Um olhar sobre a vida

Este texto inaugura uma série semanal de meus olhares sobre fatos da vida humana. Olhares humanizados num mar de indiferenças e egoísmos que ainda nos caracterizam. Em princípio, salvo algum acontecimento não planejado, os textos serão publicados toda quinta-feira pela manhã, convidando a você, leitor, para salutares reflexões e atitudes positivas para transformar o mundo em que vivemos.

Na semana passada vários meios de comunicação trouxeram o resultado de pesquisa realizada pelo InfoGlobo, acionando a Lei de Acesso à Informação, conhecida como Lei da Transparência, sobre o abuso sexual com crianças e mulheres no Estado do Rio de Janeiro, conforme registros oficiais da Polícia Civil desse estado.

A pesquisa constatou que crianças na faixa de 11 a 14 anos são as principais vítimas de estupros coletivos; que acontece um caso a cada 36 horas; uma em cada quatro vítimas é menor de idade; atacadas em 84,6% das ocorrências, as mulheres são ampla maioria entre os alvos de estupro; os agressores normalmente filmam o ato para intimidar as vítimas.

Além desses dados que merecem toda a nossa atenção, outro resultado da pesquisa se revela muito preocupante: relatos nos boletins de ocorrências da polícia civil revelam que muitos estupros coletivos acontecem nas escolas, em seus banheiros, áreas mais isoladas e inclusive na sala de aula, na ausência de um professor.

Uma das vítimas, menor de idade, relata que um professor faltou e a turma se dispersou pela escola enquanto aguardava a próxima aula. Ela ficou na sala para estudar. Nisso quatro colegas, meninos, entraram, a agarraram e abusaram sexualmente dela, enquanto outro ficou na porta vigiando. Todos colegas da mesma turma. Abalada, traumatizada, ela ficou chorando e o professor seguinte percebeu que algo estava errado e acionou a coordenação e direção escolares.

É isso mesmo que você acaba de ler: estupro coletivo na escola. E vários outros relatos estão registrados e sendo investigados pela polícia.

O que está acontecendo?

Por que os homens – e os meninos – continuam a ver a mulher – e as meninas – apenas como objetos sexuais?

Não somos objetos sexuais, somos seres humanos, merecemos ser respeitados, fazendo ao outro somente o que desejamos que o outro nos faça. Pelo fato de sermos todos seres humanos, isso já indica a necessidade de sermos solidários e fraternos uns com os outros.

Mas isso não está sendo trabalhado pela educação, nem na família, nem na escola. Estamos tão voltados para conhecer, para ter informações acumuladas, para nos dar bem em provas, testes, vestibulares, concursos públicos, que deixamos os valores, o respeito à vida e tudo o mais em segundo plano (ou será terceiro plano?).

O estupro coletivo de menores de idade contra suas colegas em plena escola é a demonstração da falência da nossa educação, de como estamos mal preparando as novas gerações para a vida, o quanto estamos despejando na sociedade, diariamente, seres humanos que somente sabem viver dos instintos brutais sem nenhum respeito ao outro. Não sabem sentir e se colocar no lugar do outro, ou seja, não têm empatia.

Se o estupro coletivo atinge as crianças, mais particularmente as meninas, não é de se estranhar que tenhamos as mulheres constantemente assediadas, estupradas e assassinadas (feminicídio) em nossa sociedade. É o retrato do machismo reinante, sem limites, fazendo do sexo feminino simples objeto manipulável para o prazer e a violência dos homens.

Precisamos mudar isso, e é urgente.

A educação pode não conseguir mudar a sociedade humana, mas é a força que pode mudar os seres humanos, que então transformarão a humanidade (em tempo: essa frase é do educador Paulo Freire).

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