segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Deixe cair a ficha

Muitos educadores querem transformar a escola tendo como referencial o projeto Escola do Sentimento, mas sem abrir mão da seriação, das provas, das notas, das turmas por idade, da atividade de recuperação, da reprovação, da aula. É impossível. Numa escola inovadora não temos aula, séries por idade, currículo fechado, provas, notas, recuperação, aprovação automática. Tudo é diferente, o trabalho é feito por ciclos, interatividade, autonomia dos alunos, professores que são orientadores, avaliação contínua e progressiva. Não existe semana de provas, notas bimestrais, nem carteiras enfileiradas em salas de aula.

Para que a escola seja diferente os professores precisam fazer diferente. Esse óbvio ainda não foi entendido pela maioria, ou seja, como se diz popularmente, ainda “não caiu a ficha”, os professores não se deram conta dessa necessidade, que não podem querer implantar uma metodologia inovadora mantendo uma escola que em tudo é tradicional, convencional.

Mas como fazer diferente? Como implantar uma metodologia tão revolucionária? Como isso é possível?

A primeira questão a ser entendida é que o projeto Escola do Sentimento, que é um projeto de escola inovadora, não é simplesmente um projeto metodológico, é um projeto filosófico, pedagógico, com base em princípios e valores que vão reger a nova metodologia centrada na aprendizagem e no desenvolvimento integral da pessoa do educando. Aliás, educadores e educandos aprendem juntos o tempo todo.

Ao querer mudar a metodologia escolar sem levar em conta o entendimento do projeto pedagógico, o trabalho tende a fracassar. Fica como aquele atleta que dá tudo de si no início da prova e perde o fôlego para sustentar a mesma, ficando longe do pódio. A questão não está em substituir atividades, mas em compreender a nova visão pedagógica do ser, da vida e da educação, e o novo fazer escolar que daí se desdobra.

O professor, antes, deverá discutir a si mesmo, seu papel, sua função, que na verdade não é de dar aula, aplicar provas e avaliar por notas. Ele deverá ser um orientador e facilitador das aprendizagens realizadas pelos alunos, E deverá ser humanizado, afetivo, pois o projeto Escola do Sentimento prevê uma escola que seja uma grande família.

Nessa discussão naturalmente surgirá uma nova compreensão sobre a educação, hoje considerada tão somente um processo de instrução ou transmissão de conhecimentos, daí porque tantos desvios sociais, pois não estamos focando na formação do ser humano para a vida.

Já deu para perceber que a transformação da escola é um processo que não se faz da noite para o dia, ou do dia para a noite, requerendo tempo. Primeiro a mudança das mentalidades, dos pensamentos e posturas, depois a mudança da metodologia, que será implementada pouco a pouco, envolvendo professores, alunos, pais, responsáveis e agentes comunitários.

É possível? Sim, perfeitamente possível. Veja-se o exemplo da Ponte, escola portuguesa conhecida internacionalmente como escola inovadora. Vamos olhar o Conhecer, escola brasileira em Minas Gerais. Temos igualmente a Amorim Lima, escola pública da cidade de São Paulo, um verdadeiro oásis no meio do deserto escolar. São apenas três exemplos, mas muito significativos, pedagogicamente ricos.

Professor, deixe cair a ficha! Você pode fazer diferente. A escola pode fazer diferente. A sociedade precisa que a educação seja diferente!

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Ser pessoa antes que profissional

 Temos muitas especialidades profissionais. Engenheiros, arquitetos, médicos, professores, advogados, biólogos, pedagogos e assim por diante, numa infinidade de profissionais tanto em nível técnico quanto superior, mas nem sempre encontramos no profissional uma pessoa, ou seja, nem sempre somos atendidos olho no olho, nem sempre somos ouvidos como gostaríamos, nem sempre somos tratados com respeito e humanidade. Isso acontece porque antes de ser um profissional, a pessoa deveria ser simplesmente e profundamente uma … pessoa.

Imaginemos essa situação no contexto da escola, onde o professor lida diretamente com pessoas: seus colegas de trabalho, os pais dos alunos e os próprios alunos. Se o professor for um burocrático do ensinar, sabendo apenas lecionar suas aulas, seguindo com rigidez o roteiro do livro didático, o processo educacional será desumanizado, frio, impessoal, sem calor humano, sem afeto, ou seja, na verdade não será um verdadeiro processo educacional, pois onde não há amor não há educação.

Já nos diz com acerto o amigo Pacheco, que a escola são pessoas, e pessoas devem primeiro se amar, se gostar, e gostar do que fazem, antes de serem profissionais.

Esclareço que estou me referindo ao educador José Pacheco, famoso por causa da Escola da Ponte, que por sua vez nos remete ao educador Rubem Alves, com suas reflexões poéticas acerca da educação. São dois amigos que provocam os professores para repensarem o que estão fazendo, colocando a educação e a escola em novas perspectivas.

As escolas, antes de analisarem provas e títulos para contratação de um professor, deveriam sentir a pessoa do professor. Como contratar um profissional que não revele amor pela educação, que não revele sentimentos pelos outros?

Quando não levamos em conta a pessoa, temos posturas como estas, retiradas de minha memória em encontros com professores:

Estou aqui na escola para dar aula da minha disciplina, e só.

Não ganho para ter que aturar os problemas que os alunos trazem de casa.

Já não chega a carga horária de trabalho, ainda tenho que aturar reunião pedagógica!

Reuniões com os pais deviam acontecer uma vez no semestre, e já é muito!

Quem quiser aprender que aprenda, não esquento minha cabeça com aluno preguiçoso.

Já escrevemos e falamos que o amor é a base da educação, é a essência do ato educativo, e que a humanização é o fundamento do processo de aprendizagem, portanto, na escola devemos ter amor e humanização reunindo pessoas para que ela, de fato, bem represente a educação, trabalhando em conjunto com a família e a comunidade.

Se para termos uma humanidade solidária, cooperativa, ética dependêssemos apenas de aprender matemática, língua portuguesa e outros conhecimentos, já estaríamos há muito tempo solidários, cooperativos e éticos, pois é isso o que encontramos na maioria das escolas, mas como falta amor e humanização, nosso desenvolvimento socioafetivo está no fundo do poço, por isso ainda mantemos a injustiça, a desigualdade social, a violência e o desamor.

Professor, antes de ser um profissional, lembre que é preciso ser uma pessoa, esse é o caminho para renovarmos a educação e a escola.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Reflexões sobre o amor na educação

Não é possível desenvolver a educação onde não está presente o amor. O professor precisa estar envolvido pelo amor maternal, aquele que é demonstrado pela mãe ao seu filho, para que o processo de educação da criança possa levá-la a desenvolver o potencial que possui, tanto na inteligência quanto no sentimento. Do mesmo modo que reconhecemos que nem toda mãe possui esse amor, mas pode desenvolvê-lo, reconhecemos que nem todo professor o possui, mas pode, igualmente, fazer com que desabroche do íntimo de seu ser.

O amor é a essência da educação, o pilar mais importante. Tudo deve estar subordinado ao amor no trato com os educandos, sejam crianças ou jovens. O professor deve ir além de dominar conhecimentos específicos e dar aula para ensinar esses conhecimentos. O saber é estéril sem sentimento, não atinge a finalidade superior da educação que é o desenvolvimento das potencialidades do ser integral que todos somos, na prioridade de sua formação moral.

Ao se dirigir à escola, o professor deve ter em mente que ela deve ser uma grande família, e que ele deve exercer o papel de tutor e orientador, como se fosse um segundo pai ou segunda mãe dos seus alunos, e que através do amor deve prepará-los para a vida, para terem autonomia com responsabilidade, para terem criticidade pensando no bem coletivo, para serem éticos em todas as circunstâncias.

O amor leva as pessoas a superarem as barreiras do preconceito e da discriminação. O amor leva as pessoas a serem pacíficas, combatendo a violência através da solidariedade e da fraternidade. O amor faz com que o interesse coletivo se sobreponha ao interesse individual, muitas vezes egoísta. O amor estabelece a vivência da cultura da paz, do diálogo, do respeito, do entendimento.

O amor envolve a compreensão e a solicitude, e, assim, o professor, como verdadeiro educador, se preocupará com o outro, com o ser humano que está à sua frente, em início de jornada, ávido de orientação, aconchego, bons exemplos. O professor deve transcender a disciplina curricular da qual é responsável, e mesmo nessa posição, deve ligar os conteúdos aos anseios dos educandos e às vivências da vida, pois todo ensino teórico sem a sua prática, é estéril, e o amor é vida, deve tudo vivificar.

Como disse uma professora em sentido depoimento ao encontrar um ex aluno da educação infantil, agora um jovem com os olhos cheios de lágrimas de reconhecimento, se os professores amassem mais o que fazem, teriam muito mais histórias bonitas para contar do que reclamações a fazer. Seriam ternamente lembrados pelos alunos que, por sua vez, os amariam e se sentiriam bem na escola.

O professor não deve ir à escola de forma burocrática, cumprindo um penoso dever profissional, pois assim procedendo mata a educação na sua base e determina a morte de toda uma geração, pois nele faltará o amor, e onde o amor não se encontra, não há vida.

A escola é feita por pessoas. A educação é desenvolvida por pessoas. A relação educador e educando é relação entre pessoas, seres humanos dotados de inteligência e sentimento, e como a mãe senta para conversar com seu filho e o abraça, no mais puro sentimento de amor, esse deve ser o mesmo procedimento do professor, se quer que a escola tenha menos problemas e muito mais alegrias, e que a educação, de fato, alcance sua finalidade para termos uma sociedade humana melhor.

O amor é a base, é a essência da educação. 

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O tempo está passando

A janela da vida mostra que o tempo passa e a educação não é prioridade em nosso país. E, teimosamente, fica no ar a pergunta: por que a educação não é prioridade para os governantes brasileiros? Essa é uma constatação histórica: entra governo, sai governo, sejam eles de centro, direita ou esquerda, e as prioridades são a economia, a política, a infraestrutura, a segurança pública, nunca a educação que, apesar de receber verbas generosas, fica sempre ao sabor dos conchavos político-partidários.

Embora tenhamos uma rede pública escolar gigantesca, todos sabemos que parte das escolas está sucateada, que faltam recursos, às vezes mínimos, para a boa prática pedagógica, que em muitos municípios os professores não tem plano de carreira e, muito menos, salário digino.

Ainda pior do que tudo isso é constatar que os administradores e legisladores públicos não sabem o que seja a educação, confundindo-a com o ensino de conteúdos curriculares, fazendo da escola uma simples passadora de conhecimentos. E quando demonstram saber o que seja educação, tudo fazem para malversá-la, pois povo educado significa ter um eleitor perigoso, ou seja, consciente, crítico, empoderado, o que na política do cabresto não é bem visto pela classe dirigente, manipuladora e mantenedora de privilégios.

Isso explica porque a educação nunca foi prioridade: não existe vontade política. Com o passar do tempo os cursos de formação de professores passaram a adestrá-los para serem auleiros seguidores de livros didáticos, e assim as escolas centraram o processo educacional na ensinagem, quando o correto seria estar centrado na aprendizagem, com autonomia. Hoje os professores sabem apenas ensinar segundo o que consta no currículo, não sabem mais fazer pensar.

A realidade educacional brasileira é triste e vergonhosa. A deterioração e o desvio de finalidade é tao grande que se fala apenas em sistema de ensino, quando deveríamos nos referir a sistema educacional.

O empobrecimento da educação facilita a disseminação do negacionismo científico, das fake news, do radicalismo ideológico, da violência, da manipulação política do povo, que, em grande parte, fica à margem, na dependência das benesses das autoridades públicas que muito prometem e pouco fazem.

O tempo está passando e as perspectivas de mudança no campo da educação são diminutas no curto e médio prazo. Quanto ao futuro, o sonhar por uma educação melhor está, no mínimo, delicado, difícil.

Mas não somos derrotistas, pelo contrário, mantemos a chama da esperança acesa e, mais do que isso, trabalhamos para que essa chama acenda nas mentes e corações dos brasileiros, para que as novas gerações possam compreender a importância e finalidade da educação, único caminho para transformação moral da nossa sociedade e, portanto, da nossa nação.

Deixo aqui o convite para você refletir sobre os rumos do Brasil, não apenas do ponto de vista histórico, olhando para trás, mas com um olhar para o futuro, lembrando que o amanhã depende do que estamos fazendo hoje. 

terça-feira, 3 de agosto de 2021

O equívoco de mãos dadas com a irresponsabilidade

Todos os anos ouvimos sempre a mesma expressão: Volta às aulas! Governadores, prefeitos e secretários de educação pensam equivocadamente que educação é sinônimo de retorno anual das aulas nas escolas. E os pedagogos também! Em tempos de pandemia e ensino online, transformaram a educação a distância em novo caminho para volta às aulas, e não poderia ser diferente, pois os professores sabem fazer uma única coisa na escola: dar aula!

A aula, um anacronismo sem tamanho, que ninguém sabe dizer porque possui cinquenta minutos de duração, é uma aberração instrucional, um faz de conta educacional, responsável pela falta de ética das pessoas, pelo uso indevido da liberdade, e pela baixa cultura dos indivíduos, que, por não saberem para que servem todos aqueles conteúdos que são obrigados a engolir e memorizar, logo se livram deles na primeira oportunidade, ou seja, logo após as provas e as notas que garantem passar de ano e conseguir o famigerado certificado de conclusão de curso.

Há décadas estamos nesse sistema, infantilizando as gerações e mantendo a ignorância e a corrupção, assistindo males sem conta invadirem nossa sociedade, e com transferência absoluta de responsabilidades: ninguém é culpado pelo sistema de ensino falido e pelo caos social.

Propor ao professor que faça roda de conversa com os alunos é como se estivéssemos sendo indecorosos e desrespeitosos para com ele. Dizer ao professor que permita que os alunos façam pesquisas em grupo e perguntas para tirar dúvidas, parece significar um absurdo pedagógico, quando na verdade é uma prática pedagógica saudável. Dizer ao professor que utilize o ensino online com fóruns interativos e debates em videoconferência, é ouvir um sonoro não sei fazer isso! Ou isso dá muito trabalho!

Ora, mais trabalho que elaborar e corrigir provas inúteis, que nada avaliam, não existe. Mas os professores, formatados em ensinar, instruir e obedecer burocracias, já não sabem pensar, ou pelo menos têm muita dificuldade, com medo de perder o emprego. É mais cômodo ficar na zona de conforto e arranjar uma licença médica.

Ensinar e instruir mantém os alunos sem aprender a pensar, sem aprender a se colocar no lugar do outro (como faz falta a empatia!), sem aprender a assumir responsabilidades, reforçando o individualismo egoísta que assistimos diariamente em todos os lugares e circunstâncias.

Já dizia e indagava o Lauro de Oliveira Lima, lá em 1960:

O que os jovens precisam é aprender a solucionar, a criticar, a escolher o que é válido e autêntico na multiplicidade de informes fornecidos pelos meios de comunicação modernos. Mas, onde encontrar mestres para dirigir uma escola crítica?

E o Lauro, quando isso escreveu, nem sonhava com a existência da internet e suas ferramentas de pesquisa, redes sociais, aplicativos e tantas outras coisas que agora temos, numa multiplicidade sem fim de informações.

Entretanto, no horizonte desponta uma escola crítica, com professores criativos e alunos participativos. Ela já existiu na primeira metade do século vinte: as Escola Novas, abafadas pelo conservadorismo e pela pecha de serem escolas experimentais, quando na verdade eram escolas com propostas pedagógicas diferentes e de muito bom resultado.

Hoje temos o movimento das Escolas Inovadoras. O futuro dirá dessa luta em substituir o instruir pelo educar, o ensinar pelo aprender.

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...