O sofrimento e a resignação

Neste mundo não há quem não sofra. Pobres e ricos, famosos e pessoas comuns, todos sofremos, todos passamos por dificuldades, todos temos problemas a resolver. A dor e o sofrimento fazem parte deste mundo de expiações e provas, mas isso não quer dizer que devamos maldizer nem a dor, nem o sofrimento, pois muitas vezes elas nos fazem sair da zona de conforto, do comodismo que muitas vezes nos caracteriza, fazendo com que tenhamos de procurar soluções, acionando a vontade, o querer, assim como a fé. Sim, a fé, pois expiações e provas são manifestações de Deus em nossa vida, a nosso benefício, sempre de acordo com a lei soberana que determina que cada um receba de acordo com suas obras, com o que semeia na vida. Quando temos confiança nos desígnios divinos, não temos o que reclamar, pois sabemos que a justiça e a bondade de Deus estão em ação, assim nos levando à resignação, que nos faz aceitar sem queixumes a provação, ao mesmo tempo em que nos impulsiona sempre para frente, pois resignar-se não é ficar esperando uma dádiva que talvez não mereçamos, mas colocar-se em atividade, mesmo tendo que superar enormes dificuldades, pois a ordem é sempre progredir, sempre melhorar-se, sem esquecer que ao nosso lado outros estejam necessitando de nosso auxílio, do exemplo de nossa vontade e fé.

É a doutrina do Espiritismo que nos fortalece, que nos dá força e coragem diante das tribulações da existência, que nos impulsiona para utilizar o livre arbítrio na construção do bem, prosseguindo para a frente e para o alto, na nossa condição de almas imortais destinadas à felicidade celestial, incomparável diante das misérias terrenas, misérias essas que são passageiras, e que nos compete aliviar através de uma justiça mais igualitária e da promoção incessante da caridade, da fraternidade e da solidariedade.

Reconhecemos o quanto é pungente a dor da mãe que assiste a partida de um filho pelas portas da morte; o quanto é dilacerante para um filho perder sua mãe querida, luz da sua vida, para a sombra do túmulo. É doloroso, diante de um fenômeno invencível da natureza, tudo perder, ficando somente com a roupa do corpo; chega a ser devastador para o ser a tragédia da violência que ceifa a vida de entes queridos e amigos. Contudo, a doutrina espírita nos revela que a vida continua, que a morte não é o fim de tudo, que os laços afetivos não se rompem diante da tragédia que leva muitos de retorno à vida espiritual. Todos os que partiram continuam vivos, e com eles podemos nos comunicar através do pensamento, da mediunidade e da emancipação da alma durante o sono. E, com certeza, quando chegada for a nossa hora de passarmos pela porta da morte, reencontraremos todos aqueles que estão vivos em nossa memória e nosso coração.

Então tudo nos será revelado e compreenderemos que a dor e o sofrimento não foram frutos do acaso, e que, graças à nossa resignação, fé e força de vontade, dando prosseguimento à jornada terrena, é que tivemos o mérito desses reencontros felizes que acalentam a alma depois da tormenta.

Bendigamos a Deus pela dor que hoje nos visita, pela dificuldade que nos provoca, pois é a ação pedagógica da lei de progresso, como instrumentos que nos servem para superarmos o que de mal fizemos em existências passadas, convidando-nos para novo rumo, para o porto seguro do bem, aqui e agora, visando um futuro melhor, mais feliz, pois a vida continua e seremos convidados ao retorno terreno através da reencarnação, mas não mais para sofrer, não mais para uma existência de provas e expiações, mas para darmos continuidade ao nosso progresso moral, igualmente auxiliando a coletividade a superar as questões materiais, elegendo as questões espirituais como prioridade do viver humano.

Assim compreendemos a necessidade da resignação, da resignação ativa, aquela que não baixa a cabeça e se deixa abater, mas aquela que, utilizando a compreensão maior sobre a vida, reconhece a justeza das circunstâncias existenciais, utilizando seu potencial divino para superar, sem queixas desnecessárias, as barreiras materiais, sejam elas físicas e/ou emocionais, pois tudo na vida tem a sua razão de ser, nada é inútil, e de tudo podemos tirar lições proveitosas, aprendizados que nos fortalecerão para os embates que ainda, porventura, tivermos que enfrentar.

É nessa caminhada, sem esmorecimento, que substituiremos progressivamente a dor pelo amor, o sofrimento pela felicidade, o egoísmo pela caridade, o orgulho pela humildade, alicerçando para o depois da morte e para as futuras encarnações, as alegrias celestes, divinais, que nos projetarão para alturas inimagináveis nas altas esferas espirituais que aguardam a chegada daqueles que venceram a si mesmos e podem receber o galardão da superioridade espiritual que conquistaram com o próprio esforço.


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