Já existiu, mas foi esquecido
Neste texto faço uma justa homenagem a uma educadora brasileira muito importante, que na década de 1960 esteve à frente de uma proposta pedagógico-escolar que, se tivesse tido continuidade, teria mudado a história da educação brasileira e, também, da nossa nação, mas infelizmente o projeto foi reduzido a pó por mentalidades retrógradas que então estavam à frente do governo.
Provavelmente você nunca terá ouvido falar de Maria Nilde Mascellani (1931-1999) e dos Ginásios Vocacionais da rede pública de ensino do estado de São Paulo, que funcionaram, num total de seis, entre os anos de 1961 e 1969, tendo a professora Maria Nilde à frente de sua coordenação.
A ideia e primeira experiência prática surge na cidade de Socorro/SP, com o nome de Classes Experimentais, já com a Maria Nilde à frente, tendo o governo do estado, através da secretaria de educação, tornado essa experiência escolar oficial, por força de lei, com o nome de Ginásio Vocacional, implementando-o no Brooklin (capital), e nas cidades de Americana, Batatais, Rio Claro, Barretos e São Caetano do Sul.
Maria Nilde e suas colaboradoras desenvolveram um projeto pedagógico e uma metodologia educacional ons faziam os jovens alunos:
1 – Aprenderem a pensar por si mesmos.
2 – Aprenderem a buscar a verdade dos fatos em diferentes fontes e a tirar suas próprias conclusões.
3 – Aprenderem a fazer conexões entre as diversas áreas do conhecimento.
4 – Aprenderem a interpretar e considerar diferentes contextos.
5 – Aprenderem a compreender fenômenos pela experimentação.
Os Ginásios Vocacionais educavam os jovens para serem agentes transformadores – homens e mulheres livres, donos de seus destinos.
O sucesso dos Ginásios Vocacionais passou a incomodar o governo a partir da tomada do poder pelos militares em 1964, pois eles não queriam uma nova geração que soubesse pensar, que utilizasse da criticidade e clamasse pela liberdade. Assim, pouco a pouco, o projeto foi solapado, até sua total extinção no ano de 1969, após a edição do famigerado e condenável Ato Institucional número 5, de tão triste memória.
A ditadura militar, com receio de sua repercussão, dos propósitos da escola e de sua expansão, em 1969, violentamente extinguiu os Ginásios Vocacionais. Em 12 de dezembro acontece, simultaneamente uma violenta intervenção militar em todas as unidades do Vocacional, com queima de arquivos, materiais, e fichamento de professores e coordenadores, inclusive de Maria Nilde Mascellani que foi, mais tarde, presa e torturada.
Apesar desses acontecimentos, Maria Nilde Mascellani continuou trabalhando como professora, até sua aposentadoria, mas nunca mais foi designada para estar à frente de qualquer iniciativa pedagógica.
Essa é a história.
Quantos educadores, quantos bons projetos pedagógicos já sufocamos neste nosso país? Inúmeros. Tudo poderia estar diferente, para bem melhor, mas a falta de visão dos dirigentes, e a falta de vontade política, tornaram o progresso social cheio de percalços.
Que a Maria Nilde Mascellani receba nossa gratidão e nosso reconhecimento, e que o exemplo dos Ginásios Vocacionais possa inspirar os educadores brasileiros de hoje e de amanhã.
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