O aborto na visão espírita

O Espiritismo, ou Doutrina Espírita, considera que a vida pertence a Deus, pois ele é o Pai e o Criador de tudo o que existe, sendo o princípio do Universo. Também considera que somos seres espirituais criados por Deus, tendo por destino alcançar a perfeição moral e intelectual, o que se dá através da pluralidade das existências, ou seja, a reencarnação neste e nos mais diferentes mundos, daí também tendo por princípio a pluralidade dos mundos habitados. Diante disso, o Espiritismo se posiciona claramente contrário ao aborto, pois a vida não nos pertence, e toda alma ou espírito, tem o direito de nascer, ou melhor dizendo, renascer. Agora, pelo fato de se posicionar contrário ao aborto, isso não significa que o Espiritismo se posicione a favor da criminalização do mesmo, lançando a mulher, através de uma sentença judicial, na prisão, por muitos anos, de forma quase irremediável, como se isso fosse solução para esse atentado contra a vida, cujas causas e circunstâncias são as mais diversas, envolvendo outros personagens, como aqueles que incentivam e acobertam tal prática; aqueles que realizam o abortamento e se enriquecem financeiramente; aqueles que vilipendiam a vida da mulher através do estupro; aqueles que utilizam a mulher como objeto de prazer sexual e depois a abandonam. Por que a esses a justiça não alcança ou prevê penas mínimas?

É muito fácil, tranquilo, para uma sociedade machista, misógena, preconceituosa, lançar a fatura do aborto, com todo o seu peso, exclusivamente na mulher, quando deveria respeitá-la e ampará-la, e assim minimizar essa questão, pois, não devemos esquecer, os direitos são iguais, e Deus não possui preferências entre seus filhos. A sociedade quer condenar a mulher, ao mesmo tempo em que finge não ver que muitos homens vivem apenas e tão somente pelo prazer da sexualidade livre, sem observar suas consequências, pois procuram apenas a própria satisfação, mesmo que isso leve à gravidez não pensada, não planejada, sendo fácil para o homem largar a mulher e não assumir sua responsabilidade, quando existem os métodos anticoncepcionais não abortivos, de prevenção, e, mais do que isso, quando deveríamos nos aplicar na educação, desde a infância, para que jovens e adultos soubessem bem se conduzir na vida, com autocontrole e respeito a si mesmos e ao semelhante, à outra pessoa, um ser humano tanto quanto ele mesmo.

Ainda vivemos resquícios muito fortes de um passado onde, no comportamento sexual, tudo era permitido ao homem, tudo era-lhe desculpável, mesmo considerado como fazendo parte de sua natureza. A mulher era considerada o sexo frágil, até mesmo como uma alma inferior, e, portanto, sem os mesmos direitos, tendo que se submeter aos ditames machistas, muitas vezes animais e sem nenhum apoio na verdadeira justiça. É assim que entendemos não ser justo condenar a mulher e absolver o homem, ou minimizar sua pena, como no caso da ocorrência do estupro. E por falar nessa hediondez do comportamento humano, o Espiritismo, mesmo nesse caso, é contrário ao aborto, pois a única exceção admitida pela doutrina é quando a mãe, na gestação, corre risco de vida, pois é preferível que o ser já existente sobreviva, pois o espírito que não pode reencarnar terá nova oportunidade depois.

Entendamos que a mulher, no uso do seu livre arbítrio, da sua liberdade de pensar e fazer escolhas, poderá, por este ou aquele motivo, desejar o aborto, e até mesmo realizá-lo, mas estará, nesse caso, infringindo a lei divina, decidindo não permitir que outro ser distinto dela reencarne, e terá que assumir, mais cedo ou mais tarde, diante da realidade espiritual da vida, as consequências dessa decisão. Muitas mulheres defendem o direito que possuem sobre o próprio corpo, mas esquecem que trata-se de decidir sobre a vida de outra pessoa, de outro ser que não ela. E por que não se preveniram? Por que mantém uma vida sexual promíscua, fazendo do sexo uma banalidade?

Se temos que ter uma legislação a respeito, que ela seja equilibrada, educativa, e não meramente punitiva. Lancemos esforços pela educação moral, a educação do espírito, aquela que corrige as más tendências e combate os vícios e paixões com o desenvolvimento das virtudes, dos valores humanos, da ética, do respeito aos direitos iguais, da empatia, para que aprendamos a nos colocar no lugar do outro.

Preservemos a vida, lutemos sempre pela vida!

A gravidez de hoje pode representar a felicidade de amanhã, como temos visto em tantos casos em que a mulher optou por seguir em frente com a gestação, tendo no filho que se aconchegou aos seus braços o arrimo de sua própria existência, no amor incondicional que deve unir as almas e superar as ocorrências de vidas anteriores, assim como o presente de escolhas não tão bem feitas, ou de acontecimentos que fugiram ao controle.

A criminalização pura e simples do aborto, responsabilizando unicamente a mulher, não é solução, que está na educação do comportamento sexual e na visão transcendente da vida, como nos apresenta o Espiritismo.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Escolas diferentes pelo mundo

Uma nova dinâmica para a evangelização

Carta pela paz no mundo