O dia em que fazer funcionou

Teresa é daquelas professoras que não se acomodam ao sistema e não acatam subservientes o que a coordenação pedagógica estipula ou a direção escolar decreta. Está sempre procurando por soluções pedagógicas para os desafios diários da educação escolar. E porque é criativa, inovadora e dinâmica, vive às voltas com problemas com a burocracia do sistema educacional.

Quando a secretaria de educação não sabe mais o que fazer apela para a transferência, e lá vai a Teresa para outra escola, sempre para uma escola pior, com mais problemas, como a violência, empurrada para a periferia da cidade, como se a nossa professora pudesse ser apagada, esquecida, cancelada. Mas ela não se entrega.

E aconteceu que se deparou com altos índices de violência e desrespeito aos outros na escola de periferia para onde tinha sido transferida. Procurando soluções, encontrou na mediação de conflitos o melhor caminho. Propôs junto à direção a implantação da mediação de conflitos envolvendo professores e alunos, e conseguiu o aval para ir em frente com o projeto.

Teresa encontrou forte resistência por parte de alguns colegas de trabalho. Primeiro, porque muitos simplesmente não acreditavam que com aqueles alunos pudesse a mediação de conflitos funcionar. Segundo, porque outros não estavam dispostos a perder tempo em algo que lhes daria mais trabalho e com rendimento duvidoso. Terceiro, porque a coordenadora pedagógica não havia demonstrado muito entusiasmo com a ideia. Prevalecia o conceito de que com aqueles alunos não valia a pena esse esforço. Havia um descrédito geral quanto àquelas crianças e adolescentes.

Nossa professora destemida não desistiu e deu início ao trabalho. Reuniu os alunos classificados pelos professores como os piores, os mais violentos, e começou a mediação de conflitos com eles. Alguns zoaram a professora, outros desconfiaram da proposta, mas as resistências foram caindo e vários alunos, na verdade considerados apenas problemas, se engajaram, e os bons resultados, com mais alguns professores chegando junto, começaram a aparecer.

Com o índice de violência diminuindo, o projeto chamou a atenção dos pais, que também começaram a aderir pouco a pouco à proposta pedagógica de diálogo para resolver diferenças e encontrar soluções para uma melhor convivência entre todos. Com isso a coordenadora pedagógica se aproximou e, pouco a pouco, junto com a diretora, foi tomando conta do projeto de mediação de conflitos e cultura da paz, tirando a professora Teresa do centro das atenções, até se colocar como idealizadora e responsável do mesmo junto às outras instâncias da secretaria de educação.

Mais uma vez a professora Teresa foi escanteada, apagada.

Ouvimos a história por outra professora que a tudo presenciou, e perguntamos: E a professora Teresa, como ficou, onde está?

Sua amiga nos disse que ela continua na escola, mas sem muito brilho, sendo o tempo todo cobrada para obedecer as burocracias administrativas e pedagógicas, tendo sido apagada do projeto de mediação de conflitos e cultura da paz, que já está um tanto quanto descaracterizado e perdido, pois não teve sequência como se esperava tivesse.

Respirei fundo e solicitei que a colega educadora levasse meu abraço à professora Teresa e a parabenizasse não apenas pelo projeto, mas pela perseverança em afrontar o sistema, e que nunca perdesse a esperança, pois é dessas professoras que precisamos para fazer da educação uma prioridade na formação das crianças e jovens.

A professora Teresa é exemplo do que que podemos fazer para transformar e melhorar a escola, sempre acreditando nos alunos e na força da educação para resolver os problemas sociais que hoje enfrentamos.

Seria muito bom que outras professoras e outros professores seguissem o exemplo da Teresa.


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