe para quê. Despejamos anualmente na sociedade milhões de seres humanos despreparados diante das realidades da vida, ostentando uma certificação profissional que nada diz deles mesmos, mais perdidos que cegos em meio a um tiroteio.

Contudo, não perdemos a esperança na transformação. Somos seres criativos, sonhadores, de atividade. A acomodação pode retardar a marcha do progresso, mas é inevitável progredir, tanto pela força das coisas, dos acontecimentos, como pela nossa força de vontade em querer fazer diferente para colher novos resultados. É assim que estamos trabalhando para sair do “sempre foi assim” para o novo, pois nossa esperança é que a educação transforme o homem e a humanidade para termos ética e solidariedade na vida.

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