Autonomia e moral na educação

Ao longo de quase 23 anos à frente do Ibem Educa, organização não governamental sem fins lucrativos, já ouvi vários educadores, muitos amigos, ponderando que devo parar de falar em educação moral, que essa fala não é bem vista no meio educacional entre professores e pedagogos, talvez sendo barreira nas escolas às propostas pedagógicas apresentadas pelo instituto.

Apesar dessas falas nunca mudei meu discurso nem o foco do Ibem Educa, apenas, vez ou outra, substituindo a educação moral por educação em virtudes, educação ética e assim por diante, mas com o conteúdo sempre direcionado para o que entendemos da educação ser desenvolvedora do caráter das crianças e jovens, do seu senso moral.

Não estou sozinho nesse entendimento. Eis o que fala o educador Paulo Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia:

Transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é substantivamente formar.”

Antes de continuar, um aviso aos leitores: não estou interessado em fazer discussão sobre o viés político-ideológico de Paulo Freire, estou concentrado em seu pensar sobre educação, e ele é bem claro em dizer que a educação é essencialmente formadora do ser humano, e nessa formação não como desvincular a formação técnica da formação moral, elas são indissociáveis.

Como diz o patrono da educação brasileira, e respeitado internacionalmente, os professores, considerando a natureza humana integral não podem apenas ensinar conteúdos de disciplinas curriculares, devem igualmente se preocupar com a formação moral dos alunos.

A escola é instituição humana de educação do ser humano, e é formada por pessoas, seres humanos em interação, em desenvolvimento cognitivo e emocional, tanto as crianças, os jovens e os adultos, pois o processo de educação é contínuo e está presente por toda a vida. Não há como afirmar que já sabemos tudo, que já desenvolvemos tudo, sempre é tempo de aprender, de constantemente estar aprendendo.

É triste verificar professores que enfaticamente afirmam estar na escola apenas para cumprir seu papel profissional de passadores de conteúdos, cuja única preocupação é ensinar os conteúdos obrigatórios do currículo, na carga horária estabelecida pela lei e obedecer as burocracias administrativas e pedagógicas.

Todo professor deve ser um educador, e sei que esta minha afirmação vai levar muitos leitores a fechar o texto, pois assim não se consideram, mas apenas e tão somente professores.

Precisamos trabalhar a formação moral das novas gerações, dando-lhes autonomia com responsabilidade, levando-as a serem solidárias e éticas, humanizando-as e sensibilizando-as para o pensar no bem comum. Esse é o verdadeiro papel da educação, unindo os esforços da escola com os da família.

Para encerrar, deixo como reflexão o pensamento de Paulo Freire: “educar é substantivamente formar.”

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