Escutatória pela vida

O Michel estava com 13 anos e era visto pelos professores como um aluno introvertido, de poucos amigos, pouco participativo nas atividades em grupo, mas com média inteligência e notas dentro da média esperada, nada excepcional nem frustrante. Muitas vezes passava despercebido pois não dava problemas, nada aprontava que merecesse maior atenção. Era mais um aluno no mar de alunos da escola.

Contudo, naquele dia pesava o ar na escola, estava difícil respirar. E todos perguntavam: Como podia ser? Como ninguém havia percebido a tragédia que estava por acontecer? É que o Michel havia cometido suicídio, tinha se tirado a vida. Todos estavam arrasados e não sabiam muito bem o que fazer.

Esqueceram que antes de ser aluno num mar de alunos, o Michem era um ser humano, uma pessoa com sentimentos, com uma história de vida. Nem seus sentimentos nem sua vida foram levados em conta pelos que fazem a escola, e assim não se deram conta dos sinais que vinha dando: isolamento, não participação, poucas palavras, mergulhado em si mesmo quase todo o tempo, poucas amizades. Sinais da depressão que foi se aprofundando, culminando com o autoextermínio.

Essa história é mais comum do que possamos imaginar. Depressão e suicídio na infância, adolescência e juventude já é considerado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) uma epidemia, um grave problema de saúde. Se antigamente o suicídio era ligado aos adultos, hoje é diferente, nossas crianças e jovens fazem parte dessa estatística.

Precisamos urgentemente da escutatória, do saber ouvir o que os jovens têm a nos dizer, para que possamos dar a eles o que necessitam na área emocional, na área do sentimento.

Pais e professores não estão preparados para lidar com essa questão. Não recebem em sua formação essa qualificação e ficam perdidos quando os sintomas aparecem em seus filhos e alunos. Meu filho com depressão? Meu aluno cometendo suicídio? Perguntam atônitos, sem entenderem o que aconteceu e como não se deram conta disso. E o que fazer para evitar que outras crianças e jovens se deixem levar pela depressão, correndo o risco do autoextermínio?

Passou por essa experiência o professor Léo Buscaglia. Depois de passar por uma espiral depressiva e se erguer com muita meditação e estudo de filosofias espiritualistas, por conta do suicídio para ele surpreendente de uma aluna, Léo entendeu que o caminho era trabalhar o desenvolvimento do sentimento do amor e, automaticamente da empatia e da resiliência com seus alunos. Seu trabalho rendeu tão bons frutos que se tornou palestrante e escritor para levar esse importante trabalho para o público.

Léo Buscaglia implantou na universidade o curso de extensão Amor e, durante anos, listas de espera por vaga se acumularam, tal a ansiedade dos jovens em estudar e compreender esse que é o maior dos sentimentos e tão importante para melhor viver.

Somos seres de relação, somos dependentes uns dos outros. Como viver apenas com o mundo digital do celular e dos games ou redes sociais? Somos necessitados do abraço, da palavra, do olho no olho, do diálogo, do sorrir e chorar. Essas coisas não podem ser feitas através da internet por meio de aplicativos. Precisamos estar com o outro, permitindo que o outro esteja conosco.

Família e escola são institutos humanos de convivência e de preparação para a vida de relação na sociedade. Estão, de fato, fazendo seu papel nessa educação?

Até quando vamos deixar passar por nós o Michel? Até quando vamos desdenhar e deixar no esquecimento o trabalho do Léo?

Deixo estas perguntas para você pensar diante do quadro assustador de depressão e suicídio na infância, adolescência e juventude.

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