segunda-feira, 25 de julho de 2022

O que é liberdade?

Participando de uma amena conversa entre amigos, ouvi considerações sobre a liberdade e como trabalhá-la com as crianças, sejam estas filhos ou alunos. Antes de externar minha opinião formulei alguns pensamentos íntimos sobre o tema, lembrando que a liberdade, exceção feita à liberdade de pensar, deverá sempre ter um limite, e esse limite está no respeito ao direito do outro em exercer sua própria liberdade. Como nem sempre sabemos compreender esse limite somos necessitados de leis e regras que impõem limites no uso de nossa liberdade. Naturalmente essas leis podem ser questionadas, assim como as regras podem ser modificadas, e assistimos isso ao longo do tempo em todas as nações, em todos os povos.

Há uma regra, por sinal antiga, mas válida por ser universal e atemporal, que colocada em uso dá ao ser humano perfeito norteamento para o uso da liberdade: fazer aos outros somente o que gostaríamos que eles nos fizessem. Isso nos remete a um processo educacional de nós mesmos e, num esforço de pensamento filosófico, na antevisão do futuro, podemos vislumbrar o quanto ganharemos de paz, justiça e felicidade com a prática desse preceito.

Reclamamos muito o direito à liberdade, mas muitas vezes esquecemos que esse direito corresponde ao cumprimento de nossas responsabilidades, isso porque para cada liberdade temos o correspondente de uma responsabilidade a ser assumida. É o que deve ser ensinado às crianças.

O ensino da liberdade acompanhada da responsabilidade não pode ser feito apenas na teoria, com explicações verbais, Embora tenham sua validade e sejam importantes, explicações verbais perdem muito de sua força quando não são acompanhadas dos exemplos de quem ensina.

Imaginemos os pais explicando aos filhos que estes devem respeitar o direito dos outros, quando as crianças assistem seus primeiros e diretos educadores sistematicamente burlarem as leis e passarem por cima dos outros! Podemos igualmente imaginar os professores ensinando liberdade com responsabilidade aos alunos, quando estes sabem muito bem que seus mestres são os primeiros a não dar cumprimento ao que ensinam?

Temos na literatura filosófica e pedagógica muitos tratados sobre liberdade, assim como através da internet, no mundo digital de nossa época, muito conteúdo sobre o tema. Ler e filtrar com o uso da razão e do bom senso é o que nos compete, no uso de nossa liberdade, para reter apenas o que seja útil e bom, não apenas para nós mas para os outros, pois vivemos em coletividade e isso não pode ser esquecido.

Minha ação no mundo envolve os outros e tudo o que existe na sociedade humana e na natureza, e esquecer disso é não ser responsável, portanto, é não estar usando bem a liberdade.

Mesmo a chamada liberdade de expressão, de opinião, possui limites. Liberdade de expressão ofensiva, detratora, vexatória, caluniadora, mentirosa, que tumultua, destrói ao invés de construir, está ferindo tanto a regra moral de só fazer aos outros o que desejamos que eles nos façam, como fere as regras comportamentais definidas pela própria sociedade da qual participamos, e que se encontram nas suas leis.

Com o intuito de reforçar o que já dissemos, lembremos sempre que nossa liberdade tem o limite do respeito aos direito do outro de exercer sua liberdade, e vice versa, e que esse ensino às crianças deve ser acompanhado dos bons exemplos dos seus educadores, ou seja, que aqueles que ensinam devem ser os primeiros a exemplificar na sua conduta diária o que ensinam.

Cremos que, assim, não teremos nenhum problema com a liberdade, pois ela estará perfeitamente compreendida através de parâmetros educacionais que nos darão um viver mais pleno, mais ético e humanizado.

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Era uma vez...

No início dos anos dois mil comparecemos a inúmeros eventos educacionais a convite de seus organizadores, realizando palestras, seminários e oficinas com professores e gestores, e recebemos muitos elogios de educadores entusiasmados e interessados em dar continuidade prática às ideias de inovação e humanização na escola. Sempre saímos dos eventos esperançosos quanto à continuidade das propostas pedagógicas, embora sabendo das dificuldades naturais do terreno educacional.

Seja por comodismo, medo, inércia e o que mais, a maioria dos educadores têm todas as desculpas para justificar a não implantação das propostas, desde questões burocráticas até receios pedagógicos, que uma boa avaliação mostrariam serem infundadas.

Quando mostramos que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional referenda nossa proposta pedagógica e dá respaldo legal à escola para fazer diferente, normalmente os olhares são atônitos e ouvimos balbucios: “não sabia disso”, “preciso estudar melhor essa lei”; entre outras expressões.

Os educadores das escolas públicas respaldam sua inércia com a famosa desculpa que o sistema não permite, é engessado, não há apoio da direção escolar, que por sua vez alega não ter apoio da coordenadoria regional (quando existe), que por sua vez ressente-se de falta de apoio da secretaria de educação.

Os educadores das escolas particulares respaldam sua inércia com o jargão bem surrado que a escola tem um projeto pedagógico fechado, que não sentem apoio da coordenação pedagógica, que por sua vez afirma ter que obedecer as diretrizes dos donos da escola.

Se todas essas alegações têm seu fundo de verdade, não é menos certo que paira sobre os professores e os pedagogos uma síndrome do medo de fazer fora do padrão, do modelo instituído e exaustivamente repetido e de confrontar o sistema, seja público ou privado, para fazer pedagogicamente diferente, colocando a educação no patamar que todos desejamos na melhor formação das novas gerações.

Assim, o tempo foi passando e nada vimos de concreto aparecer no horizonte das escolas. As promessas foram esquecidas, o entusiasmo foi substituído pela conformação.

Mas nesse tempo fomos chamados por educadores entusiastas, idealistas, de Leopoldina, em Minas Gerais, que já andavam a fazer uma escola diferente, e que deram continuidade à mesma, e fomos ano após ano para lá, em memoráveis encontros que alicerçaram e ampliaram a proposta educacional.

Se por este Brasil afora as iniciativas não passaram de fogos de artifício que logo se extinguiram, ficou o consolo de ver uma experiência escolar bem sucedida em Leopoldina, se bem que restrita a uma escola, mas fazendo luz no marasmo educacional de nossas terras.

E seus valorosos educadores lutaram, e ainda lutam, contra diversos fatores adversos, sem desistir, mantendo uma escola inovadora, humanizada, que faz diferente e, com isso, faz a diferença na educação.

O Conhecer, a escola lá das terras mineiras de Leopoldina, não ficou no era uma vez…

Bem gostaríamos que outras escolas seguissem esse exemplo, motivo pelo qual, reafirmando o Rubem Alves, mantemos a chama da esperança sempre acesa, afinal quem semeia um dia haverá de colher os frutos.

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Um olhar sobre a vida

Este texto inaugura uma série semanal de meus olhares sobre fatos da vida humana. Olhares humanizados num mar de indiferenças e egoísmos que ainda nos caracterizam. Em princípio, salvo algum acontecimento não planejado, os textos serão publicados toda quinta-feira pela manhã, convidando a você, leitor, para salutares reflexões e atitudes positivas para transformar o mundo em que vivemos.

Na semana passada vários meios de comunicação trouxeram o resultado de pesquisa realizada pelo InfoGlobo, acionando a Lei de Acesso à Informação, conhecida como Lei da Transparência, sobre o abuso sexual com crianças e mulheres no Estado do Rio de Janeiro, conforme registros oficiais da Polícia Civil desse estado.

A pesquisa constatou que crianças na faixa de 11 a 14 anos são as principais vítimas de estupros coletivos; que acontece um caso a cada 36 horas; uma em cada quatro vítimas é menor de idade; atacadas em 84,6% das ocorrências, as mulheres são ampla maioria entre os alvos de estupro; os agressores normalmente filmam o ato para intimidar as vítimas.

Além desses dados que merecem toda a nossa atenção, outro resultado da pesquisa se revela muito preocupante: relatos nos boletins de ocorrências da polícia civil revelam que muitos estupros coletivos acontecem nas escolas, em seus banheiros, áreas mais isoladas e inclusive na sala de aula, na ausência de um professor.

Uma das vítimas, menor de idade, relata que um professor faltou e a turma se dispersou pela escola enquanto aguardava a próxima aula. Ela ficou na sala para estudar. Nisso quatro colegas, meninos, entraram, a agarraram e abusaram sexualmente dela, enquanto outro ficou na porta vigiando. Todos colegas da mesma turma. Abalada, traumatizada, ela ficou chorando e o professor seguinte percebeu que algo estava errado e acionou a coordenação e direção escolares.

É isso mesmo que você acaba de ler: estupro coletivo na escola. E vários outros relatos estão registrados e sendo investigados pela polícia.

O que está acontecendo?

Por que os homens – e os meninos – continuam a ver a mulher – e as meninas – apenas como objetos sexuais?

Não somos objetos sexuais, somos seres humanos, merecemos ser respeitados, fazendo ao outro somente o que desejamos que o outro nos faça. Pelo fato de sermos todos seres humanos, isso já indica a necessidade de sermos solidários e fraternos uns com os outros.

Mas isso não está sendo trabalhado pela educação, nem na família, nem na escola. Estamos tão voltados para conhecer, para ter informações acumuladas, para nos dar bem em provas, testes, vestibulares, concursos públicos, que deixamos os valores, o respeito à vida e tudo o mais em segundo plano (ou será terceiro plano?).

O estupro coletivo de menores de idade contra suas colegas em plena escola é a demonstração da falência da nossa educação, de como estamos mal preparando as novas gerações para a vida, o quanto estamos despejando na sociedade, diariamente, seres humanos que somente sabem viver dos instintos brutais sem nenhum respeito ao outro. Não sabem sentir e se colocar no lugar do outro, ou seja, não têm empatia.

Se o estupro coletivo atinge as crianças, mais particularmente as meninas, não é de se estranhar que tenhamos as mulheres constantemente assediadas, estupradas e assassinadas (feminicídio) em nossa sociedade. É o retrato do machismo reinante, sem limites, fazendo do sexo feminino simples objeto manipulável para o prazer e a violência dos homens.

Precisamos mudar isso, e é urgente.

A educação pode não conseguir mudar a sociedade humana, mas é a força que pode mudar os seres humanos, que então transformarão a humanidade (em tempo: essa frase é do educador Paulo Freire).

Escola é lugar de conflitos?


 

segunda-feira, 4 de julho de 2022

A esperança na educação

Para que as crises possam ser momentos frutíferos, torna-se necessário ao homem ter uma visão esperançosa de sua existência.”

Pierre Furter

Pensadores e educadores como Pierre Furter, Rubem Alves, Erich Fromm, Paulo Freire, entre outros, destacam a importância da esperança na vida e na educação, pois sem esperança qualquer crise pode levar o ser humano ao derrotismo e ao surgimento do totalitarismo, quando líderes carismáticos aproveitam o estado de inércia e paroxismo da população para se fazerem salvadores da pátria.

Toda crise é prenunciadora de transformação, de um novo tempo que se faz iniciar através de um processo de transição, motivo pelo qual a esperança é muito importante, para que saibamos bem aproveitar esse momento e dele fazer surgir novos tempos.

A esperança é diferente do otimismo. A pessoa otimista vive dos fatos exteriores, portanto, quando estes estão precários, ela se entrega ao pessimismo. A pessoa esperançosa vive da sua força interior, então quando os fatos estão ruins, ela avança mesmo assim, para transformá-los para melhor.

A esperança deve aceitar a crítica e o desafio, levando-nos a uma tomada de consciência das nossas carências, para agir na transformação das mesmas.

Somos seres não perfeitos, não acabados, em constante crescimento, sempre diante de novos conhecimentos e aprendizados, vivendo dinamicamente em inter-relacionamentos com os outros e com a natureza, ou seja, somos aperfeiçoáveis, portanto, nunca podemos perder a esperança, pois ela é a virtude que nos garante ser possível continuar a viver, superando obstáculos e promovendo o novo.

Na educação a esperança é o motor dos nossos desejos, que nos motivam a querer aprender, a querer ter uma formação profissional, a querer ser alguém na vida, a querer ter uma família, a querer fazer diferente dos que nos antecederam, a querer construir uma sociedade mais justa. A educação somada à esperança desperta em nós os sonhos, animando a vida e fazendo com que sejamos reflexivos, não aceitando qualquer coisa que queiram nos impor.

É ainda o educador suíço Pierre Furter, em seu livro Educação e Vida, que nos diz:

A esperança é uma maneira de encarar a nossa existência neste tempo atual, considerando-a como um campo de possibilidades abertas à ação.”

Muito mais do que proporcionar conhecimento intelectual sobre diversos assuntos, temas e ciências, a educação deve trabalhar para que o ser humano tenha esperança e a utilize para transformar a vida e a humanidade, com visão global, agindo numa sociedade em evolução constante.

A educação deve estar profundamente animada pela esperança.

Indo além da rotina das aulas, o educador deve colocar em ação sua capacidade de crescer, de criar, de interagir com os educandos, dinamizando seu trabalho e permitindo a participação dos educandos no processo escolar, comunicando sua esperança a eles, ao mesmo tempo em que se contagia com a esperança de cada criança ou de cada jovem.

Não pode haver verdadeira educação sem a esperança.

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...