Violência na escola
Quando vemos um aluno, ainda criança, ameaçar seus colegas, atacar os professores e desprezar as pessoas de uma forma geral, desrespeitando as regras da salutar convivência, detectamos um grave problema de falta de socialização e de comportamento moral em desequilíbrio. Embora as explosões de fúria e de violência se destaquem na escola, a verdade é que essa criança mantém essa conduta em todos os ambientes: no lar, no ambiente familiar, e também no convívio social de uma forma geral. Como podemos perceber, a causa não está na escola, embora esta, em falhando nos procedimentos educacionais, possa alimentar essa “raiva de tudo e de todos”, ou pelo menos fingir que não vê o problema, não atuando como deveria para a solução do mesmo. A escola tem sua parcela de culpa, mas precisamos voltar nosso olhar para a família, para a missão educativa dos pais, se queremos encontrar as causas e combatê-las com eficiência.
Mas antes de estudarmos a família, é necessário compreendermos quem somos e o que estamos fazendo aqui, pois da concepção que fazemos do ser humano e, portanto, de nós mesmos, depende a educação. Atualmente estamos vendo o predomínio de uma concepção utilitarista do ser humano, de base materialista, levando a educação a ser entendida como um processo de aquisição de saberes e formação técnica. Embora existam preocupações outras, como as da inteligência espiritual e moral, os teóricos insistem em tudo circunscrever ao biológico, chegando mesmo a confundir a alma com as funções neuronais do cérebro. É fácil percebermos as consequências disso, com a educação voltada quase exclusivamente a ensinar conteúdos curriculares, transmitindo conhecimentos, valorizando o desenvolvimento intelectual, a aquisição de habilidades, deixando em segundo plano o desenvolvimento emocional, a sensibilização dos sentimentos, a compreensão da vida e dos valores humanos.
Está faltando um olhar transcendente, espiritualista, sobre o ser humano e a vida, olhar esse que irá transformar a educação e a formação das novas gerações. Esse olhar transcendental está todo na Doutrina Espírita, mas não é um olhar místico, cheio de mistérios e parábolas, pelo contrário, é um olhar racional, tendo por base os fatos devidamente estudados e explicados, inclusive em relação às suas consequências morais. O ser humano é entendido como uma alma imortal reencarnada, possuindo em desenvolvimento os potenciais divinos da inteligência e do sentimento, trazendo consigo as aquisições e experiências de encarnações anteriores, podendo, pois, ter boas ou más tendências de caráter, estar mais ou menos desenvolvido. Com esse olhar, entende-se que o papel da educação é corrigir as más tendências, criar bons hábitos, fazer o desenvolvimento integral dessa alma, e que essa competência não é exclusiva da escola, pois pertence igualmente à família.
O que os pais, os primeiros educadores da alma que reencarna como filho, estão fazendo? Quais são suas preocupações com a criança que está à sua frente? Que importa se lhe dão os cuidados com a saúde, as melhores roupas e as melhores escolas, se descuidam da formação do seu caráter? Se não lhe dão bons exemplos morais? Se não trabalham para ligá-los a valores humanos como a ética, a solidariedade e a fraternidade? Quando os pais falham na educação dos seus filhos, deixando-os egoístas, orgulhosos e materialistas, as consequências são o que estamos assistindo na sociedade: violência, corrupção, indolência, vícios de toda ordem, paixões avassaladoras, transtornos mentais, num leque variado, fazendo com que muitos pensadores considerem que falta apenas o ser humano aniquilar a si mesmo, extinguindo a vida planetária. Não acreditamos que isso vá acontecer, mas estamos sujeitos, se a educação não for transformada, a passar por muitas tragédias que poderiam ser evitadas.
Quando a criança adentra à escola mostrando não ter limites, desrespeitando colegas e educadores, revoltando-se com as regras de convivência, achando que pode fazer o que quer, do jeito que quiser e quando quiser, transformando o ambiente num caos através da violência, ela está vindo da família, portanto, ela é a demonstração viva da falência, ou ausência, da educação que os pais deveriam ter-lhe dado. Se a escola deve trabalhar pela socialização da criança, não lhe compete fazer isso sozinha, necessitando do concurso da família, pois os pais são educadores muito importantes. A verdade, que muitos teimam em ocultar, é que pais e professores, família e escola, têm que se dar as mãos no processo educacional das novas gerações.
A raiz de todos os males está no egoísmo, e é ele que devemos atacar e destruir, e isso somente se dará através da educação, mas da educação que espiritualiza, que humaniza, que tem por base a ética e a solidariedade, a empatia e a resiliência, o bom exemplo e a formação moral antes que a intelectual. Essa educação é promovida pela Doutrina Espírita, olhando a vida imortal que possuímos. Quando ela for aplicada, a violência e o mal não terão mais espaço, pois aprenderemos a nos amar e a fazer aos outros, sempre, somente o que gostaríamos que eles nos fizessem.
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