Influência dos pais sobre os filhos
Iniciamos este texto com a transcrição, para nossa reflexão, da questão 208 de O Livro dos Espíritos:
O Espírito dos pais não exerce influência sobre o do filho, após o nascimento?
– Exerce, e muito, pois como já dissemos, os Espíritos devem concorrer para o progresso recíproco. Pois bem: o Espírito dos pais tem a missão de desenvolver o dos filhos pela educação: isso é para ele uma tarefa? Se nela falhar, será culpado.
Agora o espírito já está reencarnado. É nosso filho. Iniciou sua nova caminhada existencial e vai passar, durante alguns anos, pela fase da infância, onde é muito dependente dos adultos, e onde seu pensamento não pode ser exercido como o de um adulto, pois está dependente do desenvolvimento do próprio corpo. Informam os benfeitores espirituais da humanidade que os pais tem a missão de desenvolver os filhos pela educação, e que isso se dá principalmente pela influência que exercem, influência essa que se dá através dos exemplos.
Vejamos esta cena doméstica reveladora: Os pais reformavam o quarto da filha, tendo-a provisoriamente transferido para o quarto do casal, e estavam na etapa final, ou seja, a pintura. O pai estava pintando a parte superior da parede, apoiando-se no topo da escada, e a mãe pintava o rodapé, quando a menina, de seis anos, entrou pelo quarto, muito aborrecida, semblante fechado, bracinhos cruzados sobre o peito. Olhou para o aspecto de obra do quarto e, batendo com o pezinho direito no chão, indagou: “Mas, que diabos, quando isso vai ficar pronto?”. E imediatamente se retirou muito zangada. O pai parou de pintar e, aborrecido, fechou o semblante, cruzou os braços e, irritado, batendo o pé direito no degrau da escada, perguntou à mãe: “Mas, que diabos, onde nossa filha aprendeu a falar desse jeito?”
Naquele momento, sem perceber, ele se dera a resposta. Aprendera com ele. Sua querida filha apenas o imitava, tantas vezes já houvera assistido o pai agir e reagir dessa maneira. Como diz com muita propriedade Paulo de Tarso, as palavras podem até convencer, mas é o exemplo que arrasta.
Aos pais que acreditam estar educando seus filhos com a matrícula na creche e depois na escola infantil, acompanhando os deveres escolares na sequência do ensino fundamental, um alerta: à escola cabe o papel de coadjuvante na educação do ser imortal, e não o papel de essência, que compete aos pais, pois a escola pode (e deve) facilitar o desenvolvimento cognitivo e emocional, mas o desenvolvimento do senso moral, a consolidação de virtudes e o combate às más tendências que porventura o espírito traga, é de competência dos pais no ambiente da família. É ideal que família e escola unam esforços, mas não se pode querer que uma substitua a outra.
Neste ponto Allan Kardec faz uma indagação importante, e que constituti a questão 209:
“Por que pais bons e virtuosos têm filhos perversos? Ou seja: por que as boas qualidades dos pais não atraem sempre, por simpatia, bons Espíritos como filhos?
– Um mau Espírito pode pedir bons pais, na esperança de que os seus conselhos o dirijam por uma senda melhor, e muitas vezes Deus o atende”.
Qual pai ou mãe não desejaria ter apenas bons filhos, verdadeiros anjos, crianças obedientes, educadas e que não dessem trabalho? E por que isso não acontece, mesmo rogando a Deus essa dádiva? A explicação é clara: a reencarnação obedece planejamento superior criterioso, levando em conta as necessidades de cada espírito. Nesse planejamento, que é todo um processo gerido por Espíritos Superiores obedecendo a lei divina, muitos de nós tomamos parte ativa, desde que tenhamos condições para isso, e, quantas vezes, concordamos em receber como filho um espírito que não está ligado a nós pelos laços de simpatia, mas que solicita pais que possam domar suas más inclinações, possam exercer sobre ele uma boa influência. Esse pedido é ouvido por Deus que, na sua misericórdia, nos consulta sobre essa possibilidade, então aceitamos de bom grado, pois nos consideramos preparados para dar amor, para exercermos a compreensão e a paciência, sabedores que muito ganharemos com isso se conseguirmos com nossos esforços educá-lo, apesar dos possíveis aborrecimentos e sofrimentos.
Onde prevalecem laços de ódio, de mágoa, de ressentimento, de vingança, de inveja, não é possível estabelecer uniões simpáticas. Isso é decorrência dos esforços que fazemos na existência em nos compreender, nos colocar no lugar do outro, em pedir perdão, em não se sentir ofendido, em tentar sempre fazer o bem, enfim, em aproveitarmos esta existência para a sublime tarefa de autoaperfeiçoamento moral, pois somente quem procura se espiritualizar fica com os canais psíquicos abertos para sentir o amor universal, interiorizar esse amor e distribuí-lo sem olhar a quem. Que isso comece no lar, entre pais e filhos.
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