E a história se repete

Logo após o retorno de Jesus à dimensão espiritual, teve início, por parte dos seus discípulos diretos, seguidores e admiradores de sua mensagem, um movimento para espalhar a Boa Nova, a nova notícia que ficaria enfeixada no Evangelho. Inicialmente o movimento não foi organizado, mas espontâneo. Pequenas comunidades cristãs começaram a surgir através dos judeus convertidos, por todo o Império Romano, visto que os judeus por ele estavam espalhados, com muitas cidades possuindo sinagogas onde semanalmente se reuniam para a leitura e comentário dos textos sagrados do Judaísmo. Aproveitando essa estrutura, Paulo de Tarso percorreu a Ásia e parte da Europa, levando a mensagem evangélica aos corações ansiosos por algo novo e diferente, assim convertendo muitos, judeus e não judeus, ao Cristianismo nascente. Homens e mulheres de diversas nacionalidades, de variadas conceituações religiosas, uniram-se em torno da mensagem de Jesus Cristo, mensagem de amor, solidariedade e fraternidade. Logo foi percebido a necessidade de uma organização, mesmo que informal, e de uma liderança, pois a influência do Judaísmo e do Paganismo era forte, gerando problemas de interpretação dos ensinos de Jesus, assim como da prática dos mesmos.

Transforma-se, então, a figura de Paulo de Tarso, de divulgador da Boa Nova para verdadeiro líder, como aquele que havia entendido com profundidade o Evangelho, estando apto a esclarecer dúvidas e orientar os neófitos com segurança. Em suas visitas ás comunidades cristãs, Paulo reunia a todos para conversas fraternas, estudos dos ensinos de Jesus, procurando apaziguar os corações e as mentes, mostrando que o Cristianismo era uma religião diferente, que tinha seus próprios preceitos e, portanto, devia despregar-se do Judaísmo. Não foi nada fácil estabelecer esse entendimento, sendo perseguido, escorraçado, jurado de morte, até ser preso e encaminhado à Roma para julgamento, como se fosse um agitador comum. Podemos entender com facilidade esses acontecimentos, pois Paulo era judeu, ex doutor da lei, sendo considerado pelos sacerdotes judaicos um renegado. É nesse contexto, impedido de viajar, que, inspirado, inicia o trabalho de elaborar cartas para as comunidades, respondendo aos anseios, dúvidas e problemas que estas enfrentavam internamente e também externamente.

Diante de uma infinidade de posicionamentos culturais e religiosos, muitas vezes antagônicos, que pressionavam as comunidades cristãs, Paulo muitas vezes teve que ser firme, incisivo, pois ele sabia que o momento histórico era por demais importante: tratava-se de salvar a mensagem de Jesus para o futuro da humanidade, antes que formulações judaicas e pagãs deturpassem essa mensagem. Ele conseguiu, não sem embates e críticas à sua pessoa e seu entendimento do Evangelho, mas sua fé, sua força moral e sua coragem sustentaram o Cristianismo nascente, permitindo que o mesmo ganhasse terreno e fosse, com o tempo, reconhecido pelo próprio Império Romano.

Esse mesmo tempo logrou deturpar a mensagem de Jesus através da rigidez dos códigos católicos, e depois do protestantismo, sendo necessário que uma nova voz se levantasse, desta vez não de uma única pessoa, mas a voz dos Espíritos, em todo o mundo, surgindo assim o Espiritismo, com a missão de restaurar o Evangelho em espírito e verdade, à luz da imortalidade, da reencarnação e da evolução. Através do trabalho realizado por Allan Kardec, que reuniu essas vozes espirituais, dando-lhes um corpo de doutrina, o Espiritismo vem esclarecendo as mentes e consolando os corações, mas não sem lutas, sem receber as pedradas da incompreensão geradas pelo materialismo e pelo fanatismo, assim como de interpretações pessoais, muitas vezes esdrúxulas, feitas por encarnados e desencarnados, estes com a anuência de médiuns invigilantes e pouco afeitos ao estudo da doutrina que dizem representar. A vaidade, o orgulho e o egoísmo ainda imperam em muitos medianeiros, mundo afora, tanto quanto em muitos adeptos, mas que não podem ser classificados como verdadeiros espíritas.

Em nome da tolerância religiosa, do ecumenismo religioso, há os que defendem que todas as práticas espiritualistas e mediúnicas configurem formas teóricas e práticas de Espiritismo, quando isso não é verdadeiro. A Teosofia, a Umbanda, o Esoterismo, a Maçonaria, entre outras, configuram doutrinas espiritualistas diferenciadas, com origem histórica diversa e princípios e rituais igualmente diferentes. O Espiritismo é único, com sua história, sua doutrina e suas práticas, conforme estudamos nas obras assinadas por Allan Kardec.

Respeitamos todas as religiões, todos os cultos, todas as crenças, mas não é por exercermos a fraternidade e a solidariedade, que confundiremos as coisas. Assim como Paulo de Tarso exerceu vigilância sobre o movimento cristão nascente, os estudiosos do Espiritismo, assim como os dirigentes do movimento espírita, precisam ficar atentos, para não permitir que se desconfigure o Espiritismo, em sua missão de reviver o Evangelho e transformar moralmente a humanidade.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Escolas diferentes pelo mundo

Uma nova dinâmica para a evangelização

Carta pela paz no mundo