Professor dos novos tempos

Convidado para promover com professores de uma escola, capacitação para aplicação do projeto pedagógico Escola do Sentimento, iniciei realizando uma roda de conversa onde primeiro disse que numa escola inovadora trabalhamos espaços de aprendizagem coletiva, dispondo os alunos em grupos de pesquisa e desenvolvimento do conhecimento, priorizando o trabalho por projetos, e onde o professor não dá aula, e sim orienta o aluno, fazendo-se um tutor do processo. Foi nesse ponto que muitos olhos arregalaram, e um professor fez uso da palavra, num misto de espanto e incredulidade: "Como assim? Eu não vou dar aula? Mas eu só sei trabalhar se tiver um quadro disponível e uma caneta na mão!". Imediatamente lembrei do antigo quadro negro, ou verde, e o giz que tanto caracterizou a escola, a ponto de tornar-se referência do ensino, mas que agora procuramos transformar. E não tardou para que surgisse outra objeção: "Isso não vai dar certo, é dar muita autonomia para os alunos, eles vão fazer o que bem entendem!". Como já me acostumei com essas reações negativas não fiquei impressionado, pois ali estava para apresentar um proposta pedagógica muito bem estruturada, pois em educação não se pode ser aventureiro.

Essas reações contrárias denotam dois aspectos principais dos professores, de uma forma geral: primeiro, uma espécie de horror, de aversão ao novo, numa luta para manter o status, a zona de conforto já estabelecida; segundo, ignorância pedagógica sobre procedimentos e metodologias que vão muito além do ensinar. Mesmo diante dessas contrariedades, perguntei: e por que não podemos fazer diferente?

Professor que não se sensibiliza diante de uma folha ao vento; que não se alegra com o sorriso de uma criança; que não se faz poeta inspirado para fazer da educação uma poesia além das palavras, não é um verdadeiro professor, não é um professor dos novos tempos.

E outra nossa informação é recebida de forma cética: a necessidade de amar a educação, amar os alunos, acreditando no amor como instrumento pedagógico de transformação. E disse uma professora: "Não precisamos de amor na escola, precisamos de segurança pública". E outra professora complementou: "Como eu vou amar esses adolescentes que só sabem agir com violência?". E ainda tivemos mais esta manifestação: "Eu até amo o que faço, mas com salário baixo e más condições de trabalho, fica difícil". Sim, reconheço que dificuldades existem, como a violência, o salário insuficiente, condições escolares precárias e outras, mas nada disso impede que o nosso amor seja mais forte e promova as mudanças necessárias. Insisto: temos que amar, e amar, e amar cada vez mais a educação.

Se a educação ainda não promoveu uma sociedade cooperativa, solidária, é porque não foi entendida como valoroso instrumento formador das consciências, dos valores humanos, transformada que foi em um mero processo de ensinagem e aprendizagem de conteúdos curriculares pré estabelecidos e não questionáveis. A educação verdadeira é a educação moral, é aquela que disponibiliza ao aluno o crescimento integral de seu potencial humano. Para isso um novo olhar sobre a educação e a escola; um novo olhar sobre o aluno e a aprendizagem; um novo olhar sobre o ser humano e a sociedade, precisam acontecer, e vão acontecer com uma nova visão, uma nova filosofia, uma nova metodologia, uma nova escola, um novo professor.

O amor como base, a espiritualização do homem como meta, é o que apresentamos. Trabalhamos uma escola que leve cada aluno a aprender e colocar em prática o fazer ao outro somente o que gostaria que o outro lhe fizesse, a regra de ouro da educação.

Então, professor, por que não se abrir para o convite de fazer uma escola inovadora, de acreditar em si mesmo e nos alunos, para então transformar para melhor o mundo em que você mesmo vive?


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