O serviço espírita de evangelização da criança

O Centro Espírita é uma escola de almas. Alma, na definição encontrada em O Livro dos Espíritos, é o Espírito encarnado. Não há referência quanto à idade física. Do berço ao túmulo, todos somos espíritos reencarnados. A lógica, pois, nos diz que o Centro Espírita deve estar preparado para atender o ser humano em todas as suas etapas de desenvolvimento do corpo físico - da infância à madureza. Há, entretanto, ainda em O Livro dos Espíritos, evidente preocupação de Allan Kardec e dos Espíritos Superiores em sublinhar a importância do período infantil no estágio reencarnatório, e a função da educação para renovação moral da humanidade, que enfeixa encarnados e desencarnados. No capítulo sete da segunda parte da obra básica, quando trata do retorno do Espírito à vida corporal, diversas questões são tratadas a respeito da infância, das tendências inatas, da influência do organismo físico, da origem das faculdades morais e intelectuais, da lei de afinidade e outros temas ligados ao período infantil, mostrando suficientemente o quanto é importante o trabalho educacional junto à criança, que é um Espírito reencarnado. Compreendendo esse trabalho, os Centros Espíritas criaram as Escolas Espíritas de Evangelização Infantojuvenil, com estrutura pedagógica específica. Mas, o que é a evangelização? Por que esse trabalho nem sempre é prioridade?

A história do movimento espírita é uma história de mediunidade e ação social através da caridade material - o chamado serviço assistencial. A estrutura física de construção dos Centros Espíritas, em sua grande maioria, não reserva espaço para atividades educacionais, que tem de ser adaptadas. Esse é um primeiro problema. Também, boa parte dos evangelizadores são pessoas de boa vontade, mas sem formação específica. Esse é um segundo problema. Também os Dirigentes Espíritas não estão efetivamente conscientes de que o Espiritismo é doutrina de educação do ser, e, portanto, não preparam o Centro Espírita para cumprir sua finalidade de escola de almas. É o terceiro problema. O Centro Espírita deve realizar treinamentos, cursos, grupos de estudo que visem formar o colaborador espírita para a função que ele irá realizar, pois não se pode mais ficar à mercê do voluntariado cego, sem preparo, desconhecedor do mínimo indispensável para boa execução do serviço. E quando se trata da educação moral e espiritual de companheiros reencarnados não se pode “brincar de tentar fazer alguma coisa”.

A educação, conforme entende o Espiritismo, é a arte de manejar caracteres, é a formação de hábitos, tendo por base a imortalidade da alma e os ensinos morais de Jesus, e essa educação deve fazer a reforma moral do homem, sua autoeducação, trazendo para o mundo um homem novo, consciente dos seus direitos e deveres. Se é importante a modificação da estrutura física do Centro Espírita para atendimento às crianças, ainda de maior importância é a adequação de suas finalidades para tão grandiosa tarefa, onde o estudo da Educação do Espírito deve ocupar espaço de prioridade junto às demais atividades que sejam executadas, sob pena, se assim não for feito, de o Centro Espírita desviar-se de uma finalidade que é o próprio cerne da Doutrina, pois o Espiritismo é doutrina de educação como bem acentuam os Espíritos ao dizerem a Kardec que “somente a educação pode renovar a humanidade” (O Livro dos Espíritos, questão 796).

A evangelização espírita infantil não pode ficar em segundo plano, como apenas uma “aulinha dominical de moral cristã”, consideração essa irresponsável e de repercussão negativa, tanto na sociedade humana terrena como na espiritualidade, onde as colônias espirituais, conforme narram os companheiros desencarnados, mantém de creches a universidades, além de institutos escolares especiais para crianças recém-desencarnadas, abortadas, desajustadas no psiquismo e outras. Onde os ensinos cristãos à luz da reencarnação são trabalhados com amor. Os serviços de educação junto à criança são a única maneira de o Centro Espírita realizar a maior das finalidades do Espiritismo: transformar a todos nós em homens de bem. Por esse motivo devem merecer da direção do Centro Espírita uma acolhida e estudo mais profundo.

Lembramos que a educação não se dá apenas à criança, mas também ao adolescente, ao jovem, ao adulto, o que nos leva a compreender que as atividades de estudo realizadas pelo Centro Espírita devem se caracterizar por dinamismo, facultando ao frequentador todas as possibilidades de conhecer o Espiritismo. Esses estudos não podem dispensar a discussão dos temas cotidianos da vida à luz dos princípios básicos da Doutrina, pois estudar a realidade que se vive é preparar-se para bem vivê-la, sabendo porque se compreende. A criança é um Espírito reencarnado, e como tal deve ser considerada. As lições do Evangelho embasadas na imortalidade, na reencarnação e na evolução do Espírito, devem ser ministradas às crianças porque no estágio da infância o Espírito é mais acessível à nossa influência, quando podemos trabalhar seu caráter, dando-lhe diretriz no bem.

Com essas considerações queremos dizer que a evangelização da criança e do jovem através dos ensinos espíritas, é a educação que entrega a esses Espíritos reencarnados as lições sublimes de Jesus à luz da alma imortal; é o amor em conjunto com a reencarnação esclarecendo a mente e iluminando o coração. Por esses motivos deve o Centro Espírita considerar a tarefa de evangelização como prioridade, fonte de renovação humana para uma sociedade melhor.

Evangelizar é mais que ensinar o Evangelho. É traduzir a Boa Nova para o viver humano nas relações sociais. É trabalhar a psicologia do indivíduo na luz do amor. É sensibilizar os sentimentos para a ação no bem. A evangelização faz parte do processo de educação, na busca da formação integral do Espírito, desenvolvendo-lhe com harmonia todas as potencialidades depositadas por Deus, como bem definiu Pestalozzi, e essa visão necessita ser abraçada pelos dirigentes espíritas, fazendo do Centro Espírita uma verdadeira escola de almas.

(Texto publicado no livro Centro Espírita – Escola de Almas, de Marcus De Mario).


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